segunda, 23 de dezembro de 2024
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Hospitais estudam como reduzir danos da químio ao coração

Todos os dias, pacientes com câncer têm um infarto ou outra complicação cardiovascular e precisam ser transportados às pressas por uma passarela providencial que liga o Icesp (Instituto do Câncer…

Todos os dias, pacientes com câncer têm um infarto ou outra complicação cardiovascular e precisam ser transportados às pressas por uma passarela providencial que liga o Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) ao Incor (Instituto do Coração da USP).

Muitos deles só tiveram problemas cardíacos como consequência do tratamento contra o câncer –algumas classes de drogas, como as antraciclinas, aumentam o risco de insuficiência cardíaca em até 25%.

Isso porque esses medicamentos levam à perda da capacidade de regeneração do músculo cardíaco e induzem as células do órgão à morte.

Para minimizar tais danos, profissionais da oncologia e da cardiologia têm trabalhado mais em conjunto. A ideia é oferecer um tratamento que combata o tumor, mas poupe ao máximo o coração.

A parceria também ajuda a entender melhor os efeitos cardiotóxicos dos medicamentos. Mesmo os mais modernos, como o trastuzumabe, para câncer de mama, apresentam esse risco.

“Antes, os pacientes morriam cedo e ninguém se preocupava muito com o coração deles. Hoje, com os avanços do tratamento oncológico, eles chegam à idade avançada e vão precisar do coração lá na frente”, diz Laura Testa, oncologista clínica do Hospital Sírio-Libanês e do Icesp.

ESTUDOS

Os dois hospitais, junto com o Incor, acabam de criar um centro de cardio-oncologia. Coordenado pelo Sírio-Libanês, a colaboração já está produzindo estudos.

Um deles vai avaliar como diferentes tratamentos para câncer de próstata impactam a saúde do coração. Outras pesquisas vão determinar quais são as melhores drogas para prevenção cardíaca em pacientes com câncer de mama e de que modo a atividade física durante o tratamento pode ser mais benéfica.

“Os fatores de risco para o câncer e as doenças do coração são muito semelhantes –obesidade, colesterol alto, hipertensão. Agora a gente sabe que o paciente com câncer precisa se cuidar ainda mais. Esse grupo vai fortalecer a interação para que o oncologista saiba quando deve acionar o cardiologista”, diz a médica intensivista do Sírio Ludhmila Hajjar.

O centro vai ainda oferecer especialização para profissionais da saúde nessa nova área, além de um melhor suporte aos pacientes, tanto para a prevenção como para o tratamento precoce de doenças cardiovasculares.

“Também estamos propondo que o Brasil crie o primeiro registro nacional no mundo de efeitos colaterais da químio para o coração. Isso poderia reduzir as complicações e guiar melhor as escolhas de tratamento”, afirma Roberto Kalil Filho, diretor do centro de cardiologia do Sírio-Libanês e do Incor.

No Hospital Israelita Albert Einstein, um grupo médico assistencial de cardio-oncologial também conduz estudos e oferece cuidados conjuntos aos pacientes.

“Não dá para olhar só para o câncer e esquecer que o paciente fuma ou é hipertenso. Temos que avaliar sua história para ver se ele precisa de um acompanhamento diferente e pesar riscos e benefícios do tratamento”, afirma o oncologista Andrey Soares.

O hospital criou recentemente um protocolo para pacientes com câncer de mama que são tratadas com as antraciclinas.

Quem se encaixa no perfil faz testes cardíacos preventivos mais sofisticados, como exames de imagem e de sangue que mostram alterações precocemente.

Foi assim que a auditora de sistemas Andrea Vilalba, 35, que se trata de um câncer de mama, viu que seu risco cardíaco estava aumentando por causa da químio. A pressão arterial também havia subido.

Hoje, ela toma um remédio para hipertensão e insuficiência cardíaca e faz atividade física. “Desde o diagnóstico, não parei de caminhar. Ando de 7 km a 9 km por dia e me sinto muito mais disposta.”

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