Centenas de lugares vazios nos estádios dos primeiros jogos da Copa do Mundo evidenciam o que, em termos financeiros, a Fifa já sabia: nem todos os ingressos para os jogos do Mundial conseguiram ser vendidos.
Neste sábado, torcedores ainda podem solicitar no site da Fifa entradas para 29 dos 64 jogos do torneio, sem sequer a necessidade de passar por um cambista. Não há garantias de que todos sejam atendidos. Mas dirigentes que acompanham Mundiais há anos admitem que essa realidade incomodou a cúpula da organização, que esperava anunciar estádios sempre repletos.
Apenas na partida entre Uruguai e Egito, na sexta-feira, a estimativa é de que 6 mil lugares de um estádio de 33 mil não tinham sido preenchidos. Na Fifa, a ordem foi a de investigar a situação, que causou certo mal-estar entre os organizadores diante das imagens de fileiras inteiras vazias, até em setores mais nobres das arquibancadas.
De acordo com a entidade, 32,2 mil ingressos foram alocados. “O fato de que o público não reflita o montante de ingressos alocados pode se dar por vários motivos e a Fifa está investigando”, declarou a entidade, por meio de um comunicado.
Um dos problemas é que parte dos ingressos vai para os patrocinadores, que nem sempre conseguem garantir que seus convidados estejam no jogo. Outro problema tem sido a capacidade de cambistas profissionais de obter centenas de entradas. Se eles não os vendem, aqueles locais permanecem vazios.
Na Rússia, a lei estipula que um cambista pode ser multado em 25 vezes o preço do produto que está oferecendo. Mas a Fifa admite que a prática continua e que chegou a ser obrigada a abrir um processo nos tribunais contra empresas que se apresentavam como intermediários.
Nas portas dos estádios, os cambistas também agiam em Moscou sem qualquer incômodo. A reportagem do Estado recebeu, em apenas 20 minutos, duas ofertas de entradas para a abertura da Copa, jogo que apenas teve seus últimos ingressos vendidos dois dias antes da partida.
Apesar de sua proximidade com as capitais da Europa Ocidental, os números mostram que a Rússia não conseguiu gerar a mesma renda em termos de ingresso que a Copa de 2014, no Brasil. Dados obtidos com exclusividade pelo Estado revelam que o Mundial da Rússia vai gerar uma renda de US$ 495 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão) em ingressos. Pelo menos 40% desse valor virá dos torcedores russos.
Apesar de a Copa atingir uma receita recorde, o volume da bilheteria ficou abaixo dos US$ 518 milhões (R$ 1,9 bilhão) obtidos pela Fifa no Brasil, há quatro anos. Naquele momento, eram os torcedores brasileiros que garantiram a maior fatia dos lucros e representaram 60% de todos os ingressos vendidos.
De acordo com a Fifa, 2,4 milhões de ingressos já foram vendidos para o evento deste ano. Outros 120 mil ainda estão no mercado. Mas a presença da Europa Ocidental é relativamente fraca, sendo que 871 mil foram para mãos de torcedores russos, contra 88,8 mil para residentes dos Estados Unidos, que não disputa a Copa. O Brasil vem na terceira posição, com 75 mil.
O primeiro europeu apenas aparece na quinta posição, com a Alemanha somando 62 mil ingressos. Uma posição ainda mais distante está a Inglaterra, com 32 mil ingressos vendidos e abaixo até da Austrália.
Os pacotes VIP também registraram uma queda na Rússia, em comparação a 2014. Os documentos confidenciais apontam para vendas de US$ 360 milhões, contra mais de US$ 620 milhões obtidos pela Fifa no Brasil.