Um fotógrafo e ambientalista do município de Novais (SP), relata os momentos de terror que viveu após salvar seu cachorro de um ataque de uma sucuri de mais de 7 metros, em uma represa da cidade. José Alaor Gomes também foi atacado e precisou passar por atendimento médico.
José, que percorre matas da região fotografando animais, conta que, como de costume, estava em uma represa da cidade, no dia 17/02, acompanhado de seu cão Zeus – pastor alemão que está com ele há dois anos e meio.
“O Zeus gosta muito de nadar e estava nadando na represa, quando, de repente, eu vi ele afundar como se tivesse tido um mal súbito ou algo do tipo. De imediato eu até imaginei que pudesse ser alguma armadilha para capivaras, onde não pensei duas vezes e já mergulhei para tirar ele da água. Quando eu puxei ele para cima, eu vi a cobra enrolada nele”, conta.
O fotógrafo afirma que lutou com a cobra por cerca de 40 minutos, até conseguir soltar o cachorro que pesa cerca de 45 quilos. “Quando eu consegui soltar o Zeus, ela atacou minha mão. Felizmente eu estava com um facão na cintura e consegui bater nela, até que ela também me soltasse”, diz Alaor, que afirma que a serpente tinha mais de sete metros de comprimento.
Após sair do lago, José foi para casa e buscou atendimento médico para ele e socorro veterinário para o cão. Por causa do ataque da cobra, humano e animal sofreram infecções e precisaram tomar antibióticos, porém, felizmente já estão bem.
Com 47 anos de idade, o fotógrafo diz que nunca imaginou que pudesse passar por uma experiência tão traumática como esta, em toda sua vida e que está tendo pesadelos à noite após o ataque.
“Eu nunca imaginei que, dentro da cidade, eu pudesse sofrer um ataque tão brutal por um animal desse porte. Gostaria que meu caso servisse de alerta para todas as pessoas e que tomem cuidado com seus animais, principalmente perto de lagos e represas, sempre andar com coleiras e jamais deixá-los sozinhos”, alerta.
Sucuris: as maiores serpentes do mundo
Segundo o Instituto Butantan, as sucuris, também conhecidas como anacondas, pertencem ao gênero Eunectes, que faz parte da família Boidae, grupo que também engloba as jiboias, salamantas e periquitamboias. Isso significa que o nome popular “sucuri” não designa uma única espécie, mas, sim, um conjunto de quatro espécies que habitam a América do Sul (três delas vivem em território brasileiro).
Apesar de serem evolutivamente da mesma família, jibóias, sucuris e periquitamboias são serpentes que diferem bastantes entre si na aparência, hábitos e tamanho. Porém, também possuem algumas semelhanças, como o fato de não serem peçonhentas.
As sucuris são as maiores serpentes do mundo em termos de massa, além de disputarem o recorde de serpente mais longa do planeta com a também gigante píton-malaia.
“Assim como as demais serpentes, as sucuris crescem durante toda a sua vida. Sucuris grandes, com mais de cinco ou seis metros, são animais raros de serem encontrados. Demora uns bons anos para que, na natureza, um animal atinja esse tamanho”, afirma o técnico do Laboratório de Herpetologia do Instituto Butantan, Daniel Stuginski.
As sucuris geralmente caçam por espreita, emboscando possíveis presas próximas às margens dos rios. Apesar de não possuírem peçonha, elas são animais de porte grande e usam de sua força como principal artifício para caçar. Elas se enrolam ao redor da presa, constringindo-a. Dessa forma, o animal fica imobilizado, é abatido por consequência da asfixia ou do choque cardiorrespiratório e, depois, é engolido pela serpente.
As sucuris são capazes de se alimentar de presas de grande tamanho. “Animais como jacarés, capivaras, porcos-do-mato e até mesmo antas jovens podem ser predados por sucuris” explica Daniel.
“Por serem oportunistas e caçarem por espreita, as sucuris, de maneira geral, não se alimentam muito frequentemente. Dependendo do caso, uma sucuri adulta consegue passar o ano fazendo com poucas refeições, com três ou quatro grandes refeições. Isso porque, além de serem capazes de ingerir presas grandes, as taxas metabólicas desses animais são baixas. Ou seja, elas são ótimas em economizar energia”, completa o cientista do Butantan.
Ainda que algumas sucuris possam atingir um grande tamanho e ter força suficiente para predar um humano adulto, não fazemos parte do cardápio delas. Apesar de não podermos descartar a possibilidade de um animal excepcionalmente grande ser capaz de ingerir um humano, em especial crianças ou adultos pequenos, isso não é, de forma alguma ocorrência rotineira.
“O fato é que nós, seres humanos, é que somos os grandes predadores nesta relação, perseguindo e exterminando uma enorme quantidade de sucuris e outras serpentes todos os anos, por conta do nosso medo e, principalmente, do pouco conhecimento em relação a esses incríveis animais”, finaliza Daniel.