Quase uma semana após o começo do resgate de mais de trezentos bois vítimas de maus-tratos em Cunha, cidade a 230 quilômetros da capital paulista, a expectativa é que o rebanho seja transferido para um santuário. “A nossa preocupação é o bem-estar do animal, estamos fazendo o possível para que eles sobrevivam”, disse em entrevista ao Estadão, a presidente da Comissão de Direito dos Animais da OAB, Erika Cunha. Atualmente, uma parcela dos animais já está no Centro de Exposição do município, alojamento temporário cedido pela prefeitura de Cunha. O caso veio à tona na última quarta-feira, 2, após uma denúncia anônima feita à Polícia Ambiental.
A maioria do gado é formada por bezerros de até seis meses de idade. Todos estavam em condições precárias: sem água, sem comida e em um espaço coberto por lama. O crime aconteceu em uma fazenda localizada no bairro Santa Cruz. Os acusados são proprietários da empresa Mashia Agropecuária, que segundo Erika Sampaio, foi identificada pela polícia como um sistema de pirâmide. “No instagram eles tinham o mote: Lucre com gado sem pisar na lama, ou, Compre gado de dois mil reais em doze vezes e lucre 500 reais. Ou seja, é 25% de doze meses”, explica.
Os posts mencionados pela ativista já foram excluídos da página da empresa nas redes sociais. Os responsáveis foram multados em R$ 906 mil e devem responder por crime de maus-tratos.
Desde a semana passada, ONGs se reuniram para montar uma força-tarefa para a remoção dos bovinos, entre elas, Arca da Fé de Resgate Animal, Grupo de Resgates de Animais em Desastres (GRAD), ONG Ara – Búfalas de Brotas, pessoas que atuaram após o rompimento da barragem de Brumadinho e ativistas. No local, voluntários encontraram em uma única vala nove animais mortos. E outros dois sem vida em uma área da fazenda. Seis bezerros em situação grave foram levados para o Instituto Luisa Mell.
Até o momento, foram transferidos mais de 280 animais para o alojamento provisório, revela Erika. Eles foram encaminhados de acordo com o estado de saúde que cada um apresentava, alguns seguem com quadro de desnutrição e doenças na região dos olhos. Ainda segundo Erika Cunha, os dados divulgados na semana passada – que mencionava 302 animais – são imprecisos. “Só vamos identificar a quantidade correta [de animais] com o protocolo sanitário e a nova contagem”, afirma.
Com muitas regiões com lama até o joelho, a ativista reforça que o Centro de Exposição não é um local adequado a longo prazo. “Eles [gados] ainda estão em trechos de lama no recinto, estamos tentando soltar eles no campo. Mas embora tenha mato, a grama também não suporta o peso”. Agora a urgência é recuperar os animais para que eles sejam transferidos assim que possível para o santuário. “A gente precisa tirar eles da água porque eles podem hipotermia”. Os voluntários também necessitam de mantas e cobertores para a continuidade do trabalho.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que além do crime de maus-tratos, também “foram constatados crimes contra a flora”.
COM A PALAVRA, OS PROPRIETÁRIOS DA EMPRESA MASHIA AGROPECUÁRIA
Até a publicação desta matéria, a reportagem do Estadão ainda não havia conseguido contato com os acusados. O espaço está aberto para manifestação.
COM A PALAVRA, A POLÍCIA AMBIENTAL
A equipe entrou em contato com a Polícia Ambiental por telefone, mas, até a publicação deste texto, não houve retorno sobre o andamento do caso. O espaço está aberto para manifestação.