sexta, 15 de novembro de 2024
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Especialista alerta sobre acidentes com cobras nesta época do ano

O número de acidentes com serpentes venenosas aumenta nesta época do ano, segundo especialistas e, por isso, o alerta é importante sobre quais ações devem ser tomadas ao ser atacado…

O número de acidentes com serpentes venenosas aumenta nesta época do ano, segundo especialistas e, por isso, o alerta é importante sobre quais ações devem ser tomadas ao ser atacado ou se deparar com um destes animais. No último dia 06 de fevereiro, um idoso de 66 anos morreu depois de ser picado por uma jararaca, em uma propriedade rural de Potirendaba, enquanto trabalhava.

De acordo com familiares, Sebastião Eleoterio Alves estava internado no Hospital de Base de São José do Rio Preto desde o dia 05/01. Neste período ele precisou passar por uma cirurgia no cérebro, onde sofreu complicações e infelizmente acabou não resistindo.

O corpo do idoso foi velado na Capela Prever de Potirendaba e enterrado no cemitério da cidade. Ele deixou a esposa, quatro filhos e netas.

Potirendaba é uma das cidades da região com um alto índice de ataques de serpentes. Em fevereiro de 2020, o idoso, Ademir Pereira, de 61 anos, também morreu depois de ser atacado por uma jararaca, no bairro rural Guajuvira. Ele teria ido pegar milho no paiol para tratar das galinhas, quando foi mordido em uma das mãos pela serpente.

“Ele levantou cedo, foi até o paiol para pegar milho para tratar das galinhas e quando pegou o balaio sentiu como se tivesse furado a mão no balaio, mas não deu importância. Algumas horas depois a mão dele começou a inchar muito e só então que ele contou que poderia ter sido uma cobra”, disse o filho dele, Carlos Henrique Pereira, na época.

Ademir procurou o Hospital de Potirendaba mais de quatro horas depois, onde foi transferido para o Hospital de Base em Rio Preto e ficou internado por dois dias. Ele sofreu alteração na pressão arterial, paralisia nos rins e infelizmente acabou morrendo.

No fim de janeiro, uma jararaca também assustou moradores depois de aparecer dentro de uma casa no bairro Amadeu Malvezzi, em Potirendaba. Os próprios moradores se depararam com a serpente nos fundos do imóvel e acionaram a Guarda Municipal. Com equipamentos apropriados, ela foi retirada em segurança do imóvel e solta em uma área rural do município.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registra uma média de 30 mil acidentes ofídicos por ano e a jararaca é a maior causadora de ataques com cobras no país, o que representa 69,3% dos casos. Ela é a quarta serpente mais venenosa do Brasil e é responsável por mais de 90% dos ataques no estado de São Paulo, de acordo com informações do Hospital Vital Brazil, que atende vítimas de acidentes ofídicos no Butantan.

Segundo especialistas, a aparição de serpentes aqui na nossa região é bastante comum e nesta época do ano aumenta ainda mais em áreas urbanas e rurais, devido à maior incidência de seu principal alimento, o rato.

O médico coordenador do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox), Carlos Caldeira, do Hospital de Base de Rio Preto fala que aqui na nossa região os acidentes são mais comuns com as espécies jararaca, cascavel e coral-verdadeira.

“A jararaca é a responsável por 95% dos ataques, enquanto a cascavel e a coral-verdadeira o restante. Aqui no Hospital de Base a gente registra uma média de 40 a 50 acidentes por ano e nesta época aumenta ainda mais”, diz o especialista.

O número de ataques é considerado alto para a nossa região, segundo o médico, isso porque pacientes da região de Catanduva, Fernandópolis e Jales recebem o soro antiofídico nestes municípios. Em todo o Brasil, são 250 postos que possuem o tratamento imediato para ataques de serpentes e é justamente isso que faz com que o número de mortes seja baixo.

“Em 20 anos que estou aqui no HB, tivemos uma média de 5 ou 6 mortes provocadas por ataques de serpentes. O soro antiofídico é gratuito em todo o nosso país e ele é completamente eficaz contra o veneno, o que faz com que a taxa de mortalidade no Brasil seja menor que 1%”, explica.

O médico fala ainda que os ataques são registrados, em sua maioria, na área rural da cidade e as picadas ocorrem na região das mãos ou abaixo dos joelhos. Por isso é muito importante estar sempre usando roupas adequadas, como calças, botas e perneiras.

“Em caso de acidente com um destes animais, em hipótese alguma a vítima deve fazer torniquete ou colocar qualquer substância na área da picada, principalmente se for jararaca. Isso pode causar necrose ou piorar ainda mais o quadro clínico do paciente”, esclarece.

O especialista fala ainda que, caso a pessoa consiga levar o animal ou uma foto dele, o atendimento e aplicação do soro se tornam ainda mais rápidos. A recomendação é de que a vítima lave a área da picada somente com água e sabão.

“As complicações do veneno destas serpentes são bastante graves e por isso que é importante buscar socorro médico imediatamente. Elas podem provocar hemorragia cerebral, insuficiência renal, lesão ou amputação, inchaço e necrose”, finaliza o médico.

Serpentes mais comuns na região

Jararaca: Ela possui cores que variam entre marrom, esverdeado, amarelado e cinza, com manchas em forma de ferradura na lateral do corpo. Os principais sintomas da picada de uma jararaca adulta em humanos são dor e inchaço local, às vezes com manchas arroxeadas e sangramento no ferimento. Também podem ocorrer sangramentos em mucosas como nas gengivas. As complicações podem provocar infecção e necrose na região da picada e insuficiência renal.

Cascavel: Ela pode chegar a mais de 1,50 m, possui chocalho no final da cauda, coloração castanha ou acinzentada ornamentada com linhas formando desenhos dorsais e manchas laterais. Ela possui um veneno bastante tóxico, atacando os músculos e o sistema nervoso. A picada pode causar a sensação de formigamento ou dor no local, geralmente sem lesão ou inchaço muito evidente.

Coral-verdadeira: Ela possui corpo longo e fino, coberto de listras coloridas que intercalam preto, vermelho e branco ou amarelo. Seu veneno de alta toxicidade afeta diretamente o sistema nervoso. Se uma pessoa é picada, os primeiros sintomas são dormência no local, visão turva e dificuldade na fala. Porém, aos poucos, a peçonha começa a afetar o restante do sistema nervoso, provocando paralisia de músculos importantes, como coração e diafragma.

Soro antiofídico

O Instituto Butantan produz diversos tipos de soros para combater o veneno de animais peçonhentos, dentre eles o antídoto indicado no tratamento do envenenamento por serpentes. O soro antiofídico faz parte do tratamento contra acidentes por serpente e é realizado em hospitais de todo o Brasil, salvando milhares de pessoas todos os anos.

Dependendo do tipo de cobra que causou o acidente, existe um tipo de soro – afinal, são muitas espécies de cobras. Porém, o processo de produção de cada soro é o mesmo, e a efetividade do produto também.

O soro antiofídico é utilizado como antídoto quando uma pessoa é picada por uma serpente. Esse produto é formado por anticorpos e o seu principal objetivo é neutralizar o veneno que se encontra no sangue e nos tecidos da pessoa que sofreu a picada.

Os soros são produzidos a partir do veneno retirado da própria serpente e da hiperimunização de animais. Primeiramente, obtém-se o veneno da serpente da qual se deseja produzir o soro. Posteriormente, esse veneno é inoculado em um animal, normalmente o cavalo, que produz anticorpos contra esse antígeno. Após a produção dos anticorpos, é realizada uma sangria, em que se retira cerca de 3% do peso total do animal em sangue. Após a retirada do sangue, este é enviado para laboratórios, que separam a parte ativa e verificam a qualidade do produto produzido.

Existem diferentes tipos de soro antiofídico, que são fabricados a partir do veneno de diferentes serpentes. Sendo assim, é importante capturar a serpente ou descrevê-la ao médico no momento da aplicação do soro para que o profissional consiga escolher o produto adequado para aquela determinada espécie.

Entre os principais tipos de soro antiofídico produzidos no Brasil, podemos citar:

→ Anticrotálico: Soro utilizado para o tratamento de acidentes com cobras cascavéis (gênero Crotalus).
→ Antibotrópico: Soro utilizado para o tratamento de acidentes com jararacas (gênero Bothrops).
→ Antielapídico: Soro utilizado para o tratamento de acidentes com serpentes da família das corais (gênero Micrurus).
→ Polivalente: Soro utilizado quando não se sabe a serpente que picou o paciente. Esse produto é feito com venenos de jararaca e cascavel.

Assim como qualquer medicamento, o soro antiofídico pode desencadear reações adversas após a aplicação. É comum o relato de coceira e vermelhidão na pele, vômitos, tosse e crise de asma. Apesar de pouco frequente, pode ocorrer choque anafilático, a forma mais grave de reação de hipersensibilidade. Pode ocorrer também uma reação tardia conhecida como Doença do Soro, que surge de 5 a 24 dias após a administração do soro e desencadeia coceira, febre, aumento de gânglios, dores articulares e até mesmo comprometimento neurológico e renal.

O uso dos soros antiofídicos é a principal forma de evitar consequências graves em decorrência de picadas de serpentes. Sendo assim, procure seu médico caso sofra esse tipo de acidente. É importante também que nenhuma substância seja aplicada no local da picada, não sejam realizados torniquetes e cortes no local e o paciente mantenha-se calmo, hidratado e em repouso enquanto procura um hospital.

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