Dizendo ter sido guiado por “espíritos de luz”, o pedreiro Gean Rocha Rodrigues, 35 anos, contou ontem na polícia o que havia feito na igreja Nossa Senhora Aparecida, na Vila Aparecida em Monte Aprazível: invadiu o prédio e carregou o sacrário de metal dourado achando que fosse cofre.
Ao chegar em casa, abriu o sacrário e tudo o que viu foi cerca de 50 hóstias consagradas. “Eu abri e comi tudo”, disse ele ao Diário. Gean foi preso depois de ter voltado ao local do crime para “pesquisar” o valor do objeto e saber se haveria recompensa para quem achasse e devolvesse para a igreja. Foi a senha para a polícia.
Gean disse que é espírita e contou que, da porta da igreja, avistou uma nota de R$ 5 próxima. Tentou pegá-la com um arame, e como não conseguiu resolveu abrir a porta. “Eu não arrombei. Eu forcei um pouquinho e disse que ela se abrisse em nome de Jesus. Quando peguei a nota, vi uma luz muito forte e meus espíritos de luz me guiaram para que eu levasse o sacrário”, afirmou.
A Polícia Militar foi chamada, por volta das 4h30 da manhã, por vizinhos da paróquia, que notaram a porta principal do templo religioso aberta. Ao chegar ao local, paroquianos informaram aos policiais que o sacrário havia sido levado. Em determinado momento, Gean voltou à igreja e começou a perguntar às pessoas que estavam lá quanto valia o produto e de que material era feito.
Essa atitude chamou atenção da polícia, que desconfiou dele. De acordo com o boletim de ocorrência, Gean chegou a perguntar se a igreja pagaria uma recompensa se o objeto fosse encontrado. Uma das pessoas que estava no local disse que pagaria uma quantia de R$ 200 para quem recuperasse o sacrário.
Gean saiu da igreja, foi até a casa dele e voltou minutos depois carregando o sacrário e dizendo: “Achei, achei, jogado ali fora”. Ao ser questionado pela polícia, ele confessou ter pego o objeto e foi conduzido a delegacia da cidade. De acordo com a polícia civil de Monte Aprazível foi arbitrada fiança de R$ 1 mil, como Gean não tinha dinheiro para pagar a quantia, ele foi encaminhado para a carceragem da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Rio Preto. A pena para o crime de furto é de um a quatro anos.
O pedreiro mora sozinho em uma casa próxima a igreja. Ele tem três filhos, sendo que dois deles, de 3 e 6 anos moram com a ex-mulher e o outro de 8 anos mora, com o avô (pai de Gean) em uma casa ao lado. Gean disse que não está arrependido, mas afirmou que pediria perdão. “Me disseram que é muito importante para a igreja, eu não quis desrespeitar.
Eu já fui batizado, já frequentei igrejas como evangélicas, eu tenho a minha fé. Tudo tem um propóstito e eu acredito que tudo isso aconteceu porque é preciso ter união entre as religiões. Meu sonho é subir num púlpito. Eu quero pregar aos viciados e aos presos, inclusive já comecei”, disse.
Avaliado em torno de R$ 6 mil, o sacrário estava localizado em cima de um pedestal no centro do altar. Segundo informações da assessoria de imprensa da igreja, o acusado precisou desparafusar o objeto, que foi devolvido chamuscado por fogo e ontem mesmo foi levado para restauração. O sacrário é feito de metal e pintado na cor dourada. O responsável pela igreja Nossa Senhora Aparecida, o frei Francisco disse que perdoou Gean. “O importante são as hóstias que são consagradas e que são Jesus vivo”, ressaltou.
A Igreja Católica considera “profanação” furtar e comer hóstias consagradas, como fez o acusado. Composta de farinha e água, a hóstia era produzida artesanalmente, mas hoje já existem fábricas que produzem em série.