segunda, 25 de novembro de 2024
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Encostado, lateral reclama: “SP está uma verdadeira bagunça”

O lateral esquerdo Thiago Carleto fez boa Série B e foi campeão do torneio com o Botafogo no ano passado. Ao final de seu empréstimo, voltou ao São Paulo crente…

O lateral esquerdo Thiago Carleto fez boa Série B e foi campeão do torneio com o Botafogo no ano passado. Ao final de seu empréstimo, voltou ao São Paulo crente de que teria uma chance de mostrar seu futebol ao técnico Edgardo Bauza, mas se enganou. Treinando separado no CT de Cotia desde que chegou do Rio de Janeiro, ele diz que nunca nem falou com o “Patón”, como o treinador é conhecido.

Em entrevista ao ESPN.com.br, o atleta, que já foi emprestado a seus clubes diferentes desde que foi contratado pelo time do Morumbi, em 2010, criticou seu programa de treinos em Cotia, o qual descreveu como “uma bagunça”, e reclamou de estar sendo prejudicado por “algumas pessoas” enquanto trabalha afastado do elenco profissional.

“Estou treinando em Cotia e respeito meu contrato. Estou treinando, mas aqui não tem atividades todos os dias. Está uma verdadeira bagunça. Tenho contrato com o clube e quero trabalhar, estou motivado, mas ninguém sabe te informar quando tem treino. Estou por minha conta”, disparou o ala, de 26 anos.

“As pessoas que estão dentro do São Paulo para solucionar isso não estão resolvendo. Tive um ano de afirmação no Botafogo, mas sou um atleta do São Paulo e preciso trabalhar. Não entendo isso que está acontecendo. O São Paulo precisa me colocar na vitrine pra me vender, já teve várias oportunidades e não sei por que não fui liberado. Algumas pessoas no São Paulo estão me prejudicando. Não a entidade, mas algumas pessoas”, completa.

Procurado por meio de sua assessoria, o São Paulo não comentou, até a publicação desta matérias, as críticas de Carleto.

Sem perspectiva de jogar, Carleto diz que vive o pior momento de sua vida.

“Não me deram oportunidade nem de conhecer o Bauza. Queria que ele pudesse me avaliar e ver se tenho condições de defender o clube. Mas o São Paulo preferiu ir ao mercado, e eu respeito, a escolha é deles. Mas nunca dei motivo pra isso. Sempre trabalhei, me cuidei, nunca tive problemas com ninguém. Estou passando por isso e entreguei nas mãos de Deus. Sem dúvida, é o pior momento da minha vida”, lamenta.

Enquanto trabalha ao lado dos garotos da base tricolor em Cotia, o ala esquerdo tenta ver o lado bom das coisas. Otimista em dar a volta por cima, ele assegura que ainda vai “rir de tudo isso” que está passando nos últimos meses.

“Hoje sou um cara experiente, centrado, só quero saber de jogar futebol. Antes, eu chutaria o balde, mas hoje estou consciente e confio nas pessoas que me ajudam. Quero seguir minha vida, não quero perder a esperança. Futebol tem tempo, a nossa carreira é muito curta. Quero dar a volta por cima, isso vai passar”, clama.

“Para as pessoas que estão me impondo dificuldades, não vou responder. Vou dar a resposta dentro de campo, isso sim. Ainda vou dar risada de tudo isso. Sigo trabalhando do meu jeito por conta própria. Enquanto o São Paulo me der a chance de treinar, eu vou. E faço de um limão uma limonada”, filosofa.

Carleto tem contrato até o final de 2016 com o São Paulo. Recentemente, ele teve a chance de ser emprestado por seis meses ao Moreirense, de Portugal, mas a equipe do Morumbi e o time luso não chegaram a um acordo.

“Veio uma proposta excelente de Portugal, até renovei meu passaporte para viajar, mas, na última hora, algumas pessoas dificultaram tudo…”, reclama.

Ele morou em lava rápido

Nascido em Diadema, na grande São Paulo, Thiago Carleto não teve uma infância fácil. Com o sonho de ser jogador de futebol, ele economizava cada centavo que podia para descer a serra e treinar no CT do Santos, clube no qual começou a carreira.

“Minha mãe era gerente e eu morava e trabalhava no láva rápido. Trabalhava também no sacolão do meu bairro para poder ganhar uma caixinha. Essa grana eu guardava para treinar em Santos. Eu ia com meu pai pedir carona na (rodovia dos) Imigrantes para poder descer a serra. A grana que eu guardava usava para comer”, conta.

O sistema de carona funcionava na maioria das vezes, mas o ala entrou em diversas enrascadas enquanto ia para o litoral.

“Uma vez pegamos carona em um ônibus que quebrou no meio da serra e andamos na estrada umas duas horas. Conseguiu pegar outro busão, que nos deixou ao lado do CT, mas cheguei muito atrasado, o treino estava até acabando”, lembra.

O que ficou de bom desse tempo foram as amizades.

“Eu e meu pai ficamos amigos de um motorista que era santista doente. Sabíamos o horário dele, parávamos na Imigrantes e íamos na escada do ônibus quando não tinha lugar pra sentar. Quando fiz meu primeiro jogo pelo Santos, ele foi ver na Vila Belmiro, foi emocionante. Hoje ele é falecido, mas foi um dos caras que me ajudou muito. Sou muito grato até hoje. Foi um amigão que fizemos nessa vida”, emociona-se.

A rotina de viagens malucas durou até Carleto fazer 11 anos, quando foi morar no alojamento do Santos, na Baixada. Promissor, fez sua estreia pelo profissional em 11 de abril de 2007, aos 18 anos, em um triunfo por 2 a 0 sobre o Juventus, pelo Paulistão.

Rapidamente, ganhou destaque na Vila Belmiro e foi negociado com o Valencia, da Espanha, com apenas 19 anos. Não teve muitas oportunidades na terra da paella, mas conseguiu jogar bastante em La Liga durante seu empréstimo ao Elche, em 2009/10.

“Eu fiquei muito jogos no banco no Valencia, mas no Elche joguei bastante. Não tinha paciência para ficar no banco, porque era muito jovem, tinha que ter mais maturidade. Eu me encaixo muito bem no futebol de lá, mas não tinha cabeça para aguentar esse período de experiência. Se fosse hoje teria ficado”, relata.

A cirurgia no joelho

A chegada ao São Paulo aconteceu no início de 2010. No entanto, uma lesão logo em seus primeiros dias no clube tricolor forçou Carleto a passar por uma cirurgia no joelho.

Totalmente recuperado do procedimento, o atleta hoje conta as curiosidades do processo.

“Na mesa de cirurgia, eu fiquei sabendo que o ligamento que iam usar como enxerto no meu joelho era um transplante de um cadáver (risos). A enfermeira era corintiana e ainda me zoou, dizendo que o enxerto era de uma bailarina (risos)”, diverte-se.

Mesmo 100%, o ala nunca se firmou no Morumbi. Foi emprestado para times como Olimpia-PAR (no qual ficou quatro meses sem receber salário), América-MG, Ponte Preta e Avaí. No Fluminense viveu seu melhor momento, sagrando-se campeão do Brasileiro e do Campeonato Carioca em 2012.

Hoje, enquanto tenta retomar sua carreira na equipe do Morumbi, Carleto cuida paralelamente de um time que criou em Diadema, que tem como objetivo ajudar crianças carentes da cidade em que nasceu.

O lateral, contudo, também sonha em transformar a equipe no “novo Água Santa”, em referência ao clube que foi da várzea à Série A do Paulistão em poucos anos.

“Crei o time chamado Amigos do Morro. Arrumei patrocinadores locais e quero fazer no futuro algo igual ao Água Santa, virar profissional e ter escolinhas. Tenho amigos de infância que jogavam comigo que estão ajudando. A gente quer tirar os meninos desse mundo maluco das drogas. Tem dois times, 25 jogadores e estamos disputando o campeonato amador de Diadema. Vários meninos foram jogar pra time profissional, dois pro Água Santa e um pro Bahia de Feira de Santana”, afirma.

“Eu uso meu conhecimento e ajudo a indicar os garotos. Estamos sempre juntos, é um projeto de longo prazo, Meu irmão é o treinador e presidente, e outro irmão joga. Meu pai acompanha direto, sempre que está em Diadema vai assistir. Temos até torcida organizada com faixa, é bem bacana”, finaliza.

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