“É justificável que as mulheres recebam 0,2% do dinheiro?”, perguntou Klas Tjebbes, presidente do FC Rosengard, da Suécia, à publicitária Inger Molin durante um almoço em janeiro de 2015.
“Não, não é”, foi a resposta de Molin sobre a porcentagem destinada pela Uefa ao futebol feminino do total que é investido na Champions League. Aos homens, a entidade repassa 99,8% do montante de investimentos com o torneio.
Nos balanços publicados pela Uefa, o futebol feminino é incluído na seção “Outras competições”, que engloba torneios de futsal e competições de base europeias.
Foi a partir da indagação de Klas Tjebbes que Inger Molin teve a ideia de se debruçar sobre essa história. Dona de uma produtora audiovisual, pediu permissão ao presidente para ter acesso ao dia a dia do Rosengard e documentar a dificuldade do clube de se manter com a falta de investimentos e apoio da entidade que controla o futebol europeu.
Lançado no ano passado, “Football for Better or for Worse” (Futebol para Melhor ou para Pior, em inglês) é uma das atrações da nona edição do festival Cinefoot, que reúne filmes e documentários sobre futebol e terá exibição em São Paulo a partir deste sábado (29), no Museu do Futebol, no Pacaembu -o evento se encerra na quarta-feira (3).
Eleita a melhor jogadora do mundo pela Fifa na última segunda (24), a brasileira Marta jogou no Rosengard de 2014 a 2017 e é uma das personagens centrais do documentário.
“Marta é um ícone, a marca mais forte do futebol feminino e é claro que ela foi um importante ativo para o Rosengard em relação aos patrocínios existentes e ajudando a atrair novos patrocinadores. Mesmo assim, isso não mudou o fato de que o clube tinha uma batalha diária para manter as finanças no lugar”, afirma a diretora Inger Molin, em entrevista à Folha.
Além do Cinefoot, o documentário já foi exibido em festivais de cinema dedicados ao esporte nos Estados Unidos e também no Canadá.
Espalhar a discussão sobre o tema faz com que Molin sinta ter cumprido seu papel com o filme.
“Eu só quero gerar uma discussão, a qual espero que também afete as pessoas que tomam as decisões. Se a gente começa a falar sobre as desigualdades, tornando visíveis as estruturas que estão invisíveis, estamos mais próximos de fazer com que as coisas mudem. Estou certa de que o filme pode contribuir com isso”, acredita.
Durante a passagem de Marta pelo Rosengard, o clube caiu duas vezes nas quartas de final da Champions League. Para a diretora sueca, suas habilidades não eram usadas da melhor forma pelo treinador. A filosofia de jogo da equipe inibia o talento da brasileira. “Marta é uma humilde jogadora de equipe. Só que ela é uma superestrela”, diz.
Inger Molin comemora o fato de que o prêmio de melhor jogadora do mundo recoloque a história de vida de Marta nos holofotes.
Porém, assim como seu documentário discute mas não transforma sozinho, ela crê que só a publicidade atraída pelo troféu não é capaz de iniciar mudanças significativas no desenvolvimento do futebol feminino. Na sua visão, as mulheres já fazem sua parte, mas é preciso que os homens também participem ativamente desse processo.
“Tudo se resume a uma questão de gênero. A mudança demanda que os homens que estão nas federações tenham um profundo e verdadeiro entendimento e respeito pelo futebol feminino. Que eles realmente pensem que é tão importante quanto o masculino. Esse é um desafio para os homens, mas nós precisamos acreditar que eles são capazes de mudar. Eles podem!”, completa Molin.
9º Cinefoot
Local: Auditório do Museu do Futebol, Pacaembu – Praça Charles Miller s/n
Datas: 29.set a 3.out
Preço: Entrada gratuita