Nesta edição, (re)republico o texto veiculado originalmente com incorreção no título, por culpa do próprio autor que enviou o arquivo sem correção, ao invés do texto final. De qualquer forma, esta republicação, com o devido ajuste, tem por finalidade de oportunizar o acesso ao texto por novos leitores.
Também objetiva prestar homenagem ao importante dia do calendário de datas comemorativas. Aliás, se fosse politicamente correto, deveria dizer “mulhernagem” e chamar de “calendária”, para fica tudo no feminino. Observem, no entanto, que, por se tratar de uma republicação, algumas datas específicas e ideias não específicas podem ter mudado.
Além do carnaval e da quarta-feira de cinzas, no calendário de datas comemorativas do ano consta outra data importante: O Dia Internacional da Mulher. A próxima data significativa no calendário para os cristãos, no mês de abril, será a Sexta-feira Santa, Paixão de Cristo, feriado nacional. Se bem que, para a maioria dos brasileiros, cristãos ou não, a sexta-feira é quase sempre santa. No entanto, hoje, quero falar apenas sobre a primeira santa.
Falemos, então, da mulher, que tem um dia em especial reservado no anuário, já que todos os demais são nossos, dos homens. Tolice. Na verdade, todos os dias pertencem às mulheres. Pense bem, nenhum homem que tenha esposa ou namorada arrisca marcar qualquer compromisso sem antes consultar a companheira. Pelo menos um homem, em sã consciência, não agenda atividade alguma sem o aval da “chefia”, inclusive confirmando o horário ideal, para ela, claro.
Tudo isso começou, segundo consta, há milhares de anos, lá no paraíso, aquele que não existe mais. E foi exatamente no momento em que Deus, o onisciente, ou seja, sabia o que estava fazendo, colocou a mulher naquele lugar que o mundo começou a evoluir. Sim, o mundo jamais teria evoluído ao ponto que chegou hoje se a mulher não tivesse existido, ou pelo menos, não tivesse sido criada com sua inquietude.
A inquietude feminina, confundida muitas vezes com insatisfação, fez o mundo girar mais rápido desde os primórdios. Já no paraíso, ela não se contentou em comer todas as frutas existentes, tinha que comer a única que não podia. Obviamente a serpente, no intuito de persuadi-la, deve ter dito que justamente aquela proibida a faria emagrecer. Não teve dúvida, nhanc, abocanhou. Ainda fez o Adão comer também, porque a mulher não quer emagrecer sozinha, não, ela quer que o marido emagreça junto. Pronto, daí para frente acabou a moleza do homem. Chega de paraíso, chega de ficar andando peladão por aí, só comendo frutinhas. Vamos trabalhar. Plantar, colher, construir, reformar, reformar de novo, trocar tudo de lugar, trocar mais uma vez.
Assim teve início a evolução da humanidade. A mulher e sua companheira, a inquietude, colocou todo mundo para se mexer. Mas se você não acredita na bíblia, não tem problema, os livros de história também atestam essa evolução. Veja o homem pré-histórico, ele era nômade, vivia de caverna em caverna, quando a mulher falou: “chega de andança, vamos melhorar essa caverna e ficaremos por aqui, gostei da vista e do jardim”.
A primeira coisa de que ela reclamou foi do frio no interior das cavernas. Assim, o homem descobriu o fogo. Antes disso já havia descoberto que sua mulher era fogo. Sistema de aquecimento resolvido, ela olhou em volta e percebeu, com a ajuda da claridade das chamas, que aquela caverna estava simples demais. Então os homens, “incentivados” por suas mulheres, melhoraram suas cavernas, passaram a construir abrigos com outros materiais, aprenderem a lidar e a aproveitar melhor os recursos da natureza, como as pedras, os ossos, os galhos, as folhas das árvores e as palhas. Depois disso, a pedido, reformaram suas cavernas várias vezes até começarem a construir casas, quase sempre ampliadas e reformadas, e reformadas de novo e novamente.
Talvez seja nessa época que tenha surgido a famosa frase “por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher” empurrando o cara. As três últimas palavras são por minha conta, e risco. Gostemos os homens ou não, a maioria das facilidades existentes no mundo somente surgiram porque a mulher exigiu que fossem criadas.
O primeiro automóvel foi inventado porque a mulher estava cansada de andar a pé ou no lombo de animais ou em carruagens lentas que sacolejavam demasiadamente. O químico alemão Justus von Liebig desenvolveu o espelho de tanto sua mulher reclamar que a maquiagem dela ficava borrada.
Cansadas de empurrar os homens para inventar ou aprimorar o existente, as mulheres resolveram fazer por si próprias e, assim, criaram a máquina de lavar, os limpadores de para-brisas, a computação, a telefonia automatizada, o Liquid Paper, as fraldas descartáveis, o vidro que não reflete, o sutiã e, imagino, também o cesto de roupas, para que o homem tivesse um lugar específico onde guardar a cueca usada.
Florence Parpart inventou a geladeira elétrica moderna, Maria Beasely inventou o bote salva-vidas, cansada de ver pessoas morrerem em desastres marítimos. A física Dra. Shirley Jackson, primeira mulher negra a receber um PhD do Massachusetts Institute of Technology, têm no currículo várias invenções na área de telecomunicações, incluindo o fax portátil, tons de telefone, células solares, cabos de fibra óptica e a tecnologia que possibilitou o identificador de chamadas e a chamada em espera.
As invenções de Hedy Lamarr permitiram a criação da conexão wireless, desde o Wi-Fi até GPS. Grace Murray Hopper inventou o COBOL (primeiro programa amigável de computador para negócios). Ela também foi a primeira pessoa a usar a expressão “bug” para descrever uma falha em um sistema de computador. Amalie Auguste Melitta Bentz inventou o filtro de café, Letitia Mumford Geer, a seringa, Nancy Johnson, a máquina de sorvete, Dra. Maria Telkes, a energia solar residencial, e Anna Connelly, a escada de incêndio.
A lista é grande, mas para fechar com chave de ouro, a empreitada feminina, a benevolente filha de Eva, pasmem, também inventou a cerveja. Segundo o historiador Beer Jane Peyton, as mulheres da Mesopotâmia antiga foram as primeiras a desenvolver, vender e até mesmo beber cerveja. Dá para acreditar? E agora não querem que a gente beba! Não dá para acreditar.
Ao contrário do que propagou a famosa ária de uma das operas de Verdi, la donna non è mobile, é firme em seus propósitos. Se não fosse a mulher, ainda estaríamos andando pelados, e sem afazeres, pelo paraíso. Seja isso bom ou ruim.
Sérgio Piva
s.piva@hotmail.com