sábado, 23 de novembro de 2024
Pesquisar
Close this search box.

Fisioterapeuta negra é atacada com casca de banana em Rio Preto

A fisioterapeuta Naikelly Gomes, de 22 anos, vivenciou a experiência de muitos jogadores de futebol em todo o mundo, no último fim de semana, em São José do Rio Preto,…

A fisioterapeuta Naikelly Gomes, de 22 anos, vivenciou a experiência de muitos jogadores de futebol em todo o mundo, no último fim de semana, em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. A reportagem gostaria de contar aos leitores que a jovem foi aclamada por milhares de torcedores, mas não foi o que aconteceu. Naikelly foi vítima de racismo, atacada com uma casca de banana.

O episódio repugnante aconteceu em um ponto de ônibus perto dos prédios Rio d´Itália. Na ocasião, ela estava de costas para a rua e se despedia do namorado, quando sentiu o impacto contra suas costas.

“Eu senti que havia sido atingida e me virei, demorei alguns segundos para entender o que estava acontecendo e quando tive a certeza de que fui atacada por uma casca de banana, cai aos prantos, fiquei muito abalada”, relembra com a voz embargada pelo choro.

A casca de banana foi arremessada de um carro preto. Ela e o namorado não conseguiram anotar a placa, nem observar se o veículo era conduzido por um homem ou por uma mulher.

Perplexa com a agressão que sofreu, a jovem fez um relato em suas redes sociais, que resultaram em dezenas de curtidas e comentários de apoio.

“Eu fui muito apoiada nas redes sociais, muitas meninas comentaram dizendo que passavam ou já passaram por isso. Também fui muito apoiada pela minha mãe, que não é negra, mas sempre me mostrou, desde pequena que o problema não estava em minha cor, nem em meus cabelos, mas sim no preconceito das pessoas”, disse.

Na infância, Naikelly sofreu racismo na escola.

“Os comentários eram maldosos, terríveis. Na escola me apelidaram de escrava, faziam comentários ruins sobre o meu cabelo. Isso me entristecia, me deixava constrangida e eu demorei muitos anos para aceitar a minha beleza, o meu cabelo e todas as características da mulher negra”, relembra.

“Os episódios eram vistos pelos responsáveis e que deveriam dar apoio, como ‘normal, coisa de criança’. Mas me recordo de uma professora, a Eunice, que era negra; ela foi a primeira pessoa que me explicou sobre a nossa ancestralidade, o que era o racismo, o por quê o racismo acontecia e de como deveríamos ser fortes e nunca aceitar qualquer tipo de humilhação ou violência por causa da cor da pele. Racismo é crime e nós temos os nossos direitos”.

Ciente da situação, a advogada e ativista antirracismo, Drielle Belon, do coletivo Maria Livre (do qual Naikelly também faz parte), orientou a vítima a registrar um boletim de ocorrência e se prontificou a acompanhar o caso.

“Além de repugnante, o caso se trata de injúria racial grave. Dependendo da condição, a pena pode chegar até cinco anos de prisão, sem o pagamento de multa. A orientação é que todas as vítimas denunciem, registrem o boletim de ocorrência, porque assim o caso é investigado. Essa pessoa que fez isso tem que ser encontrada pelo policiamento investigativo. Há câmeras de segurança naquela região que podem ter flagrado o ataque, e essa pessoa merece uma punição severa”, afirmou a advogada.

A ativista também analisa o Brasil como um país misógino e preconceituoso.

“É perceptível que nos últimos anos ficou mais que evidente que os ‘ratos saíram do porão’, porque essas pessoas preconceituosas foram encorajadas a isso. Faz mais de 100 anos que a escravidão foi abolida no Brasil e não foi espontâneo, mas sim por uma imposição internacional. E até hoje, em pelo ano de 2023, a população ainda sofre com isso, ainda mais a mulher negra. Essa realidade em uma cidade como São José do Rio Preto é assustadora”, conclui.

Notícias relacionadas