Uma série de incidentes envolvendo estudantes nas escolas preocupa autoridades e acende um alerta para a saúde mental de jovens após o período de quase dois anos em casa, sem convívio social, durante a pandemia de COVID-19. Casos de violência e ameaça aumentaram 48% em escolas de São Paulo.
Na Escola Municipal Maestro Antonio Amato, em Potirendaba (SP), quatro incidentes chamam a atenção das autoridades, do começo do ano até agora. O primeiro deles ocorreu no dia 11 de fevereiro. Uma briga na saída da escola gerou grande repercussão em toda a nossa região. Cinco estudantes de 13 anos foram se agredindo do portão da instituição até a Praça da Matriz, enquanto outros jovens filmavam. Um boletim de ocorrência também foi registrado na delegacia de Potirendaba que acompanha o caso.
No dia 23 de março uma aluna, de 16 anos, levou um martelo na escola para agredir a professora. Preocupada, a docente acionou a polícia e registro um boletim de ocorrência. O martelo foi apreendido e a aluna foi suspensa por 10 dias.
No dia 06 de abril, um recado de um possível massacre deixado por três estudantes da Escola Amato causou pânico em pais e alunos. Segundo informações apuradas pela Gazeta, o recado “haverá um massacre na escola” teria sido escrito de caneta, na porta do banheiro masculino por três alunos do 9º ano, todos de 14 anos. Ao tomar conhecimento do fato, através da equipe de limpeza, imediatamente a Coordenadoria de Educação identificou os jovens e acionou seus pais.
Questionados pela Direção, os alunos disseram que foi uma brincadeira de mal gosto e que estavam arrependidos do fato. Os pais ficaram surpresos com a atitude dos filhos, que possuem bom comportamento e que não imaginavam do caso.
O Conselho Tutelar foi acionado e os alunos foram suspensos por tempo indeterminado. Ainda de acordo com apuração da Gazeta, eles passarão por acompanhamento psicológico e só retornarão à escola mediante comprovação através de laudos. A Guarda Civil Municipal também foi à escola e passou a monitorar o local diariamente.
No dia 07 de abril, a mãe de uma aluna foi agredida com uma mangueira de jardim na frente da Escola Amato. Segundo informações apuradas pela Gazeta, a agressora seria a mãe de uma aluna e o motivo seria porque a filha da vítima teria se envolvido em uma briga com a filha da autora, em uma outra ocasião.
No momento em que as mães se encontraram na saída da escola, a agressora pegou uma mangueira de jardim e desferiu vários golpes contra a vítima, que ficou com diversos hematomas e ferimentos pelo corpo. O caso foi registrado como lesão corporal pela Polícia Civil do município que acompanha o fato.
Escola Amato é uma das melhores da região
Na Escola Amato estudam 780 alunos do 6º ao 9º ano, com idades entre 11 e 14 anos, nos períodos de manhã e tarde. A instituição é uma das melhores escolas da região, inclusive com inúmeros alunos premiados e medalhistas há vários anos., porém, a Coordenadora de Educação de Potirendaba, Juliana Mariano, explica que a Escola, como instituição social, vem sofrendo as consequências sérias da pandemia e observa o quanto isso foi prejudicial para o convívio em grupo.
“Durante esses dois anos, os círculos sociais foram reduzidos e agora, com a volta do ensino presencial, dividir espaços públicos tem se mostrado uma tarefa difícil para crianças e adolescentes. Além dos comportamentos e falas agressivas, instabilidade emocional, quadros de depressão, ansiedade e baixa autoestima, são diariamente recebidos e amparados na escola. Em nosso município, estamos alinhando formas para dinamizar espaços efetivos de diálogo e acolhimento, como também desenvolver habilidades sócio emocionais tão necessárias nesse momento. Além disso, encaminhamos estudantes e familiares a assistência psicológica e social sempre que necessário”, explica.
De acordo com especialistas, a pandemia pode ter servido como um gatilho para que casos de violência aumentassem dentro das escolas.
Segundo um levantamento feito pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, em 2021, 69% dos estudantes que passaram por uma espécie de avaliação relatam sintomas de depressão e ansiedade – o que representa mais de 443 mil estudantes.
Nos dois primeiros meses de aula deste ano foram registrados 4.021 casos de agressões físicas nas unidades estaduais, sendo 48,5% a mais do que no mesmo período de 2019, último ano em que os alunos frequentaram as aulas presenciais todos os dias.
Para professores ouvidos pela Gazeta e que não podem ser identificados, o aumento destes casos de violência é consequência do afastamento dos alunos das salas de aula nos últimos dois anos. “Estes alunos estavam acostumados com uma rotina em casa e tecnicamente desaprenderam a manter um convívio social. Temos alunos que estavam estudando em uma escola com alunos menores antes da pandemia e dois anos depois estão convivendo em outra escola, com crianças de outras idades. Isso mexeu muito com o cérebro deles e pode levar um bom tempo para voltar à normalidade”, acredita uma das professoras.
A psicóloga, Josiane Tonini, acredita que a pandemia tenha afetado os estudantes de um modo geral e que trabalhar no acolhimento destes alunos é uma das alternativas para evitar esses tipos de incidentes.
“Além da pandemia, é preciso ver como é a estrutura familiar que estes alunos conviveram durante este período em casa. Tudo isso tem que ser levado em consideração, pois toda a rotina destes estudantes mudou. Uma possível solução seria trabalhar no acolhimento destes jovens, analisar cada caso, ouvir estes alunos, trabalhar com dinâmicas nas escolas, tentar acalmar estes alunos, até que aos poucos eles retomem à rotina escolar”, explica.
Guarda Municipal reforça fiscalização após incidentes
Após os incidentes, a Guarda Civil Municipal (GCM), intensificou ações de fiscalização no entorno de escolas municipais de Potirendaba. Todas as entradas e saídas dos alunos são acompanhadas por agentes que ficam de prontidão na porta das instituições, diariamente.
Segundo o comandante da GCM, Jacques Eduardo Cestini, um projeto de reforço nestas ações está em estudo pelo município e deve ser colocado em prática nos próximos meses. “Estamos com projeto para aumentar o efetivo da corporação e com isso trazer mais segurança para estas unidades, principalmente o Amato que tem sido um dos locais com maior incidência de casos”, explica.