sexta-feira, 20 de setembro de 2024
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Incertezas administrativas colocam em xeque futuro do Fefecê

Com três derrotas em cinco partidas no Campeonato Paulista da Segunda Divisão (Quarta Divisão), o Fernandópolis vive incertezas sobre o futuro em sua administração. Desanimado pela falta de apoio financeiro…

Com três derrotas em cinco partidas no Campeonato Paulista da Segunda Divisão (Quarta Divisão), o Fernandópolis vive incertezas sobre o futuro em sua administração. Desanimado pela falta de apoio financeiro de empresas e parceiros, o atual presidente Ademir de Almeida já antecipou que não tentará a reeleição, ao final deste ano, após o seu primeiro mandato. Almeida chegou ao clube em 2010.

Entre 1995 e 2010, o comerciante Jesus Moreti presidiu o Fefecê e deixou o cargo por pressão da família, que jamais concordou com os investimentos do próprio bolso dele para cobrir os gastos do clube. O cartola diz que há anos articulava sua saída, mas nunca houve um candidato para substituí-lo. “Até que depois de muita insistência, o prefeito (Luiz Vilar de Siqueira) convenceu o novo presidente (Ademir de Almeida)”, relembrou Moreti.

“Todo ano eu colocava até R$ 50 mil do próprio bolso. É um dinheiro sem volta. Hoje, mesmo não sendo presidente, tenho resistência da família, mas estou só ajudando com o meu conhecimento. Muitos aqui dizem que só o Jesus salva o Fernandópolis, mas outros veem a gente comprando um carro novo, por exemplo, já fala que roubamos do clube.”

Almeida também reclama da solidão nas tomadas de decisões. “Temos de seis a sete diretores que trabalham no momento, mas, no fim, sobra para mim e para o Soares (José Carlos Soares)”, reclamou Almeida. “A minha parte eu já fiz. A gente tem muita cobrança, algumas pessoas falam muito.

Estamos desde a semana passada tentando contratar um zagueiro bom e, nesse caso, o salário é alto, não podemos pagar e ninguém quer ajudar. Isso cansa a gente, brigamos até com a família. Esse ano, vencendo o meu mandado, só desejo boa sorte”, desabafou o presidente. “Não temos nem associado.

Tentamos formar um grupo de sócios e não virou nada.” Além do próprio Moreti e de Almeida, o Fefecê tem como diretor de futebol José Carlos Soares, cunhado de Luiz Vilar. O prefeito, aliás, exerce sua influência para ajudar o clube seja financeiramente ou até politicamente, como na nomeação de Almeida. No ano passado, por exemplo, Vilar garantiu a instalação de seis aparelhos de ar-condicionado no alojamento do estádio municipal Claudio Rodante.

Apesar de municipalizado, o estádio é utilizado exclusivamente pelo clube.

Conforme relata Moreti, será “difícil encontrar alguém corajoso para assumir” com o fim do atual mandato. A situação, convenhamos, não é nada animadora. De acordo com Almeida, a folha salarial gira em torno de R$ 30 mil, somando as despesas com alimentação, hospedagem, viagens, entre outras, os gastos chegam a R$ 50 mil por mês.

Já as receitas são insuficientes para cobrir as despesas, mesmo assim, diretoria e os próprios jogadores garantem que os salários estão em dias. “Estamos fechando no prejuízo, mas sempre aparece um socorro”, respondeu o presidente, sem dar detalhes sobre o tal socorro financeiro.

Rudimar é a esperança
A pedido da torcida, a diretoria do Fernandópolis foi buscar o atacante Rudimar, que passou pelo clube em 2009 e 2010, e neste ano esteve no Capivariano na campanha do acesso à Série A-2 do Paulista de 2013. Rudimar tem sido decisivo para a Águia do Vale.

Nas duas vitórias da equipe no Paulista da Segunda Divisão (Quarta Divisão), o atacante foi fundamental. Contra o Tupã, ele sofreu dois pênaltis, convertidos pelo lateral Maurinho, e também balançou a rede. Na vitória sobre o Grêmio Prudente, no domingo passado, Rudimar foi responsável pelo único gol.

A torcida, impaciente com o elenco a cada tropeço, dificilmente pega no pé de Rudimar. “É uma responsabilidade grande. A torcida precisa saber que um só jogador não vai resolver”, disse o camisa 9, que parece tranquilo com a cobrança. “A torcida faz a parte dela, cabe a nós correspondermos em campo para que os torcedores participem conosco.”

Gaúcho, Rudimar tem facilidade de chutar com as duas pernas, além da boa presença de área. Ele é um dos três atletas acima da idade de 23 anos, o limite permitido para a Quarta Divisão. Segundo o regulamento, cada equipe pode relacionar somente três jogadores com mais de 23 anos por partida.

Violão para matar saudades
Do ano passado para cá, a diretoria do Fernandópolis conquistou algumas benfeitorias. Instalado no estádio Claudio Rodante, o alojamento dos jogadores recebeu seis aparelhos de ar-condicionado, cobertura de forro PVC e 24 colchões novos. Nos quartos, há televisores e, em média, cinco camas de solteiro.

O zagueiro Hiago, de 21 anos, natural de Porto Alegre do Norte, no Mato Grosso, é um dos hóspedes do alojamento. A distância entre Fernandópolis e a sua cidade natal chega a 1,3 mil quilômetros. “Há dois anos não vou para casa. Nunca dá tempo, estou sempre andando de um clube para outro, assim que acaba um campeonato.

Desde que saí de casa, há cinco anos, vivo essa vida e a gente se acostuma”, disse Hiago, que deixou filho, pai e mãe em Porto Alegre do Norte. “Conversamos diariamente pela internet, mas não é a mesma coisa.”

Para amenizar a saudade, um dos passatempo de Hiago é tocar violão. Quando não, é a velha resenha entre os companheiros de quarto ou acompanhar algum programa esportivo na tevê aberta. O sonho de Hiago, assim como os demais colegas de clube, é despertar a atenção de equipes de ponta. “Não tenho o que reclamar do Fernandópolis. A estrutura do clube para a Segundona poderia ser a melhor, mas é a ideal.”

Técnico critica moldes do campeonato
Mesmo a pedido da reportagem do Diário da Região, a Federação Paulista de Futebol fez de tudo para não divulgar os valores oferecidos aos clubes integrantes da Quarta Divisão. Ao contrário do Paulistão, onde a FPF divulgou, com alarde, a premiação de R$ 2,5 milhões ao campeão, na Quarta Divisão a recompensa é de R$ 13 mil brutos.

A entidade também é responsável pela taxa de arbitragem e distribui bolas aos times. Enquanto a diretoria reclama da falta de incentivos da FPF, o técnico Roberto Assis dispara contra o regulamento. “É difícil demais um campeonato como esse sem reunir experiência no elenco”.

“Em uma guerra, por exemplo, além do cabo, tem o sargento, o tenente, os mais experientes que sabem o atalho”, disse Assis, que atuou como zagueiro no Tanabi, Mirassol, Botafogo, de Ribeirão Preto, além de rodar por clubes do Espírito Santo e Paraíba. “Eu fui jogar no Espírito Santo com 18 anos ao lado de um zagueiro com 38 anos. Ele me orientava o tempo todo, porque conhece o atalho”.

A justificativa da FPF para limitar a inscrição de jogadores acima de 23 anos é de que o campeonato tem o objetivo principal de revelar atletas. Assis discorda. “Revela quem está na Libertadores. Para isso, você precisa ter sequência e, quando o jogador poderá dar fruto, ele estoura a idade e precisa sair. O futebol tem resultado mediante a sequência do trabalho, assim como tem feito o Mirassol.”

Galera incentiva
Mesmo sem empolgar a torcida na Quarta Divisão e ameaçado pelo abandono dos seus dirigentes, o Fernandópolis obteve uma boa média de público em suas duas únicas partidas no estádio Claudio Rodante. Logo na estreia, diante do rival Votuporanguense, 2.160 pagantes acompanharam o clássico regional.

A equipe perdeu por 1 a 0 e só voltou a jogar diante da sua torcida pela quarta rodada, após perder outros dois jogos. Contra o Tanabi, o Fefecê apanhou por 3 a 1, diante de 826 pagantes. A média, que é de 1.492 torcedores por partida, surpreende em uma cidade cuja população é de 65 mil pessoas. “A gente não abandona nunca, é a única equipe da cidade e temos que incentivar”, afirmou o torcedor Ademilson Fonseca, presidente da Sangue Azul, torcida uniformizada do clube. “Sou vigilante, estou de férias e esse é o nosso passatempo.”

Na Quarta Divisão, a Águia do Vale ainda não decolou, faz uma campanha irregular, com três derrotas e duas vitórias. Em cinco rodadas, a equipe não conseguiu vencer em seu estádio, o municipal Claudio Rodante. Com seis pontos, o Fefecê é o quarto colocado.

A principal esperança era o lateral direito Maurinho, campeão brasileiro com Santos, Cruzeiro e São Paulo, porém, o jogador deixou a equipe após a derrota diante do Tanabi. “O melhor jogador era o Maurinho, mas ele não quer mais nada”, desabafou Fonseca, enquanto um outro torcedor ouvindo o diálogo disparou: “Ele está jogando baralho na cidade, pensou que ia ser fácil aqui.”

Maurinho participou das três primeiras partidas do Fefecê no Estadual, marcou dois gols e deu uma assistência para o atacante Rudimar. “Se você ver como o Maurinho pega na bola, é outro nível”, elogiou Rudimar.

“O Maurinho pediu liberação para resolver problemas pessoais e não apareceu mais. Ele só nos ajudou e não quis receber um centavo enquanto esteve aqui. Só podemos agradecê-lo”, minimizou o presidente Ademir de Almeida.

Na rodada anterior, a vitória da Águia, fora de casa, sobre o antepenúltimo colocado Grêmio Prudente (1 a 0), também com gol de Rudimar, deu esperança aos torcedores. E nada melhor que essa reação aconteça, a partir de hoje, diante do rival Votuporanguense, às 10 horas, no estádio Plinio Marin, em Votuporanga, pelo returno. “Estamos buscando a nossa reação. A nossa chave (Grupo 1) está aberta, apenas o Votuporanguense ganhou uma gordurinha”, analisou o técnico Roberto Assis.

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