O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu hoje que há divergências entre os países emergentes na briga contra os subsídios agrícolas concedidos pelos Estados Unidos e países da União Européia. Ao participar da 2ª Cúpula Brasil, Índia e África do Sul, Lula deixou transparecer desapontamento com o governo do primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, presente no encontro, que deixou vazar nesta semana o conteúdo de um estudo propondo tarifas de importação de produtos de países desenvolvidos mais baixas que as defendidas pelo Brasil. “Se é documento oficial, a Índia e o Brasil têm maturidade para resolver as divergências numa mesa de negociação”, disse o presidente brasileiro.
Ao lado de Singh e do presidente sul-africano, Thabo Mbeki, Lula ressaltou que o documento não foi divulgado pelos indianos. “É um documento vazado, que não foi divulgado (oficialmente)”, salientou. “Não posso ter o documento como oficial”, completou. Como fez nas visitas a Burkina Faso e República do Congo, primeiros pontos deste seu sétimo giro pela África, Lula fez duras críticas aos Estados Unidos e à União Européia, que, segundo ele, não aceitam dialogar com os países pobres sobre a questão dos subsídios. “De pouco vale sermos convidados para a sobremesa no banquete dos poderosos”, reclamou.
Na noite de ontem, Lula conversou por telefone por cerca de 30 minutos com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. A uma pergunta da imprensa brasileira se a conversa reservada com Bush fora no mesmo tom duro dos discursos em público, Lula respondeu: “Não estamos fazendo negociação num clube de amigos”, afirmou. “O que eu disse ao Bush é que eles (os Estados Unidos) não podem aumentar os subsídios de US$ 13 milhões para US$ 16 milhões (aos agricultores norte-americanos)”, disse.
Lula sinalizou, durante a viagem, que está disposto a ceder na questão, mas, hoje, reclamou que Europa e Estados Unidos querem vantagens. “Do jeito que está proposto, eles querem que a gente ceda mais, reduzindo as tarifas dos produtos industrializados deles, e não aceitam ceder muito na redução dos subsídios agrícolas”, avaliou. “Brasil, África e Índia estão decididos a fazer um bom acordo na Rodada Doha”.