Uma semana depois de assumir o Palácio dos Bandeirantes, o governador Rodrigo Garcia (PSDB), pré-candidato à reeleição, montou um gabinete itinerante com seu secretariado para rodar o interior. O objetivo é aumentar sua taxa de conhecimento entre os eleitores paulistas (85% não sabem que ele é o governador de São Paulo, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira, 8) e estreitar vínculos com os prefeitos, a quem o tucano costuma chamar em conversas reservadas.
Com um estilo diferente de seu antecessor, João Doria (PSDB), de quem se afastou, Garcia trocou os grandes encontros com prefeitos no Palácio dos Bandeirantes por viagens de ônibus. A estratégia é turbinada por um programa de R$ 1 bilhão que distribui tratores, ambulâncias, caminhões e outros veículos ao municípios.
As viagens seguem um script predefinido. Enquanto o governador comanda uma reunião do secretariado com prefeitos na cidade visitada, técnicos se dividem em estandes de uma espécie de Poupatempo político, onde recebem representantes dos executivos municipais para catalogar e destravar as demandas locais.
O encontro sempre termina com um discurso do tucano após entrega dos veículos que fazem parte do programa Nova Frota SP. Para evitar problemas com a Justiça Eleitoral, a verba de R$ 1 bilhão para aquisição de mais de 3 mil veículos e maquinários está vinculada ao orçamento do ano passado.
Após assumir o cargo, no dia 1.º de abril, e assinar o termo de posse em uma mesa de plástico na unidade do Bom Prato de Paraisópolis, Garcia mudou-se com a família de seu apartamento no Jardins para a ala residencial do Palácio dos Bandeirantes, que era usada por Doria apenas para almoços e jantares.
Estilo
Nascido em São José do Rio Preto, o novo governador frequenta o palácio desde os 20 anos, quando era auxiliar de Mário Covas. Seus assessores contam que seu estilo é diferente do de Doria e admitem que a relação entre os dois estremeceu após o pré-candidato à Presidência ameaçar desistir de deixar o cargo no dia 31 – e recuar em seguida.
Questionado sobre isso, Garcia é econômico. “Ele é candidato à Presidência da República e está andando pelo Brasil enquanto eu estou aqui cuidando de São Paulo como governador”, disse.
Tempo
A única semelhança em relação a Doria é a rigidez com o tempo das falas dos secretários. “Quem cumprir o tempo (de dois minutos) ganha um chocolate, quem descumprir leva multa”, disse o governador na reunião em Piracicaba nesta sexta-feira, 8.
Na etapa seguinte, quando falou em um auditório, o governador sabia o nome dos prefeitos e lembrava as obras e demandas de cada cidade ali representada, uma performance que lembrou Geraldo Alckmin. Dos cinco governadores com quem trabalhou, o hoje ex-tucano é o que mais tempo foi “chefe” de Garcia.
Outra semelhança com Alckmin é o discurso moderado e cauteloso. Apesar do clima de euforia nos bastidores com o resultado da pesquisa Datafolha, na qual apareceu com 11% das intenções do voto no cenário sem Márcio França (PSB), Garcia se recusou a falar de eleição na rápida entrevista para a imprensa local.
Um auxiliar do governador, porém, disse que “é lógico” que o grupo ficou feliz com o resultado da pesquisa, por mostrar que ele tem a menor rejeição e amplo espaço para aumentar sua taxa de conhecimento entre eleitores.
Sobre eleição, Garcia só abriu uma exceção quando questionado sobre o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), com quem apareceu empatado na pesquisa. “Tivemos uma queda vertiginosa de investimentos federais no Estado em todas as áreas. Se estabeleceu uma guerra que é ruim para São Paulo. São Paulo foi para o fim da fila”, disse.
No fim da agenda, Garcia se viu num dilema antes de seguir para a cidade seguinte. Foi convencido a ir a um restaurante tradicional com auxiliares e o prefeito de Piracicaba, Luciano Almeida (UB). O pré-candidato reclamou que preferia ter ficado mais tempo tirando selfies e conversando com prefeitos.