Matar a família para ressuscitar o filho mais velho, morto há três anos. Foi essa a “ordenação divina” que o motorista José Amado Borba, de 57 anos, disse ter recebido para justificar à polícia o assassinato do seu filho caçula e da mulher a facadas, além de tentar matar o sobrinho na manhã de sexta-feira (20) na Rua Tupi, em Santa Cecília, região central de São Paulo.
Borba chegou em casa à meia-noite, quando o filho mais novo, Gustavo Silva Borba, de 13 anos, e o primo Mateus, também de 13, dormiam na sala. Por volta das 8 horas, Mateus foi acordado por um “pisão” em sua cabeça dado pelo tio, que brigava com a mulher, Silvana Aparecida Silva Borba, de 53 anos, e com o filho. Ele portava uma faca de cozinha e gritava frases como “Deus mandou”.
O motorista, então, partiu para cima do sobrinho, mas foi impedido pelo filho e a mulher, já bastante ferida, que pularam nas suas costas. Os três caíram no chão. Mateus, então, conseguiu fugir correndo do apartamento, que fica no 6º andar, e ainda tirar a tia. Quando tentava levar também o primo, seu tio puxou Gustavo de volta e fechou a porta. Quebrada, a fechadura não abria do lado de fora.
Mateus desceu no elevador com Silvana até o térreo e tentou chamar o síndico no 1° andar, além de outra moradora, que chamou a polícia. Os oficiais da 3ª Companhia do 4º Batalhão da Polícia Militar chegaram cerca de três minutos depois. Quando foram ao apartamento, encontraram Borba tentando sair, com uma faca na mão – Gustavo já estava morto, vítima de um golpe na altura do pescoço.
Armados, os policiais deram ordem para o motorista parar e largar a faca no chão. Com as mãos para cima, Borba foi se abaixando lentamente, mas após soltar a arma, saiu correndo e foi contido pelos oficiais. Segundo relato dos PMs, ele estava transtornado e resistiu à prisão em flagrante.
Aos policiais, o motorista confessou ter cometido o crime. “Recebi uma ordenação divina para matar minha família para que meu filho voltasse”, disse aos PMs. O casal tinha três filhos. O mais velho, Maurício, era advogado e morreu há três anos, em decorrência de uma doença súbita. Já o filho do meio, de 21 anos, estava viajando quando o crime aconteceu.
Com cortes na região do tórax, Silvana esperou cerca de 15 para ser socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ela foi encaminhada ao Hospital Santa Casa em estado grave, onde morreu. Mateus teve um ferimento superficial no abdômen e passa bem. Aos policiais, Borba teria afirmado que também pretendia matá-lo.
Segundo vizinhos, a família era tranquila e não costumava discutir ou brigar. Em 2014, contudo, Silvana registrou um boletim de ocorrência por agressão contra o marido no 98º Distrito Policial (Jardim Miriam). A familiares, ela teria dito que tinha de esconder as facas do apartamento com medo de Borba.
O delegado Omar Guerke, plantonista do 91º Distrito Policial (Ceagesp), onde o caso foi registrado, informou que o motorista foi autuado por duplo homicídio qualificado e tentativa de homicídio. Também foi solicitado ao Instituo Médico Legal (IML) exames toxicológico e de embriaguez para saber se Borba fez uso de drogas ou estava embriagado.