O número de candidatos que tiraram nota mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é o mais baixo desde 2013, quando o Ministério da Educação (MEC) fez mudanças no edital para tornar a correção da prova mais rigorosa e fazer com que textos com inserções de conteúdos que não tenham a ver com a proposta da redação, como receita de preparo de miojo e hino do Palmeiras, pudessem ser penalizados, comprometendo a proposta de redação, ao contrário do que vinha acontecendo até então.
De acordo com os dados divulgados pelo MEC, apenas 104 redações obtiveram nota mil na última edição do Enem, o que representa apenas 0,002% do total de participantes do exame. Em 2014, foram 250 candidatos com nota mil, mais que o dobro do registrado em 2015, e o equivalente a 0,004% dos participantes da prova no período. Em 2013, o número é ainda maior: 481 candidatos obtiveram nota mil na redação. O número é relativo a 0,009% dos participantes da prova e quase cinco vezes mais que o registrado no Enem 2015.
Em entrevista coletiva realizada ontem (11), o ministro da Educação, Aloizio Mercadante apontou que o desempenho dos candidatos na redação do Enem “foi bastante razoável”. Segundo ele, nesse ano diminuiu bastante a necessidade do terceiro corretor, o que mostra uma melhor capacitação dos profissionais que atuam na correção.
O ministro ainda disse que a divulgação das notas de redação este ano incluiu apenas os estudantes que fizeram a prova. No ano passado, os que deixaram a redação em branco foram computados entre os que tiraram zero, inflando o número. Em 2015, 53.032 participantes tiraram a nota zero na redação. Em 2014, esse número foi de 529.373 candidatos.
Tema mais difícil
Para o professor de língua portuguesa Marcelo Freire, do Colégio JK, em Brasília, uma das prováveis causa da diminuição do número de notas mil na redação do Enem foi a dificuldade dos participantes de interpretar a proposta de texto. Ele avalia que o tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” pode ter confundido muitos estudantes. “A violência contra a mulher não é um assunto que as pessoas não tenham um mínimo de conhecimento, não tenham visto nada na mídia. Mas a proposta de redação em si não foi fácil. Ela exigia que o candidato, mais do que conhecer o tema, soubesse interpretar a proposta. Assim, quem escreveu sobre a violência da mulher deve ter perdido pontos, pois a proposta pedia para dissertar sobre a persistência da violência da mulher no país”, explica o professor.
O aluno também não deveria focar no feminismo. Para Freire, o feminismo poderia ser usado como um dos argumentos no desenvolvimento da redação, mas focar nisso configuraria fuga ao tema.
A correção da prova de redação avalia cinco competências: domínio da norma padrão da língua escrita; compreensão da proposta de redação; capacidade de selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista; conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários à construção da argumentação; elaboração de proposta de intervenção para o problema abordado, respeitados os direitos humanos.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) deve divulgar até o final desta semana um balanço dos principais motivos das notas zero na redação do Enem.
Nota mil na redação do Enem
2015: 104 candidatos (0,002% do total de participantes)
2014: 250 candidatos (0,004% do total de participantes)
2013: 481 candidatos (0,009% do total de participantes)
Temas das redações do Enem
2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira
2014: Publicidade infantil em questão no Brasil
2013: Os efeitos de implantação da Lei Seca no Brasil