O ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou hoje que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) deu-se por conta do relacionamento rochoso da petista com parlamentares de oposição e defendeu a constitucionalidade do processo, que o levou à Presidência da República em 2016.
“Não houve golpe. Eu quero dizer que a ex-presidente é honesta. Eu sei, e pude acompanhar, que não há nada que possa apodá-la de corrupta. Ela é honestíssima. Mas houve problemas políticos. Ela teve dificuldades no relacionamento com a sociedade e com o Congresso Nacional. Esse conjunto de fatores levou multidões às ruas”, afirmou Temer em entrevista ao UOL.
Na avaliação do emedebista, a queda de um presidente não é iniciativa do Poder Legislativo, mas da população como um todo que, segundo ele, é capaz de influenciar a decisão de deputados federais e senadores. Temer diz que eventual processo de impeachment contra Jair Bolsonaro (PL) só seria viável com pressão popular, e afirma considerar “natural” que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), tente blindar o presidente da República da ofensiva de opositores: “No entanto, [Lira] deveria logo examinar esses pedidos. Processá-los ou indeferi-los”, diz.
Atualmente, há ao menos 145 pedidos de impedimento contra Bolsonaro pendentes de análise na Casa. O último foi protocolado ontem, em reação à transmissão, na última segunda-feira (18), pela TV Brasil de um ato político com a presença de embaixadores internacionais em que o mandatário fez ataques ao sistema eleitoral brasileiro e a ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Facada ajudou Bolsonaro a ser eleito em 2018
Temer disse hoje que a facada sofrida por Jair Bolsonaro (PL) durante a campanha presidencial de 2018 o ajudou a ser eleito. “A apunhalada que recebeu o atual presidente ajudou sua candidatura. Aquilo fez com que ele ocupasse espaço na imprensa que talvez não ocupasse na campanha normal. Ele tinha pouco tempo de televisão e de comunicação, e aquilo fez com que ele não saísse do noticiário durante vários meses”, afirmou em entrevista ao UOL.
O comentário ocorre depois de o cacique do MDB receber, na terça-feira (19), o grupo de 11 senadores do partido que defendem que o partido apoie a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno. O objetivo do encontro foi atrair o apoio de Temer para convencer a senadora Simone Tebet (MDB) a desistir da corrida à Presidência da República.
“Eu detectei ao longo do tempo que os candidatos abandonaram a ideia da terceira via. Nós temos muito tempo pela frente, são quase 70 dias para as eleições, é dificil saber o que vai acontecer. Há muitos fatores. O mais prudente é aguardar a proximidade dos dias que antecedem a data da eleição”, afirmou Temer hoje.
Temer disse que, por ora, descarta apoiar Lula em eventual segundo turno com Bolsonaro. “Isso, eu vou decidir na hora certa. O ex-presidente Lula fala em todo momento em golpe, que a reforma trabalhista foi coisa de escravocrata, que o teto de gastos prejudicou o país. Então, como eu vou dizer que eu vou apoiar alguém que quer destruir um legado positivo para o nosso país”, disse o emedebista, que chegou à Presidência da República na esteira do impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016.
O ex-presidente emedebista tem defendido a reforma trabalhista aprovada em seu governo, mas admite revisões eventuais. “Como toda matéria legislativa, ela carece de uma revisão, sem dúvida. Mas vir aqui dizer agora nós vamos revogar a reforma trabalhista não é ir para o século 20. É para o século 19”, disse. O PT tem defendido a reversão das mudanças.