Estudos desenvolvidos por vários pesquisadores do País revelaram que os jovens, com idade entre 18 e 24 anos, são as maiores vítimas e agressores de crimes como homicídios, tentativas de homicídios e lesões corporais.
Em virtude destes dados, pesquisadores, autoridades e especialistas de diversas áreas, se reuniram no início deste mês, para discutirem as causas e as possíveis soluções para o problema.
As questões levantadas foram apresentadas no 3.º Seminário Internacional sobre “Violência e Juventude”, realizado na sede da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) nos dias 5, 6, 7 e 8 de novembro.
Em entrevista ao Diário, a doutora Cynthia Rachid Bydlowski, uma das organizadoras do seminário, que abordou políticas para controle das violências que afetam os jovens, disse que muitas idéias interessantes foram expostas para diminuir os índices negativos divulgados.
Segundo Cynthia, o mais importante do encontro, é que ele foi baseado em pesquisas que revelam a realidade do País, do Estado de São Paulo, dos municípios paulistas e não em comparações com países estrangeiros, por exemplo.
As causas do envolvimento dos jovens com a violência, como a própria pesquisadora destaca, não são novidades para ninguém, pois são resultados da pobreza e da desigualdade social que afeta todo o Brasil. No entanto, ela explica que a juventude é uma fase complicada na vida de todas as pessoas, fase em que o ser humano fica vulnerável a maior parte dos conflitos.
“É durante a juventude que as pessoas precisam pensar no que vão fazer de suas vidas, criam contatos, iniciam relacionamentos, precisam estudar mais, ou até mesmo começam a trabalhar, saem de casa em busca de novas oportunidades, tomam decisões, enfim, é nesta fase, que a gente ainda não tem noção do perigo e deixa a emoção tomar conta de algumas atitudes”.
De acordo com a doutora, o álcool e o entorpecente são outros dois fatores que alteram a personalidade do jovem – faixa etária que mais os consume.
Soluções
O seminário, que já está em sua terceira edição, sempre relacionando violência com a criança, a escola ou a juventude, mostrou trabalhos realizados que deram certo, como o do padre Jaime Crowe, que idealizou e pôs em prática uma experiência em um dos bairros mais violentos de São Paulo, o Jardim Ângela, e conseguiu bons resultados.
Cynthia disse que não houve um método específico para o caso, mas que talvez a carisma, vontade e persistência do padre, conseguiu fazer com que a própria comunidade daquele bairro destacasse entre ela os problemas mais importantes e juntos encontraram uma solução.
O mesmo modelo também é usado pela pesquisadora Márcia Westphal, da promoção da área da saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP, que conta com a participação da população, para resolver o problema deles próprios.
A doutora ainda citou que uma outra sugestão interessante, apresentada no Seminário pelo procurador de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Ricardo de Oliveira Silva, é a implantação da justiça terapêutica, que já é realizada no sul do País. Silva defende que o jovem, quando comete alguma infração, porque tem problemas com o vício relacionado ao álcool ou entorpecente, além de ser apenas punido e “devolvido” novamente a sociedade, precisa ser tratado, para que ele se livre deste mal.
A pesquisadora destacou também a palestra do desembargador Ciro Darlan de Oliveira, que falou da importância dos Conselhos Tutelares, que ainda são desconhecidos por grande parte da sociedade e existem em defesa do jovem.
Outra iniciativa, segundo a doutora, foi também a do “Instituto sou da Paz”, que formaram grêmios nas escolas públicas de São Paulo, fazendo com que os alunos se envolvessem com a unidade escolar, dando a eles noções de responsabilidade e incentivo por pensarem em todos, no momento de tomarem alguma decisão pelos colegas.
Por outro lado, Cynthia ressalta que há projetos em estudos, como por exemplo, os núcleos municipais de prevenção à violência, criados pelo Ministério da Cidade e o desenvolvimento de uma capacitação para a Polícia, com orientações sobre como lidar com os jovens. (Colaborou Leliane Petrocelli).