O diagnóstico de depressão pode ser mais simples em homens do que em mulheres na maioria dos casos.
Porém, o grande obstáculo ou problema é trazê-los ao consultório para uma entrevista, pois existem muitos fatores que dificultam essa vinda: a extrema correria do mundo moderno com enorme falta de tempo. Ainda existe um resíduo da síndrome do super-herói masculino, então o homem, apesar de já estar sem energia (pois depressão num conceito reducionista é falta de energia física e psíquica), ainda acredita que “dá conta” das responsabilidades. Existe também grande dose de preconceito e muitos homens enxergam o deprimido como um “fraco” e a depressão como uma “frescura”, além da vergonha.
Esses obstáculos dificultam o diagnóstico de depressão nos homens, e muitos vivem em estado depressivo ou subdepressivo, pagando o preço de má qualidade de vida, mau humor, cansaço excessivo, queda de produtividade entre outros diversos sintomas.
Existem diversos fatores que contribuem para os homens terem mais dificuldade em admitir que apresentam depressão, e estes fatores compreendem variáveis culturais, educacionais, religiosas, sociais, econômicas, entre outras. O homem primitivo entendia a depressão como um castigo dos deuses ou dos demônios, portanto davam uma causalidade religiosa à depressão; e ainda hoje muitos creditam depressão à ação de forças espirituais. Posteriormente, com a construção de um estereótipo ou modelo masculino no qual o homem tinha que ser forte, onde só os mais fortes sobreviviam, qualquer tipo de fraqueza ou de fragilidade desmerecia a “masculinidade”. Ser depressivo era ser fraco ou vulnerável, desta forma um homem não poderia ser depressivo. O homem de hoje carrega essa bagagem na construção da própria imagem: vem daí inclusive a expressão vulgar “homem não chora”, como se tivesse que se sobrepor a qualquer sentimento. Homens de ferro com uma base de barro…
Eu arriscaria dizer que a grande dificuldade em admitir a depressão é o profundo desconhecimento do que seja a doença. Quando atendo pacientes masculinos e lhes explico o que é depressão, prontamente entendem que é uma doença que compromete o “computador central” o cérebro, e que tem tratamento. E a maioria deles adere ao tratamento.
As consequências de não admitir a depressão podem ser perigosas, pois o cérebro é o órgão que comanda todas as demais funções orgânicas. Se ele está com algum problema de “queda de energia”, progressivamente todo o organismo será comprometido. Existem trabalhos científicos mostrando maior incidência de infarto e AVC nos pacientes depressivos, também existe maior associação entre depressão e outras doenças como câncer, diabetes, entre outras. Mas o mais preocupante é a pessoa viver com uma qualidade de vida ruim.
Nesse processo, a família e os amigos podem ajudar muito. Lembro que ajudar não é ficar cobrando, e nem apontando criticamente que a pessoa está mal e doente, no caso deprimido. Ajudar é estender a mão, dialogar, apontar saídas, mostrar matérias, estudos, casos de amigos que já tiveram o problema e leva-los a procurar um profissional competente.