domingo, 24 de novembro de 2024
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Festa bolsonarista tem oração, tropa e hostilidade à imprensa

Com rojões, gritos de “chora, PT”, “vai pra Cuba que o pariu” e “ô, ô, ô, Bolsonaro é amor”, selfies com polegar e indicador estirados para simular arma e hostilidade…

Com rojões, gritos de “chora, PT”, “vai pra Cuba que o pariu” e “ô, ô, ô, Bolsonaro é amor”, selfies com polegar e indicador estirados para simular arma e hostilidade à imprensa, eleitores se reuniram em frente a um sapo inflável gigante na avenida Paulista, neste domingo (28). O candidato do coração deles, Jair Bolsonaro (PSL), foi eleito presidente do Brasil.

O anfíbio, parte de uma campanha da Fiesp contra “engolir sapo” (impostos), foi o ponto de partida para uma caminhada de poucos metros e muitos percalços até o Masp -numa festa que contou com uma paródia do funk “Baile de Favela” (“as minas de direita são a top mais bela/ enquanto as minas de esquerda têm mais pelo que cadela”).

A dez minutos do fim da eleição, simpatizantes do capitão reformado e de Fernando Haddad (PT) se envolveram numa briga que, com socos e pontapés de sobra, invadiu uma pista da avenida.

Tudo começou quando dois grupos antagônicos começaram a discutir, ainda na esportiva, sobre qual candidato sairia vencedor neste domingo.

O que no início era uma implicância com clima de brincadeira degringolou para uma pancadaria assim que um homem (que não estava em nenhuma das turmas) avançou aos gritos contra o técnico de informática Raphael Mello, 36, vestido com uma camisa amarela em apoio a Bolsonaro.

O agressor acusou Raphael de estar “provocando” e tentou lhe dar um murro. “Achou que eu era qualquer bosta e veio agredir”, contou enquanto um amigo, ao saber que ele falava com uma repórter da Folha de S.Paulo, disse “a teta tá acabando”.

“A gente não quer brigar, só quer comemorar porque acha que Bolsonaro é o melhor para o Brasil”, disse Raphael após a confusão se dissipar com a chegada de uma viatura policial. Os PMs foram aplaudidos por bolsonaristas e petistas.

Mais tarde, o batalhão de choque avançaria contra adolescentes reunidos no vão do Masp, um rolezinho. Bolsonaristas disseram que alguns deles estavam os roubando.

“Deixa os ratos correrem”, disse um militante no caminhão de som onde o deputado estadual eleito pelo PSL Douglas Garcia, 24, discursou contra a “esquerda nojenta que por muito tempo tomou conta do país”.

Douglas é cofundador do movimento Direita São Paulo e do bloco carnavalesco Porão do Dops.

Marcello Reis, do Revoltados Online, foi outro com a palavra. A quem acusa de fascismo simpatizantes de Bolsonaro, disse: “Fascista é o cu da sua mãe”. Um Pai Nosso foi puxado minutos depois.

O apresentador Otavio Mesquita também teve sua vez no microfone. Contou que foi um apoiador de primeira hora do capitão reformado, ao contrário de muito “artista petista”. “Vamos provar que somos educados. Se vocês encontrarem algum petista, não os maltratem, eles também são seres humanos”, afirmou.

A imprensa que acompanhava a celebração foi hostilizada pelos primeiros bolsonaristas a chegar. Sob fogo constante do presidente eleito, a Folha de S.Paulo foi o veículo mais atacado por eles, que chegaram a tentar expulsar esta repórter e uma outra, por a associarem erradamente com o jornal. “Vai escrever matéria na Venezuela”, “Folha lixo” e “vai pra Cuba que o pariu” estavam entre os gritos de guerras direcionados à jornalista.

Um único eleitor do capitão reformado, dos então dezenas reunidos na esquina, defendeu o jornal, após se identificar como liberal. “Sou Bolsonaro, mas liberdade de imprensa acima de tudo.”

A Rede Globo também não era bem vista (“chupa, Globo!”), enquanto a Record tinha predileção confessa. A emissora pertence ao bispo Edir Macedo, que endossou Bolsonaro.

Não são todos que dão cheque em branco para o futuro presidente do Brasil.

O diretor comercial André Ribeiro, 48, conta que só votou 17 porque PT, definitivamente, não lhe cai bem.

“Não sou apaixonado por Bolsonaro. Se ele for mal, virei protestar. Quem tem bandido de estimação é petista”, diz aos goles de um “viño de la tierra de Castilla”, tinto espanhol -exceção vermelha que aprecia.

A taça de vidro trazida de casa ele guarda na garupa acoplada à sua bicicleta, onde descansa a golden retriever Claire, com um lacinho rosa e a bandeira brasileira amarrada no corpo.

A auxiliar administrativa Ariane Domingues, 24, foi direto da missa para a Paulista, ela e mais quatro amigas (que preferem não dar o nome).

Acham que “o Brasil tá muito cheio de mimimi” e que “todo esse vitimismo” não leva a lugar algum.

Perto dali, uma ambulante vendia por R$ 25 uma camisa rosa em que uma clássica imagem feminista (uma mulher fazendo muque) ganhou repaginação. No braço dela, os dizeres “ele sim”. Com informações da Folhapress.

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