Quando tinha nove anos de idade, Pedro Loverde, então morador da região de Araçatuba, começou a entalhar, com seu canivete, pequenos bonecos de madeira. Logo aprendeu a fazer piões, um dos brinquedos típicos de sua infância.
Não parou mais. Nascido em Potirendaba (SP), em 1925, filho de um italiano da Sicília e de uma descendente dos índios caigangues, aos seis meses a família o levou para Araçatuba. Pedro cresceu trabalhando na lavoura, mas sempre achava tempo para fazer seus trabalhos em madeira.
Aos 23 anos, mudou-se para Fernandópolis, onde conheceu e se casou com Rosa Mininel. Passou a derrubar matas na propriedade do sogro, Emílio Mininel, e durante 40 anos trabalhou na lavoura do café. Depois – entre 1970 e 1972 – chegou a exercer a profissão de sapateiro. Uma cirurgia o levou à aposentadoria e à dedicação integral à escultura.
Na década de 70, foi um dos artistas a expor no Salão de Arte da Semana Universitária de Fernandópolis, então já ao lado do filho, Onivaldo, também habilidoso escultor.
PRIMITIVISTA
Com um estilo considerado “primitivista”, a temática da obra de Pedro Loverde vem da observação das coisas do campo – carros de boi, animais – e do folclore, como a Folia de Reis e as lendas do interior do Brasil.
Os instrumentos, além do velho canivete, são o formão-goiva, o formão chapado, a lixa, a grosa e a enxó. As madeiras prediletas do escultor são a aroeira, o cedro, o mogno e a cerejeira: “Madeira de abacate também é excelente”, revela.
Até o próximo dia 19 de dezembro, Pedro participa da mostra que está sendo realizada no Fórum da Comarca de Fernandópolis (Avenida Raul Gonçalves Junior, Jardim Santa Rita), e os nomes das obras ali expostas confirmam essa tendência de estilo pelos próprios nomes: “Carro de Boi”, Folia de Reis”, “Zito Forró”, “Chiquinho da Espada” e muitos outros.
A exposição faz parte do projeto “Arte e Cultura no TJ”, iniciativa do Tribunal de Justiça de São Paulo, e conta com o apoio da Secretaria Municipal da Cultura de Fernandópolis. “Seu” Pedro apoia a iniciativa, que considera importante para os artistas da cidade.
É também o que pensa a pintora Dagmar Souza, cujos quadros podem ser vistos na mostra. Para Dagmar, “é fundamental que o trabalho desses artistas locais seja divulgado. Ninguém produz para engavetar ou guardar num armário”.
Sobre o trabalho de Pedro Loverde, hoje com 89 anos, Dagmar se considera “vitoriosa” por tem convencido o octogenário a participar do evento. “Ele tem muito talento”, afirma.
O filho Onivaldo aproveita para contar uma pequena história do patriarca.
Em 1989, ao ser entrevistado por uma repórter da TV Cultura, por ocasião do Cinquentenário de Fernandópolis, Pedro Loverde usou a expressão “moringar”, que na gíria da época significava criar, conceber, bolar. A repórter não
aguentou: “Puxa, esse “verbo” eu não conhecia!”, disse, espantada. Mas, defato, as esculturas de Pedro Loverde são muito bem “moringadas”.