O Fundo Monetário Internacional (FMI) praticamente não alterou as previsões para o crescimento da economia brasileira em 2021 e 2022, em meio a incertezas em torno da trajetória da pandemia, do impacto das restrições adotadas por diversos governadores e prefeitos sobre a economia e, ainda, do ritmo da vacinação contra a covid-19 no país.
Segundo o relatório Panorama Econômico Mundial divulgado nesta terça-feira (06/04) durante a reunião anual da entidade, o FMI calcula que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil crescerá 3,7% neste ano, uma alta de 0,1 ponto percentual em relação ao relatório divulgado em janeiro. Para 2022, a organização manteve a projeção de uma alta de 2,6% do PIB.
A projeção da entidade para o PIB brasileiro em 2021 está acima do estimado pelo Ministério da Economia (uma alta de 3,2%). Para a economia mundial, o FMI revisou a projeção de crescimento em 2021 de 5,5% para 6%.
O crescimento previsto para o Brasil é menor do que o estimado para alguns países da região severamente afetados pela pandemia, como o México, cujo PIB deverá aumentar 5% em 2021 – um crescimento de 0,7 ponto percentual em comparação à estimativa divulgada em janeiro – e 3% em 2022, segundo o FMI.
Porém, a economia brasileira sofreu menos o impacto da pandemia em 2020, apresentando um recuo de 4,1% contra 8,2% dos mexicanos. A diferença acontece devido à falta de medidas de apoio do governo mexicano à renda das famílias e empresas.
Mesmo assim, o Brasil deverá crescer menos do que a média dos países da América Latina e Caribe (4,6%), das economias avançadas (5,1%) e dos países emergentes (6,7%). De acordo com o relatório, “após forte queda em 2020, apenas uma recuperação leve e de diferentes velocidades é esperada na América Latina e Caribe em 2021”.
“Graças à recuperação global da manufatura no segundo semestre de 2020, o crescimento superou as expectativas em alguns grandes países exportadores na região”, afirmou o organismo, citando Argentina, Brasil e Peru.
O FMI prevê uma taxa de desemprego no Brasil de 14,5% em 2021 e de 13,2% em 2022. Já as estimativas para a inflação são, respectivamente, de 4,6% e 4%. O centro da meta oficial para a inflação brasileira em 2021 é de 3,75% e, para 2022, de 3,5%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Falta de vacinas para a população
O relatório do FMI afirma que o desenvolvimento de vacinas, conjugado com as adaptações de diversos setores, permitiram uma recuperação mais forte do que a prevista anteriormente em várias economias.
A entidade indica que, embora ainda haja uma grande incerteza sobre a evolução da pandemia em todo o mundo, uma saída da crise econômica e sanitária está cada vez mais visível, e chama a atenção que a maioria dos países da América Latina e Caribe ainda não garantiu vacinas suficientes para imunizar suas populações.
Segundo o FMI, a América Latina é uma das regiões onde a maioria dos países não garantiu vacinas suficientes, com exceção de México, Chile e Costa Rica. “O cenário a longo prazo continua a depender da trajetória da pandemia”, afirma o relatório.
O Fundo diz que o apoio fiscal dado por algumas economias para seus habitantes e empresas, especialmente os EUA com seu plano de resgate da economia, elevou as perspectivas econômicas mundiais. Segundo o FMI, a contração de 3,3% da economia global em 2020 poderia ter sido três vezes maior sem essas medidas de apoio.
O FMI indica que a economia chinesa já retornou ao patamar pré-crise e a americana deverá voltar neste ano. Porém, vários países poderão ver essa retomada somente em 2023.
A crise deverá reverter também os ganhos na redução da pobreza. Segundo cálculos da entidade, um adicional de 95 milhões de pessoas entrou na linha de extrema pobreza em 2020 e, ainda, mais de 80 milhões de subnutridos.
“A desigualdade de renda nos países provavelmente aumentará, pois os jovens trabalhadores e aqueles com habilidades relativamente inferiores permanecerão mais afetados, não apenas nos mercados avançados, mas também emergentes e economias em desenvolvimento”, destaca o Fundo.
“No último grupo de países, as taxas de emprego feminino permanecem abaixo dos homens, agravando essas disparidades”, acrescenta.
O relatório destaca ainda a importância das políticas de distanciamento social para reduzir as consequências da pandemia. “Distanciamento social, vacinas e tratamentos têm ajudado a desacelerar o avanço do vírus e salvado vidas”, afirma o documento.
O texto afirma que principalmente as economias desenvolvidas deverão disponibilizar amplamente as vacinas para suas populações em meados de 2021, porém, na maioria dos países isso somente será alcançado no segundo semestre de 2022.
“A implantação da vacina será escalonada entre as regiões, com alguns países saindo da crise muito mais cedo e com novas cepas forçando bloqueios ocasionais e localizados antes que as vacinas se tornem amplamente disponíveis”, conclui o relatório.