Uma espécie de otimismo moderado toma conta de analistas estrangeiros que acompanham a economia do Brasil.
O fato de o líder nas pesquisas Jair Bolsonaro (PSL) ter como assessor econômico o liberal Paulo Guedes já não é suficiente para sustentar a euforia que se viu inicialmente.
A expectativa agora recai sobre medidas e nomes escolhidos na eventual gestão do candidato. Há especial expectativa em relação a quem será o ministro da Casa Civil e se Ilan Goldfajn deixará a presidência do Banco Central, como aventado semana passada.
A avaliação é que, enquanto não houver clareza sobre o rumo a ser adotado após a eleição e, principalmente, da posse, os investimentos estrangeiros em ativos e projetos de mais fôlego no Brasil devem ficar em banho-maria.
“As empresas multinacionais com as quais conversamos neste momento contam que vão esperar para ver”, afirma Alec Lee, analista para Brasil do Frontier Strategy Group, consultoria especializada em mercados emergentes.
Esse compasso de espera deve se manter em novembro e dezembro, quando é esperado que o futuro presidente delineie a composição de seus ministérios.
Os investidores querem conferir, sobretudo, qual a capacidade do governo de atrair nomes respeitados e alinhados com as propostas reformistas delineadas no programa do candidato do PSL.
James Roberts, especialista em América Latina da Fundação Heritage, um centro de estudos considerado conservador, acredita que o grupo de Bolsonaro será bem-sucedido nessa empreitada inicial.
“Ele não terá esse problema, pode atrair pessoas de qualidade para seu governo. Não vejo fuga de investidores por isso, e acredito que o Brasil terá mais estabilidade política”, diz. “Estou otimista. Ele vai colocar especialistas, e não políticos, nos ministérios.”
Na área econômica, a expectativa de Roberts é que o guru Paulo Guedes ajude a apontar nomes que implementarão medidas que “soam como música para os ouvidos do mercado”, como privatizações e reformas para melhorar as contas públicas do país.
Ainda assim, os investidores não estão 100% seguros sobre o que Bolsonaro priorizaria, caso eleito, e se as medidas anunciadas na campanha efetivamente sairiam do papel.
“O sentimento é positivo, mas, pela natureza contraditória da equipe, muitos defendem que é preciso aguardar para ver se algumas das promessas de campanha não serão desfeitas”, diz Lee.
Declarações do presidenciável lançando dúvidas sobre a reforma da Previdência tocada pelo presidente Michel Temer provocaram apreensão entre os investidores, assim como a resistência demonstrada em relação à venda das distribuidoras da Eletrobras.
“Há dúvidas sobre quais seriam as prioridades dele ao assumir. Há uma linha entre o que você diz que vai fazer e o que efetivamente vai fazer. Há uma incerteza, por isso acho que terá problemas para implementar as medidas que anuncia”, afirma Rachel Ziemba, presidente da Ziemba Insights e especialista em mercados emergentes.
“Também existem divergências de objetivos entre ele e seus assessores econômicos. Eu ouviria mais Bolsonaro do que os assessores. Há algumas dúvidas sobre seus reais objetivos e o que ele conseguiria no Congresso”, avalia.
É o mesmo risco identificado por William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes da casa de análise Capital Economics. “A retórica até agora foi positiva para os investidores. Agora, se ele vai conseguir implementar, é outra questão”, diz Jackson.
“Temos que saber se ele é comprometido com as temáticas. Nas últimas semanas, ele ficou mais despreocupado com algumas questões fiscais, sugerindo um 13º salário para quem recebe Bolsa Família, o que indica que colocou preocupações eleitorais à frente do problema fiscal”, diz o economista.
Ele estabeleceu um horizonte informal de três meses após a posse para que o mercado comece a cobrar a implementação de algumas das medidas anunciadas na campanha do candidato do PSL.
Mesmo com as incertezas, não há dúvidas de que Bolsonaro tem a preferência do mercado e das empresas, mesmo que de uma forma pouco ortodoxa, afirma Ziemba.
“Acho que há gradações de ruim e pior do lado fiscal. Não há um resultado positivo da política fiscal brasileira, só ruim e pior”, afirma. “O mercado tende a gostar de candidatos com propostas que eles consigam medir, focadas na consolidação fiscal no Brasil.”
O Bank of America tentou mensurar os ânimos. Entrevista realizada entre 5 e 10 de outubro com 43 investidores institucionais e clientes com US$ 113 bilhões de ativos sob gestão ao redor do mundo identificou um pouco da visão em relação aos dois presidenciáveis no segundo turno.
Para 58%, há sete chances em dez de um candidato de centro-direita vencer as eleições. Bolsonaro foi identificado nesse espectro, pelo que se depreende do resultado da pesquisa. Em setembro, nenhum deles apostava numa probabilidade tão elevada.
Os participantes também estão mais positivos em relação à reforma da Previdência -77% têm a avaliação de que será aprovada até o fim de 2019, ante 60% no mês passado.
O relatório indica que, mesmo num eventual cenário de vitória de Fernando Haddad (PT), a maioria espera sinais de bom senso no caminho.
Para um terço, um governo Haddad seria uma mistura de iniciativas reformistas e outras não agradáveis ao mercado. Além disso, 26% esperam que o pragmatismo do petista desapareça com o tempo.
“O resultado de um governo Haddad ou Bolsonaro pode ser mais parecido do que as pessoas têm consciência”, afirma Jackson, da Capital Economics.
“Bolsonaro tem reformas, mas pode não implementá-las. Haddad poderia adotar linha mais moderada, mesmo sem fazer grandes reformas. Poderia não ser tão diferente.” Com informações da Folhapress.