Prestes a completar 80 anos na terça-feira, o Autódromo de Interlagos poderá ter uma boa notícia neste mês. A organização do GP do Brasil de Fórmula 1 acredita que assinará um novo contrato com a direção da categoria até o fim de maio e conseguirá, assim, manter a corrida na cidade de São Paulo por mais dez anos. O Rio de Janeiro também pretende sediar a prova em um autódromo a ser construído no bairro de Deodoro.
“As negociações para renovar o contrato de F-1 estão avançando bem e acreditamos concluir o processo também até o final de maio”, disse o promotor do GP do Brasil, Tamas Rohonyi, ao Estado. Ele não revelou detalhes sobre as conversas com a cúpula da Fórmula 1, que já admitiu negociar também com o Rio.
No fim do ano passado o Estado revelou que São Paulo pretende pagar como taxa anual de promoção à categoria cerca de US$ 20 milhões (aproximadamente R$ 115 milhões na cotação atual) Os recursos viriam de parceiros comerciais. A organização da F-1 cobra um valor variável para todos os países que sediam suas corridas, porém desde 2017 o Brasil não paga a taxa.
O GP do Brasil deste ano está marcado para 15 de novembro, mas está sob risco. A pandemia do novo coronavírus bagunçou o calendário deste ano de tal forma que o campeonato ainda nem começou e colocou em dúvida diversas etapas da temporada. Inicialmente, a previsão era de um recorde de 22 corridas em 2020. Agora a F-1 trabalha com um planejamento de 15 a 18. Dez etapas já foram adiadas ou canceladas, caso dos GPs da Austrália, França e Mônaco, completamente descartados.
Em contato com o Estado, a cúpula da categoria não confirmou se a prova brasileira estará no calendário deste ano. A F-1 explica que pretende abrir o campeonato com o GP da Áustria, em 5 de julho, e nos meses seguintes deseja realizar provas nos outros continentes, inclusive nas Américas. A competição vai terminar em dezembro com as etapas do Bahrein e de Abu Dabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Em um cenário mais pessimista, o octogenário autódromo paulistano pode não receber mais etapas da F-1, se o GP brasileiro não for realizado neste ano e caso São Paulo não consiga renovar o contrato com a Formula One Management (FOM), empresa que gere os direitos da categoria.
Nada disso abala a organização do GP do Brasil. “Os promotores do GP Brasil de F-1 acompanham o trabalho da FOM para estabelecer um calendário do campeonato deste ano dentro das limitações conhecidas. Fomos informados que o novo calendário será publicado até o final de maio, quando os ingressos para o GP Brasil serão colocados à venda. Pelas previsões das autoridades sanitárias não deve existir restrição para a realização da prova em novembro conforme previsto”, disse Rohonyi.
ÍCONE DO AUTOMOBILISMO NACIONAL – Se o cenário for mais otimista, com a eventual renovação do contrato, o Autódromo de Interlagos reforçará ainda mais a sua relevância nacional e internacional, apesar da futura concorrência com o circuito planejado para ser erguido no bairro de Deodoro, no Rio.
Caso seja confirmado no calendário deste ano, Interlagos sediará uma prova oficial da F-1 pela 38ª vez, sendo a 31ª consecutiva. Neste período, o autódromo recebeu vitórias de alguns dos maiores pilotos nacionais da história, como Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna, Felipe Massa e José Carlos Pace.
A importância de Interlagos para a cidade também é econômica. Segundo estimativas da própria prefeitura, no ano passado a prova gerou um impacto de R$ 361 milhões. Hotéis com lotação quase máxima, movimentação de restaurantes e a presença de turistas de vários países da América do Sul fazem o GP do Brasil ser um dos maiores eventos de São Paulo. O público presente na prova do ano passado foi de 158 mil pessoas.
O autódromo também é um dos espaços públicos da cidade mais buscados para quem quer organizar eventos. De acordo com dados do site da Prefeitura, em 2018 o local foi reservado para 412 compromissos. De corridas de variadas categorias até festivais musicais e gravações de comerciais, a agenda lotada rendeu ao município R$ 9,8 milhões entre taxas de aluguel e ressarcimentos
Somente a entrada desses recursos garante o superávit das contas relativas ao autódromo. Também em 2018, a prefeitura gastou R$ 7,7 milhões com manutenção, contas de água e luz e pagamento de seguranças. Para realizar a Fórmula 1, a capital paulista investe pesado todos os anos, porém tem um bom retorno. Em 2019, a Secretaria de Turismo destinou R$ 38,9 milhões para a realização do GP.