Desde o início da pandemia, uma crença perigosa, espalhada em forma de fake news em redes sociais, tenta convencer que o tabaco pode ajudar a neutralizar o coronavírus. Acontece exatamente ao contrário: os fumantes têm maior risco para desenvolver mais sintomas da covid-19, além de serem mais propensos a ir ao hospital, em comparação às pessoas que não fumam.
Esta é a conclusão de estudo publicado no periódico Thorax, uma das publicações mais conceituadas do mundo. Esta segunda-feira, 31 de maio, é o Dia Mundial sem Tabaco, oportunidade para, mais uma vez, entidades, instituições e profissionais de saúde alertarem sobre os malefícios do fumo. “O tabaco é fator de risco para cerca de 50 doenças. Favorece a transmissão e o agravamento do quadro clínico causado pelo coronavírus”, afirma o médico pneumologista Diego Stefani Bizinoto, do Instituto de Moléstias Cardiovasculares – IMC, de Rio Preto.
E esta realidade torna-se ainda mais preocupante quando se descobre que os reflexos da pandemia da Covid-19 na saúde mental provocaram o aumento do consumo. Pesquisa recente divulgada pela Fiocruz revela que 34% dos fumantes brasileiros aumentaram a quantidade de cigarros consumidos neste período.
É, portanto, um problema de saúde pública. No Brasil, são cerca de 22 milhões de fumantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estima-se, ainda, que cerca de 156 mil pessoas morrem todos os anos por doenças associadas ao tabagismo.
Segundo o médico Diego, o estudo comprova que os fumantes têm maior risco de sofrer gama mais ampla de sintomas da covid-19 do que os não fumantes. Foram coletados dados de 2,4 milhões de pessoas do Reino Unido através de um aplicativo. Do total, 11% eram fumantes. Dos participantes, um terço relatou sentir-se mal fisicamente durante os 30 dias que duraram o estudo. Os fumantes, no entanto, eram 14% mais propensos a relatar os sintomas clássicos da covid-19 — tosse persistente, falta de ar e febre — em comparação com os não fumantes.
Além disso, os fumantes também eram mais propensos a relatar sintomas adicionais associados a uma infecção pelo vírus. Os fumantes tinham 29% mais probabilidade de relatar até cinco sintomas conhecidos da doença e 50% mais probabilidade de relatar mais de 10 sintomas. Os autores do estudo concluíram que ter mais sintomas adicionais de covid-19, como perda do olfato, dores musculares, diarreia, mostra que os fumantes experimentaram uma gama mais ampla de sintomas do que os não fumantes e, portanto, tiveram uma experiência mais grave da doença.
Outro detalhe é que os fumantes no estudo que testaram positivo para covid tiveram duas vezes mais probabilidade de ir ao hospital do que os não fumantes. O fumante, portanto, integra o grupo de risco para a covid-19. “Entre os pacientes que evoluem para as formas mais graves da Covid-19 estão os que têm diabetes mélito, hipertensão arterial, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e câncer. Todas essas doenças têm comprovada relação de causalidade com o tabagismo”, ressalta Diego.
Sua colega pneumologista Mariana Bilachi Pinotti explica que o tabaco causa diferentes tipos de inflamação e prejudica os mecanismos de defesa do organismo. Por esses motivos, os fumantes têm maior risco de infecções por vírus, bactérias e fungos. “Os fumantes são acometidos com maior frequência por infecções, como sinusites, traqueobronquites, pneumonias e tuberculose. Além disso, o consumo do tabaco é a principal causa de câncer de pulmão e importante fator de risco para doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), entre outras doenças”, destaca Mariana.
Narguilé e dispositivos eletrônicos também são vetores em potencial de transmissão. No uso do narguilé, é comum o compartilhamento das piteiras, expondo os usuários ao risco de contaminação e transmissão de várias doenças infectocontagiosas, entre elas, a covid-19. Isso também acontece quando um dispositivo eletrônico para fumar é utilizado por mais de uma pessoa.
Os pneumologistas ressaltam, porém, que o risco de contaminação e os danos maiores causado pelo vírus são mais um motivo para deixar de fumar, no entanto, os benefícios imediatos à saúde já bastam como justificativa para largar o vício. “Após 12 a 24 horas sem fumar, os pulmões já funcionarão melhor. E, à medida em que o tempo passa longe do tabaco, a pessoa constata nitidamente a enorme melhoria da qualidade de vida”, diz Diego.