A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS) investiga se o ex-diretor do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Luiz Carlos Wilke obteve enriquecimento ilícito durante sua gestão no serviço, entre 2010 e 2014.
Nesse período, foi realizado contrato de R$ 9,9 milhões por um serviço de tecnologia de informação por meio de “toughbooks” (tipo de notebook mais resistente) nunca utilizado no Samu. Ele foi alvo de uma auditoria da Controladoria-Geral do Município (CGM). O ex-funcionário pediu exoneração durante a apuração do caso.
A pasta descobriu que Wilke adquiriu, entre 2010 e 2014, uma casa avaliada em R$ 2,7 milhões, no Tucuruvi, zona norte da capital. O rendimento do ex-funcionário era de R$ 20 mil mensais e ele não declarava outros bens. A residência teria sido paga em dinheiro.
O Estado foi até a residência. Uma mulher atendeu o interfone e, ao ser informada de que Wilke era procurado, o chamou. O homem confirmou ser Wilke à reportagem, mas, quando soube o motivo da visita, disse que não havia ninguém com aquele nome no local. “Deve ser engano.” E desligou.
Em depoimento à secretaria, o ex-diretor afirmou que a casa não estava em seu nome e mora no local “de favor”. Ele ainda disse durante a sindicância que estava na residência como “caseiro” até poder pagar o imóvel.
A pasta também apurou que o imóvel já estava “havia algum tempo” à venda, com dificuldade para encontrar compradores. As “boas referências” do comprador e roubos frequentes teriam sido o motivo de a proprietária da casa conceder a Wilke o imóvel por comodato.
Toughbooks
O sistema de toughbooks adquirido sob autorização do ex-diretor foi considerado “ultrapassado” e “muito caro” no relatório da CGM. Os equipamentos estão guardados no almoxarifado do Samu e, segundo o controlador-geral do Município, Roberto Porto, nunca foram usados. “Com esse montante, o Município poderia ter adquirido 60 ambulâncias para o Samu”, disse ele ao Estado.
O contrato pelo serviço, feito com a empresa de tecnologia de informação Tevec, teve início em 28 de junho de 2012, sob a gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab, atual ministro das Cidades, e expirou em 28 de fevereiro de 2014.
Por meio de nota, Kassab informou que o processo “seguiu todos os trâmites exigidos pela legislação” e ressaltou que, mesmo na gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), o contrato seguiu ativo e os pagamentos foram realizados até 2014. Em nota, a secretaria informou que “tomará as providências cabíveis” ao fim da sindicância.
Já a Tevec afirmou que a implementação do sistema foi um “sucesso”, mas que, quando a nova gestão do Samu assumiu, decidiu não renovar o contrato “por contenção de gastos”.