A imagem da Virgem Maria com o seio à mostra, amamentando Jesus, exposta no presépio do Largo da Glória, na Zona Sul do Rio, já causou as primeiras reações.
O padre Wanderson José Guedes, que confeccionou a peça, conta que na madrugada desta terça alguém mudou o menino Jesus de posição para esconder o seio da santa. O religioso afirmou ainda que já recebeu algumas mensagens no Facebook desaprovando a iniciativa de humanizar Maria.
A imagem substituiu, à meia-noite do dia 24, a de Maria grávida sobre o burrinho, que integra a representação inaugurada no último dia 9 pelo arcebispo Dom Orani Tempesta. A peça feita pelo padre ficará exposta até o dia 6 de janeiro.
— Quando eu comecei a fazer o menino Jesus sem roupa no presépio também houve reação, as pessoas colocavam panos nele. Isso faz parte, é um trabalho lento de humanização do divino e demanda muito tempo. Não é de uma hora para a outra que vamos tirar esse conservadorismo e puritanismo que se instalou na Igreja — opina o padre Wanderson.
Segundo o padre, a Igreja precisa se reaproximar da realidade dos fiéis. A iniciativa, no entanto, não tem agradado a todos. Desde que instalou o presépio com a Virgem Maria com o seio à mostra, já recebeu quatro mensagens no Facebook dizendo que ele deveria abandonar a Igreja por contrariar seus ensinamentos. O padre discorda:
— Acho que essas iniciativas (como colocar Maria amamentando) agregam. É um Deus que vive a realidade do povo, e foi para isso que Jesus veio. Ele sofreu conosco, sentiu nossas dores e emoções. Tirar a humanidade de Jesus no cristianismo é viver uma religião etérea. A proposta do cristianismo é a encarnação do divino no humano, sem isso não teria novidade nenhuma. O cristianismo é a possibilidade de o homem tocar Deus, e isso toca na nossa humanidade.
A ideia de colocar a mãe de Jesus com um dos seios à mostra surgiu numa tentativa de alertar sobre os constrangimentos sofridos por mães que amamentam em público. Além disso, aproximar-se do cotidiano e despir-se do conservadorismo, segundo o padre, pode ajudar a incentivar uma aceitação maior das diferenças.
— As diferenças sempre incomodaram grandes instituições, porque elas fazem as coisas saírem da sua rotina pré-estabelecida. A tendência de olhar a diferença com repúdio é perigosa porque gera exclusão. Como fazer para que Deus chegue a casais em segunda união ou casais homoafetivos? A Igreja tem que estar presente para eles, ou Jesus também não veio para eles? Nosso desafio de hoje é esse. Não podemos perder nossa identidade, mas temos que buscar formas de dialogar e mostrar que aqui tem lugar para todos. Esse foi o grande desafio de Jesus no seu tempo.