Uma adolescente de 16 anos escreveu uma carta relatando os abusos que teria sofrido do padrasto, um policial militar reformado de 51 anos. O caso é investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Praia Grande, no litoral de São Paulo.
Uma carta escrita pela vítima relata uma rotina de abusos sexuais, que teriam começado em 2021, quando tinha 13 anos. A adolescente também acusou o homem de ter injetado testosterona nela para que ficasse com um “corpo mais bonito” em meio aos abusos.
A mãe da vítima, que também é policial militar, disse que o relacionamento com o homem durou 12 anos e que ele se considerava “pai” da menina.
“Meu mundo desabou. Não só o meu, mas de toda a família”, desabafou a mãe da adolescente. “Fiquei sem chão, pois não esperava isso dele, que conhecia a minha filha desde bebê”.
Ao g1, o advogado Cristiano Marcos dos Santos, que representa o padrasto da adolescente, afirmou que as “acusações propostas pela suposta vítima e sua genitora são inverídicas, pois não passam de uma armação”. Ele alegou também que o cliente é inocente e provará isso no decorrer da instrução criminal.
A carta
A carta de seis páginas foi escrita pela adolescente como uma forma de relatar os abusos sofridos para os advogados Octavio Rolim e Patrícia Britto, que a representam no caso.
Segundo o depoimento por escrito da menina, tudo começou entre junho e julho de 2021. A suposta vítima, que na época morava na casa da avó, afirmou que foi até o apartamento onde a mãe vivia com o homem. No local, ele teria mostrado vídeos pornográficos para ela.
“Eu nunca tinha visto e fiquei assustada com aquilo. Ele me disse que, por estar crescendo e me tornando mulher, [além] da minha mãe trabalhar o dia todo e não ter tempo de me explicar essas coisas, eu já estava na idade de saber”, escreveu a menina.
A adolescente relatou também que o homem apresentava contos eróticos para ela, “principalmente entre enteada e padrasto”. O acusado, de acordo com a menina, dizia que isso era “mais comum” do que ela imaginava.
A adolescente escreveu que, em agosto de 2021, o homem a apresentou a um sobrinho dele. “Disse para eu apresentar o prédio para ele”, escreveu a jovem. Em determinado momento desse contato, o parente do acusado teria beijado a vítima. O PM reformado, então, fez na sequência uma série de perguntas para ela sobre o beijo.
Naquele mesmo dia, conforme registrado na carta, houve o primeiro abuso físico por parte do acusado. Ambos voltavam de um passeio em Peruíbe, também no litoral de São Paulo, quando o homem parou o carro para urinar na rua. Segundo o relato da adolescente, ele a puxou pelo braço e colocou a mão dela na genitália dele enquanto tentava beijá-la.
“Fiquei com muito medo de falar algo na hora, pois ele sempre guardava a arma debaixo do banco do motorista”, alegou a vítima. “Quando cheguei em casa, só sabia chorar escondida no quarto me perguntando o porquê daquilo estar acontecendo”.
A menina escreveu também que, já em 2022, os abusos se tornaram mais frequentes. “Ele aproveitava que não tinha ninguém em casa e me puxava para o quarto dele. Aconteceu várias vezes, e todas sem o uso de preservativo”.
Os advogados da menina explicaram que os abusos físicos acabaram naquele ano, quando o homem disse que se afastaria dela “para não cometer uma loucura”, como engravidá-la.
A situação foi descoberta pela família em 2023, quando o acusado teria tentado uma “reaproximação” da adolescente, que gravou a conversa com ele e mostrou o áudio para a própria mãe.
Testosterona
A adolescente afirmou que o homem aplicou duas doses de testosterona nela ainda em 2022. De acordo com o relato, o homem a levava para a academia e tinha o costume de elogiar o corpo dela.
“Comentava que eu tinha mais corpo do que muitas mulheres, e por eu menstruar e ter menos testosterona que o homem, não iria conseguir resultado nenhum só treinando”, escreveu a menina. “Dizia que eu ficaria com um corpo mais bonito [com a testosterona]”.
A adolescente acrescentou na carta que o homem ficou bravo quando ela demonstrou que não queria receber a dose do hormônio. “Disse que eu não poderia parar de tomar, senão meu corpo ficaria cheio de estrias, celulites e espinhas, [além da] queda de cabelo”.
Delegada
Segundo a delegada Lyvia Bonella, da DDM de Praia Grande (SP), o homem já prestou depoimento à Polícia Civil. No relato, ele disse à corporação que a própria enteada é quem demonstrava interesse por ele.
“Tentou inverter a situação, como se a adolescente estivesse interessada nele e feito investidas, abraçando e beijando”, explicou a delegada, em entrevista à TV Tribuna, emissora afiliada da Globo.
Lyvya acrescentou que, apesar do depoimento do homem, o fato dele ter admitido que “retribuiu” o beijo da adolescente já configura um crime.