Se Juno tem duas faces, a educação tem múltiplas fisionomias. É direito de todos, é dever do Estado, da família e da sociedade. É a mais relevante dentre as políticas públicas a clamar por maior atenção e é o mais desafiador dentre os embates postos à consideração da parcela pensante desta Pátria que urge reinventar. Mas não deixa de ser a cereja rubra e brilhante do apetitoso bolo do mercado. É um nicho promissor, que já rendeu boas colheitas e continuará a produzir excelentes frutos para quem quiser investir com inteligência.
A jornalista Beth Koike, do Valor, mostrou recentemente que “o ensino básico atrai faculdades, fundos e até jogador de futebol”(Caderno Empresas, 9,10 e 11.9.17). O setor movimenta 67 bilhões de reais, mais do que a receita do ensino superior, de R$ 55 bilhões.
É o que leva investidores a apostar em escolas de excelência. Elas já existem no Brasil, mas a proposta agora é outra. As crianças estão imersas na era digital, compatível com sua circuitaria neuronal. Não aguentam mais as aulas prelecionais, o regime disciplinar, a reclusão em salas de aula arcaicas, a transmissão obsoleta de conhecimento, quando ele está ao alcance de um toque em qualquer “mobile” que hoje todos possuem.
Daí a promessa de um ensino com vestimenta nova, que foque empreendedorismo, sustentabilidade, fluência digital como pilares de metodologias contemporâneas.
O convite é convincente. Em lugar de estudar a lei da gravidade a partir do círculo feito a giz na lousa, a ideia é explorar a paixão da criança pelo futebol. Matemática, a raiz e matriz de todas as profissões do futuro, não será ensinada com o número de patinhos na lagoa, mas com o desafio do cálculo da dimensão da capa do super-herói. Acena-se com o aprendizado novo, como atividade criativa, divertida e empolgante. O convite é para que o aluno seja protagonista, regente de sua trilha formativa, mediante conexão do aprendizado com o significado de aprender.
Leva-se em consideração a urgência de aquisição de novas competências e habilidades, levar a sério o arsenal de dons não cognitivos, calcados na porção socio-emocional do educando.
A esperança é a de que os responsáveis por essa escola tão atrativa não se esqueçam das crianças vulneráveis, aquelas que não podem arcar com os custos dessa formação singular e privilegiada e realizem algo para reduzir o fosso entre os que podem e os hipossuficientes. Estes, infelizmente, ainda constituem a maioria nesta Nação tão desigual.
Outra reflexão se impõe e, talvez, seja até mais oportuna. A tendência docente a enfrentar a 4ª Revolução Industrial com ousadia, audácia e criatividade já é detectada na Rede Pública Paulista. Posso testemunhar que o heroísmo do Magistério ousa e investe em fórmulas pioneiras, alcançando êxitos que não seriam imagináveis. São boas práticas disseminadas em inúmeras escolas e ganhariam força não fora a opção de certa mídia pela divulgação de anomalias previsíveis numa estrutura com a dimensão e complexidade das escolas de São Paulo.
Aprendizado eficaz, efetivo e eficiente não é privilégio da iniciativa privada. Com os recursos de que dispõe a Rede Pública, há maravilhas que justificam a crença de que ensinar é vocação, é missão e é carisma. Sem deixar de ser profissão.
José Renato Nalini, secretário da Educação do Estado de São Paulo
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
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