A jovem Camilla Barbosa, de 27 anos, que foi indiciada pela Polícia Civil por fingir ter câncer para aplicar golpes, não deixava a família acompanhar o suposto “tratamento” dela em hospitais, segundo informou uma parente dela ao g1. De acordo com a familiar, que preferiu não se identificar, Camilla “sempre teve o hábito de mentir”. A jovem gravou vídeos raspando o próprio cabelo para fazer campanhas.
“Ela não deixava a família acompanhá-la no hospital em momento algum. Ela sempre teve o hábito de mentir muito, então, a gente já não levava muito em consideração as coisas que ela falava”, contou a parente, ao g1.
O g1 entrou em contato com o advogado Warley Divino Pires, que faz a defesa de Camilla, por mensagens enviadas às 21h43 de sábado (21), para pedir um posicionamento. Anteriormente, ele já havia se posicionado dizendo que a jovem não recebeu dinheiro e que tem diagnóstico de uma forma mais leve de câncer e que “faz tratamento”. À época, o advogado disse ainda que, “em análise preliminar das provas, a defesa comprovou que não têm indícios de materialidade delitiva”.
Divulgação do falso câncer
A familiar contou que Camilla falou que tinha câncer no ano passado, logo após precisar ser internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por causa de uma dengue hemorrágica. Na época, a parente contou que a jovem chegou a dizer, enquanto estava no hospital, que os médicos queriam entubá-la, no entanto, ela disse que não deixou.
“Ela disse que os médicos falaram que queriam entubá-la, mas ela falou que não autorizou e que assinou um termo negando a autorização. Só que, quando o médico passou, uma parente que estava lá perguntou a ele sobre isso e ele falou que não teve nada disso, que ela estava muito bem e que já estava de alta da UTI e que a enviaria para a enfermaria”, contou.
Pouco tempo após essa internação devido à dengue, Camilla teria dito que estava com câncer de mama com metástase no intestino e pulmão. No entanto, conforme a parente, ela não apresentou nenhum documento que mostrasse que ela teria a doença e, sempre que alguém oferecia algum tipo de ajuda, como indicação de médicos conhecidos por eles, ela negava e dizia que já estava fazendo quimioterapia.
“A gente falava ‘marca a consulta, que vamos com você’. Um dia, uma parente foi acompanhá-la, mas, quando chegou ao hospital, ela estava lanchando em uma lanchonete. Sempre que tinha consulta, a gente pedia para acompanhar, mas nunca deu certo”, contou.
Os parentes descobriram que ela não tinha a doença após irem presencialmente ao Hospital Araújo Jorge, em Goiânia, numa data em que ela teria dito que tinha quimioterapia, para tentar acompanhar o “tratamento”. Na ocasião, uma das familiares foi informada pela segurança da unidade de que Camilla não era paciente e que, inclusive, já tinha sido flagrada tirando fotos na unidade, na sessão de quimioterapia.
“Quando a parente chegou ao hospital e falou que tinha ido visitar a Camilla, que estava fazendo quimioterapia, e mostraram a foto dela, um chefe da segurança disse que tinha um ‘dossiê’ sobre ela, disse que ela não era paciente e que já tiraram ela de lá várias vezes, porque ela entrava para tirar foto”, disse.
A Polícia Civil disse que o Hospital Araújo Jorge, em Goiânia, que é referência no tratamento contra câncer em Goiás, foi usado por Camilla para fazer fotos e vídeos, geralmente deitada nas macas da sessão de quimioterapia.
Ao g1, unidade disse, por meio de nota, que ela nunca foi paciente e que chegou a ser retirada do hospital, em algumas ocasiões, ao ser flagrada sem autorização para estar na ala de tratamento dos pacientes com câncer.
Família envergonhada
A parente contou ainda que a família está envergonhada pela situação e que eles não entendem o que pode ter levado a jovem a dizer que teria uma doença tão grave.
“As pessoas falam: ‘ah, você é parente da Camilla, que fingiu ter câncer, né? Isso nos mata de vergonha. Estamos todos envergonhados. A nossa família não é assim. Não conseguimos entender por que ela fingiu ter uma doença tão grave”, disse.
Após a família descobrir, alguns parentes teriam falado para ela que, após irem ao hospital, descobriram que ela não tinha a doença. Contudo, Camilla teria dito aos familiares que o hospital perdeu o prontuário dela e reafirmou que tem a doença.
“Depois disso, nós largamos de mão. É muito difícil. O hospital disse que não podíamos fazer nada, porque ela não lesou a gente. Ficamos de pés e mãos atados”, contou a parente.
Na biografia de uma das redes sociais de Camilla consta, até as 22h de sábado (21), a seguinte frase: “vencendo o câncer 💗❤💛“.
A parente contou ainda que laudos, obtidos pelos familiares após a exposição do caso pela Polícia Civil, apontam que Camilla não possui nenhuma doença.
“Ela fez uma ressonância do crânio até o reto. A única coisa que mostra nesse exame é que ela tem gastrite, que é uma doença muito comum. Eu vi o laudo. Não sei o que se passa pela cabeça dela”, contou.
Enganou ex-namorados e ex-sogras
O delegado Fernando Gontijo informou que Camila enganou ex-namorados e ex-sogras, que, inclusive, fizeram as maiores doações para as campanhas dela. Durante a investigação, o investigador apurou que ela arrecadou R$ 20 mil em doações para o falso tratamento.
Ao todo, a Polícia Civil informou, no dia 11 de janeiro, que cerca de dez pessoas procuraram a delegacia para dizer que foram vítimas de Camilla. De acordo com o delegado, algumas das vítimas tiveram prejuízo de cerca de R$ 500.
Em depoimento à polícia, a jovem disse que teve câncer há alguns anos e que foi curada. Mas depois descobriu que a doença voltou após fazer exames de dengue, e que já estava com metástase no intestino e pulmão.
Ao delegado, Camilla afirmou que começou tratamento no Hospital Araújo Jorge, onde disse ter feito sete sessões de quimioterapia, mas que meses depois, a unidade médica perdeu o prontuário dela e o tratamento foi interrompido.
A Polícia Civil cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de Camilla, onde encontrou diversos documentos e exames, que foram apreendidos. O delegado afirmou que em nenhum dos documentos foi possível constatar que a jovem tem câncer.
Após as investigações, a corporação decidiu indiciar a mulher por estelionato. Ela responde ao crime em liberdade.