Você já deve ter ouvido falar muitas vezes que os partidos da esquerda liderada por lula e o centrão fisiológico capitaneado principalmente pelo União Brasil, Republicanos e o PP, entre outros partidos, são os maiores inimigos do Brasil. Afinal, é destes dois segmentos que surgem e se completam as maiores armações, esquemas e maracutaias políticas que, invariavelmente, têm o mesmo objetivo: chegar aos cofres públicos livremente, meter a mão, sair e ficar impunes.
Mas, apesar de tudo isso ser verdadeiro, há um inimigo maior, hoje, que se formou em um ninho dividido entre o fisiologismo do centrão e o aconchego interesseiro do PT. O PSD de Gilberto Kassab.
É de lá e dele, hoje, que se maquinam e executam os principais artifícios de filiação, cooptação e projeção de neo lideranças travestidas de democratas, impolutos e até conservadores homens públicos. Engano só não absoluto por conta de algumas exceções. Poucas, não se engane.
Kassab é o mentor de inúmeros esquemas para coligações, arranjos de lideranças e projeção de novos “líderes” da vida pública. Isto em grandes cidades e estados e, evidentemente, nos municípios pequenos, onde é sempre mais fácil adesivar um candidato com as cores da Bandeira Brasileira, por exemplo, e fazer colar uma mensagem de amor ao país, respeito com o cidadão e responsabilidade nos gastos. Nem sempre verdade, claro.
Também é ele quem costura arranjos, como cimentar o candidato a vice na chapa de Tarcísio de Freitas, em 2022, e, com isso, garantir ao menos uma secretaria no governo atual.
Um de seus maiores feitos é amarrar suas âncoras nas cordas do PT e de lula para ter – acredite – três ministérios (Minas e Energia, Agricultura e Pesca) garantidos, mesmo afirmando em entrevista à Globonews, nesta semana, que o PSD pensa, sim, em ter candidato próprio à Presidência, quem sabe em 2026, na sucessão de lula. Seria Tarcísio? Talvez.
Não se esqueça que um projeto de eleição não começa no mesmo ano da votação. Os passos para eleger um candidato começam a ser dados bem antes, com 4 e até 8 anos de preparação. Lula levou duas décadas se candidatando e perdendo repetidas vezes até botar seus 9 dedos na faixa Presidencial e as duas mãos nas chaves do cofre. Um bom exemplo, não é?
As amarras de Kassab são tão fortes que, mesmo “ameaçando” o projeto de poder do PT – que quer ficar no poder até o final da década de 2030, os ministérios chefiados pelo PSD permanecem intactos. Faz ideia por quê?
É destas amarras que Kassab consegue manter caladinhos jornalistas e a velha imprensa sobre a revelação do hacker Patrick Brito sobre ele ter pago para que o ex-desconhecido Adélio Bispo fosse bisbilhotado por meio de telefones, e-mais, SMS e até zap, quatro meses antes da facada em Jair Bolsonaro, em setembro de 2018 – poucos dias antes do primeiro turno das eleições daquele ano.
- Por que Kassab pagou Patrick para grampear Adélio quando ele apenas era um mineiro a mais no mapa de MG?
- Como e por que Adélio foi “escolhido” para ser grampeado?
- Kassab saberia que Adélio tinha traços de esquizofrenia, como afirma o setor de psiquiatria forense da Polícia Federal?
- Quem pagou as viagens de Adélio por três estados, em curto espaço de tempo, antes da facada?
- Quem até hoje banca os gastos elevadíssimos com advogados de alto quilate da defesa de Adélio?
Nenhuma pergunta minimamente parecida como estas foi feita pela Globonews, na entrevista da semana passada. Aliás, como outras, a entrevista parece mesmo ter sido uma repetição da velha tática do “me passa as perguntas antes, por favor”, tão usada por políticos que falam somente de interesses, como por exemplo, mandando recados para sua gangue ou para adversários políticos.
Kassab é craque em um entra e sai de prefeituras, câmaras municipais, governos e assembleias dos estados e, claro, do governo central, de onde consegue mexer no tabuleiro da política em todos os níveis, passando igualmente ileso pelo Supremo Tribunal Federal.
É com este sucesso que o partido dele é um dos mais agraciados pela infâmia do financiamento de campanhas com o nosso dinheiro, por meio do fundão eleitoral, e da manutenção de partidos, pelo fundão partidário. Uma soma que bate na casa dos R$ 10 bilhões neste ano.
Outro “feito” dele foi o cumprimento de uma ordem dada a deputados e senadores do PSD na votação do infame indiciamento de Jair Bolsonaro na também infame CPMI do 8 de Janeiro, no ano passado. Todos votaram “sim” ao relatório da senadora Eliziane Gama, do PSD do Maranhão – um amálgama que liga Kassab a Flávio Dino, o ex-ministro da Justiça que estava em seu gabinete no dia da invasão dos prédios públicos por baderneiros e que, estranhamente, não acionou a Força Nacional, que também estava no local; que colocou a guarda palaciana de folga naquele domingo e que, absurdamente, não acionou as Forças Armadas já que a lorota sustentada era a de tentativa de golpe de estado.
Haveria mais detalhes e questões para falar mais de Dino no 8 de Janeiro, mas este é assunto para um outro artigo. Ou um livro, quem sabe.
Voltando a Kassab, como os jornalistas da velha imprensa, nenhum ministro da corte da suprema verdade – a mais cara e ineficiente do mundo – sinalizou até agora a intenção de perguntar estas coisas a Kassab, mesmo tendo sido reveladas há mais de dois meses pelo hacker em seis entrevistas dadas à rádio Auri Verde Brasil, de Bauru (SP).
Ah, nada parecido com as 24 horas, 48 horas de prazo dados por ministros como Alexandre de Moraes, Luiz Fachin, Gilmar Mendes e Cármen Lúcia para Bolsonaro e Michelle, por exemplo, explicarem porque não usavam papel higiênico cor de rosa nos banheiros do Palácio da Alvorada.
Olha, se você conseguiu ler este artigo até aqui, pelo que agradeço, acredito que não será preciso desenhar para comprovar que lula perdeu o posto de inimigo número 1 do Brasil para Kassab – sobrenome que por enquanto escrevo com inicial maiúscula.
Falando de exceções neste grande aparato político montado por Kassab com o PSD e suas quase 900 prefeituras, é preciso lembrar que, apesar de alguns bem intencionados filiados a este partido, que monstro não nasce adulto.