Depois de despencarem ao longo de 2020, primeiro ano da pandemia da Covid-19 marcado por medidas de isolamento social, os casos de dengue explodiram em 2021 em cidades do interior de São Paulo.
O retorno da população às ruas com a flexibilização das medidas restritivas, aliado a uma espécie de apagão nos cuidados com os criadouros de mosquitos Aedes aegypti, impulsionou o avanço da doença no ano passado.
O potencial de novos casos em razão das chuvas intensas registradas neste verão já preocupa em algumas regiões do interior, especialmente porque os sistemas públicos e privados de saúde estão sobrecarregados com a explosão de casos da variante ômicron da Covid-19 a partir de janeiro.
Dados da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo apontam que o estado registrou 143,8 mil casos de dengue em 2021, com 64 mortes pela doença.
São José do Rio Preto e Tatuí foram municípios que mais registraram casos no ano passado, seguidos de São Paulo, Piracicaba, Santos, Marília, Cubatão, Fernandópolis, Campinas e Andradina.
Em São José do Rio Preto (442 km de São Paulo), foram 20.884 registros da doença, atingindo mais de 4% da população, estimada em 470 mil habitantes. Ao todo, sete pessoas morreram com a doença na cidade em 2021, contra quatro no ano anterior.
Em nota, a prefeitura atribuiu o surto do ano passado à circulação do subtipo 1 do vírus, o mesmo que provocou a epidemia de dengue de 2019, ano em quando o país registrou 754 mortes pela doença, maior número desde o início da série histórica, em 1998.
Para combater a situação, diz a prefeitura, foram intensificados os protocolos de bloqueio e controle de criadouros, com nebulização, fiscalização de pontos estratégicos e imóveis especiais e atendimento de denúncias.
Por conta da pandemia de Covid-19, as campanhas de prevenção e campanhas em parceria com a Secretaria da Educação foram realizadas de forma virtual, por meio das mídias sociais.
Ao mesmo tempo em que enfrenta uma pressão do sistema de saúde com casos de dengue, São José do Rio Preto também lida com um dos quadros mais graves de contaminação pela variante ômicron do coronavírus no estado.
Na primeira semana do ano, a cidade teve alta de 70% na procura por atendimento de pessoas com sintomas de síndromes respiratórias.
Até o dia 18 de janeiro, a cidade estava com ocupação acima de 100% da capacidade máxima reservada para ala de pacientes com Covid-19 no Hospital de Base (eram 41 leitos de UTI e 40 leitos de enfermagem).
Diante do quadro, o estado abriu novos espaços de internação e, até o dia 20, havia 55 pacientes em UTIs (22,7% dos 242 leitos disponíveis) e 136 em enfermagem (38% dos 358 existentes) com quadros mais complicados da doença.
Em Tatuí (142 km da capital), foram 19.694 casos de dengue no ano passado, número que equivale a 16% da população da cidade. Ao mesmo tempo em que enfrenta uma explosão dos casos de dengue, a cidade também vive aumento das hospitalizações por Covid-19.
O município está com 37% das UTIs (três de oito leitos disponíveis) e 68% dos leitos clínicos (15 dos 22 existentes) ocupados por pacientes com Covid-19, segundo boletim epidemiológico da prefeitura. Procurada, a prefeitura de Tatuí não retornou o contato da reportagem.
As chuvas intensas e o aumento das temperaturas neste verão são outro problema. Municípios estão em alerta para prevenir um novo surto da doença em 2022. Entre 1º e 17 de janeiro deste ano, o estado de São Paulo registrou 351 casos de dengue e um óbito pela doença.
Neste início de ano, as cidades com maior número de casos de dengue foram Alto Alegre (39), São Paulo (34) e Tanabi (26).
Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo informou que o “enfrentamento ao Aedes é uma tarefa contínua e coletiva” e que, conforme “diretriz do SUS (Sistema Único de Saúde), o trabalho de campo para combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor de dengue, compete primordialmente aos municípios”.
Prefeituras informam que intensificaram ações de prevenção. A cidade de Presidente Prudente (511 km da capital), por exemplo, divulgou em dezembro o balanço de casos positivos para dengue na cidade e emitiu um alerta da Vigilância Epidemiológica Municipal.
A cidade teve 2.194 casos e uma morte em 2021, além de cinco positivos de chikungunya. O munícipio declarou que as medidas contra a disseminação de arboviroses como dengue, zika e chikungunya devem ser preventivas.
Coordenadora do Programa de Arboviroses da prefeitura de Campinas, Heloisa Malavasi diz que houve uma mudança no comportamento da população em relação à dengue após a flexibilização iniciada após o início da vacinação contra a Covid-19.
A presença dos moradores em casa no início da pandemia refletiu-se em uma melhor manutenção de calhas, corte de galhos e árvores, limpeza de caixas dágua e quintais, entre outras atividades que diminuíram a população de mosquitos.
“No começo da pandemia, em 2020, as pessoas tiveram justamente um maior cuidado em relação a esses criadouros”, disse a Malavasi.
Ela ainda afirmou que a fiscalização municipal tem encontrado muitos ovos do mosquito em reservatórios guardados de forma inadequada: “As pessoas voltaram a descuidar [dos possíveis focos de mosquito]”.
Campinas não teve ainda novos casos confirmados de dengue neste mês, mas aguarda resultados de exames de casos suspeitos da doença. A cidade registrou 250 casos em janeiro de 2020 e 92 em janeiro 2021.
A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo destacou a importância das principais medidas de prevenção contra dengue, como deixar a caixa dágua bem fechada e realizar a sua limpeza regularmente.
Também reforçou a necessidade de retirar dos quintais objetos que acumulam água; cuidar do lixo, mantendo materiais para reciclagem em saco fechado e em local coberto; eliminar pratos de vaso de planta ou usar um pratinho que seja bem ajustado ao vaso; além descartar pneus usados em postos de coleta das prefeituras.