Um empresário, de 33 anos, perdeu R$ 1,5 milhão ao aplicar o dinheiro em um esquema financeiro fraudulento em Santos, no litoral de São Paulo. Ao g1, nesta segunda-feira (18), o homem que preferiu não se identificar disse que o prejuízo chega a R$ 2 milhões com os juros.
Jorge Calazans, advogado especialista em atender investidores que sofreram com fraudes, contou que representa aproximadamente 300 vítimas de golpes de pirâmides financeiras na região, o esquema Ponzi.
“A pirâmide financeira é mais ligada ao comissionamento. Uma pessoa vai indicando a outra, então não tem produto [o dinheiro movimentado é dos aportes de quem chega], aquilo não se sustenta a longo prazo até porque não tem tanta gente para ficar nesse esquema”, disse Calazans.
Os golpistas, segundo o advogado, apresentam-se como empresa de investimentos em várias modalidades. “As pessoas entram. Só que, enquanto estão entrando, o sistema se sustenta. Quando deixam de entrar, não tem como pagar mais e param de distribuir esse falso rendimento”.
Esse é o caso do empresário santista que entrou na modalidade por indicação de um amigo. Inicialmente, ele ficou com receio e só acompanhou os investimentos dos sócios que passaram a realizar aportes a partir de 2019.
“Ele dava 5% de rendimento por mês em cima do capital. Esse rapaz é muito amigo nosso, falava que estava indo bem, mas fui esperando. Passou 2020, 2021 e, vendo que o pessoal estava indo bem, acabei entrando como investidor no ano passado”, disse.
As aplicações estavam rendendo, mas em junho deste ano, o responsável pelas operações parou de cumprir com o rendimento mensal prometido e atrasou os pagamentos de quem retirava esses valores.
“O pessoal que sacava começou a querer receber e ele não pagou, foi enrolando. Ele veio e disse que perdeu tudo. O meu [prejuízo], com os juros, chega a R$ 2 milhões, mas o que coloquei de dinheiro foi R$ 1,5 milhão”, afirmou o empresário.
O grupo, que a vítima participava, contava com 15 pessoas, que perderam algo em torno de R$ 10 milhões. “A ficha não cai muito, né? É uma coisa muito séria. Ali estava a vida de mais de 15 famílias”.
Operador sumiu
O operador sumiu e o empresário teve que entrar em contato com Calazans para tentar resolver o prejuízo de forma jurídica. “Foi muita situação que mexeu com muita gente, que prejudicou diversas famílias”. A vítima espera que a Justiça seja feita.
“Meu capital estava todo lá, me prejudicou demais. Foi toda minha carreira de trabalho, negócios, [dinheiro] que juntei a vida toda para perder do dia para a noite”, afirmou a vítima.
Calazans ressaltou que há um grande número de golpes envolvendo pirâmides financeiras, no entanto, as apreensões e prisões por esses crimes ainda são baixas. “A gente tem que ter um avanço em relação a isso, o sentimento de impunidade é muito grande”.
Golpe não atinge só a elite
Segundo o advogado, esses golpes não são aplicados apenas em um público elitizado. “O golpista transita em todas as classes, dependendo do foco dele”. Calazans já atendeu clientes que perderam R$ 35 milhões e outros que investiram R$ 5 mil, que era tudo o que tinham.
O especialista explicou que existe um caminho possível para restituição dos valores perdidos por meio de ações civis públicas, mas são processos longos e que demoram anos.
Após a experiência negativa, o empresário santista afirmou que não pretende mais realizar investimentos. “Se eu pudesse dar uma fica para quem for investir é que não façam essa loucura de acreditar nas pessoas”, disse ele, que agora pretende mais correr riscos e só vai aplicar na poupança.
Proteção das vítimas
O diretor do Instituto de Proteção e Gestão do Empreendedor das Gestões de Consumo (IPGE), Bruno Bom, afirmou que cerca de 10% da população brasileira já foi lesada por uma pirâmide financeira.
“O sistema de pirâmide, como um todo, é ilícito, se não for comprovada a origem daquele valor e daquele investimento. Grande parte do formato é: alguém que investe para buscar 5% ou 10% e outra que investe em seguida paga a operação para quem investiu primeiro, é uma cadeia”, disse.
Bruno explicou que quando há apreensões durante operações da Polícia Federal em empresas fraudulentas de investimentos as vítimas têm direito de ingressar com ação para restituição do valor perdido. Quando não devolvido aos investidores, o valor é direcionado ao governo federal.
“A gente tem uma cultura financeira muito pouco trabalhada em colégios e universidades. […] e grande parte dos esquemas de pirâmide oferecem uma solução, um algoritmo perfeito com alta rentabilidade, ou seja, rentabilidade utópica”, finalizou.