“Filho da puta, você não morreu ainda? Olha pra cá! Maldito. Não morreu ainda”, diz uma das vozes, enquanto a imagem, em close, mostra a cena forte: um homem pardo, caído, espumando pela boca. Os olhos dele estão paralisados, em choque, com as pupilas dilatadas. A roupa está ensopada de sangue.
Ao fundo, é possível ouvir uma comunicação entre carros da polícia e os nomes Copom (Central de Operações da Polícia Militar) e Rota, grupo especial da PM paulista. Há um veículo Astra, de cor azul, com as portas abertas.
“Estrebucha! Filho da puta”, diz uma outra voz.
Há um segundo homem estendido no chão. Ele está de bruços, algemado e chora.
“Tomara que morra a caminho [do hospital]. Não vai morrer, não?”, diz, com ar de deboche, um outro PM.
As cenas estão gravadas em um vídeo obtido pela Folha. Elas estão nas mãos da cúpula da Segurança Pública paulista há duas semanas.
O Comando Geral da PM, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, da Polícia Civil, e o Ministério Público Estadual querem saber quem são os dois homens que aparecem caídos no chão e como eles foram feridos.
Além disso, investigam onde e quando as imagens foram feitas. Há suspeita de que o episódio tenha ocorrido na Grande São Paulo e que as imagens tenham sido gravadas pelos próprios PMs (numa cena de crime como a que aparece no vídeo, apenas policiais têm livre acesso).
As autoridades também buscam informações se os suspeitos estão vivos ou mortos ou se estão presos.
RESISTÊNCIAS
Entre janeiro e junho deste ano, 334 pessoas foram mortas por PMs (em serviço ou não) no Estado de São Paulo. A média diária é de 1,85. Desse total, 241 óbitos ocorreram em casos de “resistência seguida de morte em serviço”. No mesmo período, o número de policiais militares mortos (em serviço ou não) foi de 25.
Fonte:Jornal Folha de S.Paulo