“Prefeito, acorda aí. Mataram todos os policiais da cidade e estamos à mercê dos bandidos. Vê o que você pode fazer aí.” Esse é o diálogo que o comerciante João Luiz de Oliveira, 42, diz ter tido na madrugada de 10 de dezembro com o prefeito de Pedregulho, José Raimundo de Almeida Júnior (PMDB) –o gestor confirma o teor da conversa.
O município de 15.940 habitantes, a 433 km de São Paulo, conhecia naquela madrugada o que pelo menos outras dez cidades da região de Ribeirão Preto já tinham passado em meses anteriores.
Um grupo com cerca de 20 criminosos armados, boa parte deles com fuzis (que conseguem perfurar até blindados), invadiu a cidade em um comboio de veículos para furtar caixas eletrônicos.
Os PMs não foram mortos –o comerciante havia exagerado em seu relato ao prefeito–, mas fugiram, o que deixou a cidade sob domínio dos criminosos por 20 minutos.
Nesse período, os bandidos fizeram disparos para o alto para demonstrar o domínio do território, ameaçaram moradores e fugiram levando o dinheiro de caixas eletrônicos. “Voltamos ao tempo do Lampião”, disse um policial.
Os PMs, que temem ser punidos pela corporação, pediram anonimato.
Em pequenos municípios do interior paulista, o patrulhamento é feito, muitas vezes, por apenas dois PMs em carro sem blindagem e armados com pistolas. Os coletes à prova de balas não suportam armas potentes.
São vários os relatos dos policiais que precisaram recuar dos criminosos, muitas vezes fora da cidade. “A gente queria chegar até lá, sabia o que estava acontecendo, mas também sabia que iríamos morrer. É uma sensação muito desagradável, de impotência”, afirmou outro PM.
Em pelos menos uma cidade, Buritizal, os colegas relatam que bandidos chegaram a perseguir os PMs, que só escaparam porque se esconderam num canavial com faróis dos carros apagados.
O último registro de ações do grupo do “Fuzilzão”, como alguns policiais o chamaram, foi em 23 de janeiro em Orlândia –o segundo caso na cidade em menos de seis meses.
Na madrugada, o grupo com fuzis se instalou em importante avenida da cidade, fez a PM recuar e explodiu os caixas. “Isso aqui virou o inferno”, afirmou um policial.
Em algumas cidades, em razão das ações das quadrilhas, os PMs estão sendo obrigados a estacionar em frente aos bancos na madrugada. “Agora viramos alvo ainda mais fácil”, disse um PM.