Quem assiste à novela “Morde e Assopra” das 19:30 na rede Globo pode perceber alguns pontos inverossímeis na obra de Walcyr Carrasco, contudo, o texto não deixa de ser saboroso. O autor dá vida aos seus personagens partindo de figuras dramáticas imortalizadas na literatura, como o emblemático Frankenstein. Com ampla simbologia, os nomes também carregam a alegoria que cada um representa na história. Ícaro, da mitologia grega, criou, junto com seu pai, Dédalo, asas para conseguirem sair do labirinto onde encerrara o minotauro, criatura metade homem, metade besta que se alimentava de carne humana. Pois bem, o Ícaro moderno criou a robô, Naomi, por não ter conseguido lidar com a dor da perda de seu grande amor.
No entanto, numa noite muito misteriosa, a verdadeira Naomi chega. Descobre-se então que ela não estava morta, e sim em coma depois do acidente, no qual, o marido, pensara que a tivesse perdido para sempre. Trazendo junto de si um filho e debaixo de uma baita chuva, no momento em que ambas estão em rota de colisão, criação e criatura, a robô, sendo carregada na energia sofre uma grande descarga elétrica e “pifa”. Muito simbólico, já que na obra referida no título, Frankenstein, de Mary Shelley, clássico da Literatura Inglesa e readaptada para a TV, cinema e teatro inúmeras vezes, dentre elas “Edward – mãos de tesoura” e “O Clone” que está sendo reprisado na mesma emissora no horário das 14:40, a mesma descarga elétrica é que dá vida à criatura que Victor Frankenstein resolve criar com partes de cadáveres. O jovem Victor sempre curioso desde pequeno, cético e inconformado com algumas respostas que obtinha sobre morte e religião, resolve estudar medicina e criar uma pessoa, no entanto, ele o faz da matéria morta.
Com o tema da romancista pautado nos limites éticos, religiosos e científicos, o romance se desenrola pelo viés contrastivo da vida e da morte. E o que há de comum entre as três historias principais e todas as suas nuances é a criação. O que nos resta é esperar pelos próximos capítulos do folhetim e ver o que nos aguarda com tantos enigmas, já que nos laboros referidos acima nenhum dos criadores tem um final muito ditoso ao tentarem brincar de Deus.