De um lado, alunos que recebem acompanhamento individual e contam com aulas de flauta, informática, inglês e capoeira no turno contrário. Do outro, um colégio que sofre com o abandono e já registrou até mesmo uma tentativa de estupro dentro da unidade. Essa é a realidade das duas escolas que registraram a melhor e a pior nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de 2007 (Ideb) para as séries inicias do ensino fundamental: a Escola Elisabeth Maria Cavaretto de Almeida, em Santa Fé do Sul (SP) e o colégio Ruy Paranatinga Barata, de Belém (PA).
A escola de Santa Fé, cidade com 30 mil habitantes, atende alunos da pré-escola à 4ª série do ensino fundamental. No Ideb de 2005 apresentou nota bem abaixo da média das outras unidades da rede municipal: 2,6. Em 2007, a nota foi 8,6, a maior da rede pública de ensino do país nos anos iniciais do ensino fundamental. Para a diretora do colégio, Odete Stefanoni, foi a mobilização de todos que reverteu o quadro.
“A gente não esperava, a ficha ainda não caiu. Foi uma choradeira”, conta. “Não foi um trabalho inovador, mas foi de equipe, de união. Nós tínhamos que melhorar e o diferencial foi o comprometimento”, acredita. Odete acredita que a nota baixa foi algum erro de apuração do ministério. “Mas já que a gente não ia mudar, fomos atrás para melhorar”, justifica.
Um dos princípios da escola é o atendimento individual do aluno. A escola conta com quatro professores de apoio que acompanham os estudantes com mais dificuldade. No turno contrário à aula, os alunos com baixo rendimento fazem reforço duas vezes por semana durante quatro horas. “Essas crianças são acompanhadas de perto para a gente ter esse retorno”, explica. Outro diferencial são as atividades extra-classe oferecidas como informática, dança, capoeira, canto, inglês e futsal.
Já no colégio Ruy Paranatinga Barata, em Belém, a diretora Léa Gomes Miranda, denuncia os problemas estruturais que há mais de uma década são sentidos pela instituição. Ela diz que ficou surpresa com a nota da escola, que foi 0,1. Segundo Léa, em 2006, quando ela assumiu a direção, a escola estava com o fornecimento de água e luz cortados.
“Encontrei a escola com o nome mal visto lá fora”, diz, lembrando que houve até uma tentativa de estupro dentro da unidade. “Tudo isso refletiu no resultado”, afirma. Miranda diz que o quadro já está sendo mudado, com o estímulo à participação da família e atividades extra-classe. “Ficamos muito tristes com o resultado, mas as mudanças já estão acontecendo e na próxima avaliação já teremos outros números”, espera.
Para a secretária de educação básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Silva, as diferenças entre os resultados do Ideb nas escolas é o retrato das desigualdades do Brasil.
“O que o governo federal tem que fazer são políticas que compensem essas desigualdades. Por isso que o Ideb é bom, para conhecermos as escolas e as cidades mais fracas e levar para elas mais políticas, mais recursos e mais projetos. Mas também conhecer os bons projetos e fazer com que eles ganhem visibilidade para que as outras cidades e escolas aprendam com quem tem dado conta do recado”, avalia. (Amanda Cieglinski e Sabrina Craide)