A jornalista Ana Júlia Souza do Prado, de 24 anos, moradora de Olímpia (SP), jamais imaginou que os dias de folga no Carnaval com os amigos se transformaria em um verdadeiro filme de terror.
O grupo de 16 jovens escolheu Maresias, no litoral norte de São Paulo, para curtir a festa mais animada do ano e se dividiram em quatro carros para chegar até o destino, na madrugada da sexta-feira (17). A cidade fica a 27 quilômetros de São Sebastião, a mais afetada pela tragédia que já matou 48 pessoas e deixou mais de 2 mil desabrigadas ou desalojadas.
Os turistas alugaram uma casa para se hospedarem durante os quatro dias de folia.
“Na sexta mesmo já começou a chover, mas estava fraco. Eu e uma amiga havíamos comprado convites para uma festa no sábado, em uma boate bem famosa lá. No sábado a gente foi para a boate e já estava chovendo, mas jamais imaginamos que quase morreríamos afogadas”, conta a jovem.
A jornalista conta ainda que os momentos de pânico começaram quando a água começou a invadir o estabelecimento.
“Começaram acontecer vários curtos-circuitos, morremos de medo porque achamos que iríamos ser eletrocutadas”, relembra.
Ana Júlia e a amiga saíram do local, mas se surpreenderam com a velocidade em que o nível da água da chuva subia e alagava a rua inteira.
“Levamos um susto porque a água já estava batendo na altura no nosso peito. Não sabíamos encontrar a casa onde estávamos hospedadas, conseguimos ver bem rápido pelo GPS do celular e fomos nadando até encontrarmos um hotel, que tinha uma área alta e segura, já tinha muita gente lá do lado de fora gritando para o dono abrir a porta”, diz.
Enquanto nadava para procurar abrigo, a jovem perdeu o celular.
“No desespero, todo mundo começou ameaçar o dono do hotel, dizendo que se ele não abrisse a porta, iriam quebrar. Foi quando ele abriu e deixou as mulheres entrarem primeiro. Lá dentro comecei a chorar muito porque a água começou a invadir também e cobriu nossas canelas”.
Cansadas, com frio e fome, além de estarem cobertas de lama, as jovens decidiram sair do local e procurar a casa onde os outros amigos estavam. O nível da água foi baixando aos poucos.
“A gente não aguentava mais e estávamos com muito medo, eu chorava muito. Eu sabia que não estávamos longe e fomos nadando naquela água cheia de barro, com cheiro de esgoto, cobras flutuando. Foi desesperador. Por sorte conseguimos chegar na casa que alugamos e nossos amigos estavam bem, a casa estava em um lugar alto e não foi afetada pela chuva”, conta.
As perdas foram materiais: celulares, dinheiro e dois carros do grupo, que ficaram inutilizados, com perda total.
A falta de sinal telefônico e conexão com a internet também dificultou a situação das vítimas.
“A gente conseguiu juntar dinheiro para comprar mantimentos, mas faltou dinheiro para comprar água. O dono de um estabelecimento cedeu pra gente. Só tínhamos dinheiro via Pix e não tinha internet”.
O grupo conseguiu retornar para casa após a liberação da rodovia dos Tamoios, que ficou mais de 19h interditada.
“Quando cheguei aqui em Olímpia, soube que minha madrasta chegou a passar mal e precisou ser medicada porque via as notícias, mas não conseguia falar comigo. Estou muito aliviada por ter chegado em casa, mas fico chorando ainda, estou traumatizada. Eu não quero mais viajar por muito tempo”, finaliza.