Abatida pela valorização cambial e pelo avanço dos calçados chineses em seus principais mercados compradores, a indústria calçadista de Franca começa a vislumbrar o início de uma retomada em seus negócios. O principal aliado das empresas é o aumento da sofisticação de seus produtos em couro, em busca de nichos que os calçados chineses, feitos de material sintético, ainda não podem alcançar. A diferenciação já elevou o preço médio por par dos calçados francanos de US$ 16 para US$ 21,58 nos últimos quatro anos.
Aliado a programas de redução de custo, este movimento deve garantir às indústrias locais uma recuperação das exportações a patamares semelhantes a 2004 nos próximos dois anos, de acordo com o Sindicato das Indústrias de Calçados de Franca, o Sindifranca. Naquele ano, as vendas externas somaram US$ 185 milhões. Este número caiu 12% em 2005, que somou US$ 163,19 milhões, e sofreu nova queda de 13,5% em 2006, para US$ 141,8 milhões. A crise afetou grandes empresas, como a Samello, que está em processo de recuperação judicial, e fabricantes voltadas para exportação para marcas de terceiros.
As vendas de Franca para o mercado interno, que recuaram 3,32% no ano passado, também devem subir em 2007, ajudadas pelo aumento das importações de couro bovino da Argentina e da Austrália, que ficaram mais vantajosas devido à apreciação do real. Até o momento, a entrada dos calçados chineses no mercado brasileiro tem sido restrita por questões logísticas, como entregas mais demoradas e a necessidade de fazer pedidos maiores. Em busca de agilidade na reposição dos estoques para seguir as tendências de moda, os lojistas ainda têm mantido uma certa fidelidade aos produtos nacionais. Um sinal disso é que as vendas da indústria calçadista brasileira para o mercado interno subiram no ano passado.
De acordo com o presidente do sindicato, Jorge Donadelli, novos mercados estrangeiros estão compensando parte da redução dos embarques para os Estados Unidos, principal mercado comprador. Entre eles estão países europeus e latino-americanos. Segundo dados da Abicalçados, entidade nacional do setor, as vendas para os países vizinhos aumentaram 22% em pares desde 2003.