No dia 8 de janeiro de 2019, o casal Andresa e Ramon Veronezzi Zorzzetto, então moradores de Cosmópolis, na região de Campinas, entraram no carro com apenas uma mala e dirigiram por mais de 300 quilômetros até Rio Preto. Durante todo o trajeto, na frente deles estava a ambulância, ocupada pela equipe médica e o filho Matheus, com apenas um mês de vida.
Os três haviam deixado o Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti/Centro de Atenção à Saúde Integral da Mulher (CAISM), onde o recém-nascido passou 34 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal, e seguiram com destino ao Hospital da Criança e Maternidade (HCM). Matheus havia conseguido uma vaga na unidade para ser operado pela equipe do Serviço de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular Pediátrica, coordenada pelo médico Ulisses Crotti.
Diagnosticado com Síndrome da Hipoplasia do Coração Esquerdo (SHCE) – uma anomalia cardíaca complexa geralmente identificada na vida fetal -, o estado de saúde do menininho era grave. Andresa e o marido não tiveram tempo para pensar no futuro. A filha Maria Gabriela, hoje com 11 anos, ficou com a avó enquanto os dois viajaram para salvar a vida do caçula, que antes de completar dois anos de idade já passou por duas cirurgias. As duas bem sucedidas.
“Em nenhum dos exames que fiz na gravidez foi apontado que o Matheus tinha um problema de saúde. A gestação foi tranquila e tudo foi muito saudável. Ele só nasceu um pouco prematuro. Só que, dias após o nascimento ele foi ficando fraco, só queria dormir e o tom da pele foi ficando roxo. Foi quando um médico percebeu que algo não estava normal e encaminhou ele para a Unicamp, lá eu tive a notícia avassaladora de que a situação era grave e ele já foi intubado”, conta Andresa.
Matheus nasceu na Santa Casa de Misericórdia de Cosmópolis. O hospital, de acordo com a Andressa, não possuía os recursos necessários para um atendimento mais especificado e só realizava partos em gestantes fora do grupo de risco.
“Eu não tive nenhum indício da síndrome na gravidez. Mas hoje vejo a importância da realização do ecocardiograma em gestantes e os médicos precisam falar mais sobre isso”, analisa.
Mudança de vida
Para acompanhar o tratamento de Matheus, toda a família passou por uma mudança radical de vida. O casal alugou um apartamento na Vila São Manoel e Maria Gabriela veio morar com os pais. A rotina com o bebê recém-operado era difícil – com retornos médicos quinzenais, Matheuzinho precisava de mais atenção e a família se sustentou por um tempo com a ajuda dos familiares.
Ramon, que havia deixado o emprego de motorista de transporte escolar, tornou-se vendedor, mas, com o início da pandemia, foi demitido e ficou desempregado. Para pagar as despesas, o casal teve uma ideia e Andresa foi para o fogão fazer uma das coisas que mais gosta: cozinhar.
“Olha o cachorro-quente”
Com mãos de fada para fazer um purê de batata incrível e um molho de tomate sensacional, Andresa arregaçou as mangas, foi para Cosmópolis e levantou uma boa grana vendendo o tradicional hot dog paulista.
“Como ninguém me conhecia em Rio Preto, eu tinha medo de investir na compra dos produtos e ficar no prejuízo. Então, eu ia para Cosmópolis e vendia muito cachorro-quente lá, levantava um dinheiro bom e voltava para Rio Preto e pagava as contas aqui. Foi quanto tive a ideia de divulgar o cachorro-quente e chamei a Dani Valente (atriz). Ela postou no Instagram dela e todo mundo começou a pedir”, conta.
As encomendas são feitas com antecedência e a venda dos lanches é feita todas as quintas-feiras. Por semana, Andresa vende em torno de 50 hot dogs. Os preços variam de R$ 12 a R$ 15, os recheios são tradicional, bacon + frango e calabresa + frango.
“Eu conto com a ajuda da minha filha, que é a melhor ajudante que eu poderia ter. Mas nosso sonho mesmo é ampliar o negócio e fazer disso a nossa única fonte de renda”, explica.
Após a estabilidade da família na cidade, Ramon arrumou um novo emprego e, por enquanto, não tem tempo para ajudar a mulher na produção dos lanches.
“Ele é o nosso coração”
Diferentemente de quando nasceu com a saúde debilitada, atualmente Matheuzinho esbanja energia. Com quase dois anos de idade o menino pula, brinca e, segundo a mãe, “tem uma energia inacreditável”.
“O Matheus é muito ativo, é carinhoso, amoro e tem energia de sobra. Ele não para! Ele ainda está desenvolvendo a fala e o andar, porque passou muitos meses em tratamento com medicamentos fortes, mas ele é uma criança linda. Diante dessa situação, eu nunca quis que meu filho fosse visto como um coitado. O meu filho é luz, é vida, ele é um guerreiro. O meu filho trouxe para a nossa família o que nos faltava: alegria. Ele é o nosso coração!”, emociona-se.
Os pedidos podem ser feitos pelo perfil do Instagram HOT DOG Paulista – Rio Preto ou pelo whats: 19 99433-0047.