Joseane Priscila Castro Consoni, atualmente com 33 anos de idade, mãe de uma filha já adolescente, viveu a maior parte de sua vida em Fernandópolis-SP, onde cresceu e constituiu uma família. Graduada em Geografia pela FEF, lecionou até meados de 2010. Parece mais uma história comum, porém trata-se de uma vida sofrida, desde a descoberta de sua patologia, no ano de 2006. Neste ano, sofreu um episódio de perda súbita da força motora do lado direito do corpo. Sem ainda possuir um diagnóstico conclusivo, no ano seguinte a doença desenvolveu-se de forma silenciosa, com manifestações traiçoeiras, como ligeiros cansaços físicos. Em 2008, novo episódio de perda da força motora, com dificuldades na fala. Hospitalizada por diversas vezes, chegou-se ao diagnóstico conclusivo: miocárdio não compactado com Insuficiência Cardíaca Congestiva classe funcional III/IV, doença esta que compromete o funcionamento adequado do coração, prejudicando sua função levar sangue a todo o corpo, incluindo o próprio coração. A família foi orientada à buscar ajuda na cidade de São Paulo, pois um transplante de coração estava indicado num futuro breve. Assim se fez, entre lutas, dificuldades inúmeras, lagrimas e sorrisos, orações e muita fé. No ano de 2010, em uma das suas internações na capital paulista, foi diagnosticado outro problema não relacionado ao já conhecido. Necessitou de duas cirurgias de urgência, internações na UTI e várias transfusões sanguíneas. Superada esta fase, em 2011 foi encaminhada para temida fila de transplante de coração, o que desencadeou à sua mudança definitiva para São Paulo, visto ter se tornado extremamente desgastante arriscada a rotina de viagens àquela cidade. Abandono conjugal veio também a agravar seu estado, devido ao trauma psicológico. No decorrer do ano, sua saúde piorou bruscamente, permanecendo internada em tempo integral desde outubro até hoje, sem sair do quarto do hospital, período que a patologia cardíaca passou a afetar os demais órgãos do corpo, sobretudo rins. Foi necessária sua inclusão na lista de prioridade de transplante cardíaco, bem como, já em dezembro passado, necessitou a realização de sessões de hemodiálise.
Aparentemente a solução para a vida desta jovem é simples. Entretanto, nosso país ainda engatinha no que tange à todo o processo de conscientização e captação de órgãos. Apesar de haver amparo legal favorável à doação de órgãos, na prática ainda há muito a desejar. O programa nacional de transplantes tem organização exemplar. Cada estado tem uma Central de Notificação, Captação e distribuição de Órgãos que coordena a captação e a alocação dos órgãos, baseada na fila única. A Portaria nº 1.752 MS, de 23 de setembro de 2005, preconiza que todos os hospitais brasileiros públicos, privados ou filantrópicos, com mais de 80 leitos, devem estar providos de CIHDOTTs (Comissões Intra Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para transplante). Basta olhar ao redor para ver que isso não ocorre de fato. Ainda, segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), houve uma queda na taxa de transplante de órgãos torácicos entre 2007 e 2011, sendo uma redução de 3,6% para o coração. O transplante cardíaco, realizado em 27 centros de nove estados, não cresceu nos últimos 10 anos, e não parece estar relacionado diretamente ao número de doadores.
Por fim, tomemos por exemplo o caso da jovem Joseane e vamos nos conscientizar acerca da doação. É importante que fique claro que a pessoa deve manifestar à família o desejo de doar seus órgãos, pois à esta cabe o direito de permitir a doação ou não.
Para Joseane, este é, sem dúvida, o caminho para sua segunda chance de vida, seu nascer de novo. Para ela e para todos que esperam um transplante, a espera é psicologicamente tão cruel quanto a própria patologia, mas é também a única arma que possuem.