O governo pretende comprar um microssatélite de R$ 145 milhões para fazer o monitoramento da devastação da floresta amazônica. O empenho da verba (quando o governo separa o dinheiro para um determinado objetivo) foi feito pelo Ministério da Defesa. A informação foi publicada em reportagem desta segunda-feira (24) do jornal “O Globo”.
Atualmente, o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, faz o monitoramento via satélite do desmatamento da Amazônia por meio de alguns sistemas. O principal deles é o Deter, o sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real, criado em 2004.
Ao chegar ao Palácio do Planalto nesta segunda, o vice-presidente Hamilton Mourão, que comanda o Conselho da Amazônia, foi questionado sobre a compra do microssatélite. Para ele, o Brasil tem que ter “soberania” no monitoramento da floresta via satélite.
“A Defesa está providenciando isso daí. Existe satélite japonês, existe satélite de outras nações aí que você compra a imagem, mas você não tem soberania. Faz parte do programa espacial brasileiro, está dentro da agência espacial brasileira”, afirmou Mourão.
“Ele [o microssatélite] completa a cobertura do Censipam [Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia, ligado à Defesa]. Uma das antenas desse satélite será instalada aqui em Formosa [entorno de Brasília], e ela se estende até a nossa plataforma marítima”, completou Mourão.
Em declarações públicas, ele tem alegado que há desinformação sobre a Amazônia, citando as queimadas. Ele afirmou ainda que o país sofre pressão da comunidade internacional em torno da preservação da floresta.
O vice-presidente disse ainda que o novo satélite vai completar o sistema que o país já possui.
O pesquisador do instituto de pesquisa sobre a Amazônia Imazon, Carlos Souza Junior, explica que a tecnologia utilizada em microssatélites conseguem, de fato, gerar dados refinados sobre a área monitorada. Porém, para isso, é preciso ter vários microssatélites atuando em conjunto.
“Este tipo de satélite é que foi desenvolvido para ser lançado em dezenas, centenas em uma mesma área, formando uma constelação de satélites que consegue captar um nível de resolução mais fina da imagem monitorada”, explica Souza.
Souza lembra que, além dos sistemas de monitoramento do Inpe, o Imazon também monitora e calcula as áreas em desmatamento no país e já utiliza imagens de microssatélites.
“Por meio do projeto Map Biomas Alerta, já utilizamos imagens de todos os biomas de uma constelação de microssatélites comerciais. Temos dados refinados por biomas e regiões. Foi por meio deles, por exemplo, que conseguimos mostrar que 90% do desmatamento no Brasil é ilegal”, explica.
O ambientalista afirma que a tecnologia de microssatélites é válida para monitorar com precisão o desmatamento, mas não basta comprar somente o equipamento, é preciso saber operá-lo.
“Quando você compra um satélite, está comprando o produto apenas. Vai precisar de recursos para operacionalizar a tecnologia, depois vai precisar de uma inteligência computacional, que não é trivial, para dar conta de processar o volume de dados. Senão, vamos ficar atolados em dados”, diz Souza.
“O problema ambiental do Brasil não é a falta de dados sobre o desmatamento. Já temos estes dados refinados de todos o país”, complementa o pesquisador.
O G1 pediu informações sobre o microssatélite ao Ministério da Defesa, questionando se será adquirida um conjunto do produto ou somente um. Também questionou a capacidade técnica e operacional da pasta em gerar a tecnologia, e até o momento não teve retorno.
Em nota enviada ao “Globo”, o Ministério da Defesa disse que o Censipam elabora desde 2016 o Projeto Amazônia SAR, com o objetivo de implantar o Sistema Integrado de Alerta do Desmatamento por Radar Orbital (SipamSAR), com tecnologia capaz de monitorar o terreno mesmo sob nuvens.
Desmatamento na Amazônia
No início do mês, o Inpe divulgou que de agosto de 2019 até o dia 31 de julho deste ano houve alertas de desmatamento em 9.205 km² da floresta, um aumento de 34,5% no período de um ano.
Se comparados apenas os dados dos meses de julho de 2020 e 2019, houve queda neste mês: em 2020, os dados apontam 1.654 km² de áreas com alertas de desmate. No ano passado, o total foi de 2,2 mil km².