A Aston’s Auctioneers, uma empresa de leilões de Dudley, na Inglaterra, ofereceu a seus clientes no mês passado 25 lotes de câmeras espiãs usadas por agentes da antiga União Soviética durante a Guerra Fria.
Muitas obedecem aos clichês dos filmes de espionagem da época, como uma disfarçada em um guarda-chuva e outra escondida em uma bolsa feminina.
Mas a preferida de Tom Goldsmith, consultor da Aston para artigos fotográficos, é uma câmera disfarçada de… câmera. Das câmeras espiãs adquiridas pelos leiloeiros, todas pertencentes a uma única coleção russa, a única que deu trabalho foi esta, que aparentemente era uma Zenit E, câmera comum da época. “Tínhamos entre 40 e 50 grandes caixas, mas [este lote] foi o único que não conseguíamos fazer funcionar de jeito nenhum”, disse Goldsmith à Bloomberg.
O único jeito foi enviá-la à KMZ, empresa baseada em Moscou, na Rússia, que fabricou as câmeras coloquialmente conhecidas como “Zenit” por seu nome em cirílico, “ЗЕНИТ”. Lá, descobriu-se que a Zenit E servia apenas como “casca” para esconder outro produto da empresa, a KMZ F-21 Ajax-12, uma câmera espiã de 7,5x5x2,5 centímetros.
Esconder uma câmera espiã dentro de outra câmera pode parecer uma ideia idiota, mas o mecanismo é bem engenhoso. Primeiro porque a Zenit E era uma câmera clássica de turistas, nada que chamaria muita atenção. Segundo porque ela funcionava sem que fosse necessário tirar a capa. Bastava acionar um botão discreto na parte de baixo para dispará-la. “Se você está em um lugar onde fotos não são permitidas, um segurança diria ‘Ah, ele não conseguiria tirar uma foto, a câmera dele está com a capa fechada, pendurada no pescoço”, disse Goldsmith.
O terceiro motivo é a posição. A lente da Ajax-12 surgia na lateral da Zenit E (detalhe à direita na foto que abre o post), fazendo com que ela fizesse imagens 90º à direita da posição original da “casca” Zenit E. Nada idiota, né?