quinta, 21 de novembro de 2024
Pesquisar
Close this search box.

Entenda o impacto dos incêndios no fornecimento de energia elétrica

A onda de incêndios que atinge o interior do estado de São Paulo desde 22 de agosto já causou uma série de prejuízos em mais de 40 cidades paulistas, entre…

A onda de incêndios que atinge o interior do estado de São Paulo desde 22 de agosto já causou uma série de prejuízos em mais de 40 cidades paulistas, entre eles destruição de plantações e vegetações, casas evacuadas, rodovias bloqueadas, impossibilidade de chegar ao destino e aeroporto sem operações.

E além de todo esse cenário caótico, há também a preocupação em como as queimadas podem impactar o fornecimento de energia elétrica nos municípios paulistas, já que os incêndios são a segunda maior causa de desligamentos forçados na rede de transmissão de energia no Brasil, de acordo com o levantamento realizado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).

A Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, a ISA CTEEP, é responsável por cerca de 95% da transmissão de energia no estado de São Paulo. Fabiano Carmago é gerente regional da empresa e informou ao g1 que os incêndios resultaram no desligamento de 18 linhas de transmissão só na última sexta-feira (23).

A situação fez o fornecimento de energia elétrica ficar indisponível por mais de três horas em diferentes regiões do estado.

“O dia 23 foi o pico, o pior cenário para as nossas linhas de transmissão. Tivemos 18 desligamentos forçados, que são os não programados para manutenção, por exemplo, afetando significativamente nosso sistema, principalmente nas regiões de Catanduva, Porto Ferreira, Araras e São José do Rio Preto, onde culminou na falha do fornecimento por mais de três horas por conta do desligamento dessas linhas de transmissão”, afirmou Fabiano Camargo.

O desligamento forçado, no caso, ocorre porque a fumaça e a fuligem diminuem a resistência do ar e causam curto-circuito nas linhas, fazendo com que o sistema de proteção acione o desligamento, explica Fabiano.

“Os sistemas de proteção atuam desligando essas linhas para não termos eventos de maiores proporções. Felizmente, nossas estruturas e os cabos condutores não foram afetados nesse dia 23, mas esse fogo, a alta temperatura e a fuligem levam aos desligamentos pelos nossos sistemas de proteção que são instalados ao longo das linhas de transmissão”, explicou.

“Os incêndios podem causar desligamentos pontuais em algumas cidades ou regiões, ou até mesmo um desligamento de grande vulto porque as linhas da ISA CTEEP fazem parte do sistema interlgiado nacional, onde pode causar, então, até apagões”, ressalta.

Ainda conforme Fabiano, uma das formas de evitar um maior impacto dos incêndios na rede elétrica é o trabalho preventivo de conscientização.

“A ISA CTEEP já tem um trabalho forte de vários anos. Investimos mais de R$ 27 milhões em campanhas, inspeção aérea de última geração através de drones, campanhas de sensibilização para a população, campanhas em rádios. O mais importante de tudo é essa conscientização da população. A população tem que estar muito consciente dos impactos que podem trazer o fogo causado próximo da linha de transmissão e cessar, por exemplo, um serviço importante em hospital e escolas.”

Segundo a companhia Neoenergia Elektro, que atua na distribuição de energia elétrica em 223 cidades paulistas, de quinta (22) até segunda (26), pelo menos 250 estruturas, entre elas postes, foram substituídas devido às queimadas nas regiões do Centro e do Noroeste do estado.

Além disso, durante o mês de agosto, o grupo atendeu 145 ocorrências causadas pelos incêndios, número que é aproximadamente cinco vezes maior em comparação ao mesmo período de 2023.

“Tivemos um acréscimo bem significativo. Atendemos 145 ocorrências provenientes de queimadas que atingiram mais o interior de São Paulo e, se compararmos com o ano passado, equivale a 4,5 vezes a mais. E nesse último final de semana atendemos 250 substituições de estruturas, desde postes e também os cabos que ficam em cima. Por conta do fogo, acabaram derretendo estruturas que ficam em cima do poste, um impacto na rede elétrica”, afirmou Wilhelm Guilherme, superintendente da Neoenergia Elektro.

E complementou: “São bastante significativos [os dados]. Acaba exigindo bastante equipe para conseguirmos restabelecer no menor tempo possível. Teve uma mobilização forte da empresa”.

Ainda conforme Wilhelm, diante da situação, o principal objetivo no momento é trabalhar na prevenção.

“Antes de qualquer evento fazemos nossa manutenção e, embaixo dessas linhas, fazemos as podas necessárias para ter o mínimo impacto, para pegar menos nas nossas redes. Tem também a prevenção nos nossos centros de operação, onde consegue monitorar em tempo real e visualizar focos de queimada. E depois do incêndio, da queimada acontecendo, a gente consegue mobilizar o recurso. O recurso é realmente para restabelecer o sistema de uma forma mais rápida.”

“Precisando fortalecer o local, a gente desloca equipe de uma cidade para outra. Foi o que aconteceu [no fim de semana passado] e, por isso, fizemos atendimento de forma rápida. E preventivamente a gente fala com a população para não causar esses incêndios, da mesma forma como a Defesa Civil e a polícia fazem.”

Wilhelm ressalta que, sempre quando a queimada desliga o equipamento, há alternativas para fazer o suprimento de outra fonte de alternativa. Mas, dependendo da proporção do incêndio, pode haver perda de fornecimento de energia para alguns clientes isolados ou comunidades.

“Não pode ocorrer um apagão no estado de São Paulo, porque há várias fontes, mas acontece de impactar clientes que estão sendo atendidos por essas linhas [específicas].”

O que diz o Ministério de Minas e Energia
O Ministério de Minas e Energia informou ao g1 que, em conjunto com as demais instituições que compõem o sistema elétrico brasileiro, acompanha a situação de queimadas em todo o Brasil e que busca minimizar os possíveis impactos na rede elétrica e no atendimento do consumidor de energia elétrica.

“Há diversos procedimentos para a operação do sistema elétrico em cenários de queimadas. O objetivo é sempre buscar alternativas que impliquem o menor impacto à rede elétrica brasileira”, diz a pasta.
Ainda conforme o ministério, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que regula o setor de energia elétrica no Brasil, também mantém programa regular de fiscalização associado a queimadas e os riscos de desligamentos das redes elétricas, e o Sistema de Gestão Geoespacializada da Transmissão (GGT) é o principal instrumento para prevenção de queimadas da entidade vinculada à pasta.

O que diz a Aneel
Em nota, a Aneel disse que desde o mês junho deste ano está divulgando campanha educativa contra queimadas que orienta empresas e a população a evitarem incêndios próximos a linhas de transmissão.

“Ficar sem luz é fogo. Incêndios apagam sua energia. Esse é o mote da campanha de comunicação composta por vídeos, materiais para redes sociais e spots de rádio que orientam a população a ligar para o número 193, dos Bombeiros, sempre que identificar fogo próximo às torres de transmissão”, diz a agência.

E ressaltou: “A ANEEL conta com o Sistema de Gestão Geoespacializada da Transmissão (GGT) que monitora 102 linhas de transmissão em todas as regiões do Brasil, totalizando 43 mil quilômetros e mais de 86 mil vãos monitorados, compreendendo as grandes interligações que cortam o país e que são sujeitas a queimadas, que ocorrem anualmente durante o período seco”.

A agência também afirma que algumas medidas preventivas são essenciais para evitar as ocorrências, tais como:

Não faça queimadas para limpar pastagem ou plantio agrícola;
Não deixe restos de plantações ou pastagens acumuladas na beira da estrada para que não sejam incendiados;
Faça aceiros ao redor de casas, currais, celeiros e outras construções, e mantenha-os roçados;
Não acenda velas ou fogueiras perto da vegetação;
Não solte balões;
E, se vir algum foco de incêndio perto de linhas de transmissão, avise imediatamente os bombeiros. Ligue 193;
Apague as pontas de cigarro antes de jogá-las fora.

Incêndios no interior de SP
Entre os dias 22 e 24 de agosto, o estado de SP registrou 2,6 mil focos de calor, sendo que 81,29% estavam concentrados em áreas de uso agropecuário, como plantações de cana-de-açúcar e pastagens.

Uma análise do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) apontou que os incêndios começaram em 90 minutos, entre 10h30 e 12h de sexta-feira (23). Nove pessoas foram presas suspeitas de participar dos incêndios.

Notícias relacionadas