Sessenta horas ou exatos dois dias e meio. Foi esse o tempo que a Polícia Militar levou para prender o suposto atirador que implantou clima de terror entre os homossexuais de Rio Preto ao matar dois travestis e ferir outros dois por volta da meia-noite da última quinta-feira.
O ex-policial militar Benedito de Jesus Carvalho, 50 anos, foi preso acusado de ter cometido o duplo homicídio por encomenda do travesti Fabrício Domingues da Silva, 31 anos, a Tayla. De acordo com a polícia, Carlos Eduardo Vasconcelos, a Eduarda, e Abelardo dos Santos Freier, a Izabeli, teriam sido mortas porque não admitiam ser extorquidas por Tayla.
Testemunhas informaram à polícia que o suposto mandante cobrava R$ 10 por noite de cada um dos travestis que fazem ponto na avenida Cenobelino de Barros Serra e no Centro da cidade. A prisão dos dois acusados pôs fim à suspeita de que o crime tivesse sido cometido por intolerância sexual (homofobia), como teria sido afirmado pelo ex-PM em depoimento informal à polícia.
O ex-policial militar Benedito de Jesus Carvalho, 50 anos e Fabrício Domingues Silva, 31 anos, a Tayla, presos na tarde de ontem acusados da morte de dois travestis na madrugada de quarta-feira, são apontados pela polícia como contratado e contratante. Tayla é acusado de ter encomendado o assassinato de Carlos Eduardo Vasconcelos, a Eduarda, 30 anos, e Aberlardo dos Santos Freires, 24 anos, a Isabeli, porque eles se recusavam a pagar uma taxa de R$ 10 por noite para fazer ponto na avenida Cenobelino de Barros Serra e Centro da cidade.
O delegado Fernando Augusto Nunes Tedde, titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), não soube dizer quando ou o que o ex-policial teria recebido para praticar o crime. Benedito foi PM entre os anos de 82 e 85, quando foi expulso do 14º Batalahão da PM de Osasco, acusado de homicídio. O ex policial estava foragido da penitenciária de Iaras, desde agosto de 2011, onde cumpria pena por dois homicídio e dois roubos.
Tedde afirma apenas as duas travestis mortas eram o alvo do atirador, já que não se submetiam à extorsão. “Apesar de os dois acusados negarem que agiram em conjunto, o depoimento da testemunha é bastante conciso”, afirma Tedde.Segundo o delegado, Carvalho é um homem muito perigoso. “Ele age friamente”, diz.
Carvalho foi o primeiro a ser preso por volta das 13h, na avenida Clóvis Ogger, próximo ao aeroporto de Rio Preto. Com características semelhantes às descritas por testemunhas e sobreviventes da tentativa de chacina – olhos verdes, cabelos grisalhos e com barriga saliente -, Silva foi abordado quando estava parado na direção de uma motocicleta vermelha conversando com outros dois rapazes. No momento da abordagem, por apresentarem sinais de nervosismo, os policiais decidiram investigá-los. Os policiais foram então à pensão do acusado, no bairro Vila Maceno, onde encontraram um revólver 38 e roupas parecidas com a que usava no dia do crime.
Diante das evidências, os policiais chamaram umas das sobreviventes do crime que o reconheceu sem qualquer sombra de dúvida como o atirador. “Ele confessou o crime e disse que fez isso porque tinha bebido e ‘não gostava da raça’.”, afirmou o major Luiz Roberto Vicente da Silva.
No quarto do acusado, os policiais também apreenderam um capuz preto, remédios para impotência sexual e documentos falsos, com o nome “Paulo Roberto de Castro Silva”. Levado à DIG, o ex-PM foi reconhecido por mais duas testemunhas, apesar de depoimento formal, negar o crime. “Sou inocente. Não matei ninguém. Estão me confundindo”, disse o acusado aos jornalistas. Tayla foi presa logo em seguida por policiais do 4º DP acusada de receptação de uma motocicleta roubada.
Tayla e Carvalho responderão a processo pelos crimes de duplo homicídio e duas tentativas de homicídios. O travesti já tem passagens na polícia por tráfico e furto. O delegado pediu a prisão preventiva dos dois na tarde de ontem.
Testemunhas ouvidas pelo Diário informaram que Fabrício Domingues da Silva, a Tayla, é uma pessoa extremamente violenta e viciada em drogas. “Se as meninas não pagavam, ela roubava tudo, até o sapato, para sustentar o vício do crack”, afirma o travesti Roxana, 20 anos.
Roxana diz que não sofria extorsão de Tayla porque se prostitui na zona do meretrício. Segundo ele, Carlos Eduardo Vasconcelpos, a Eduarda, foi obrigado a passar 15 dias em Piracicaba para escapar das ameaças de morte de Tayla.
Dias antes do crime, Tayla também teria agredido o travesti Izabely porque ele era novo na cidade – veio do Piauí – e não pagava as taxas exigidas pelo acusado. “Os travesti têm muito medo de Tayla porque andava sempre acompanhada de vários homens, que agiam agredindo os outros a mando dela.”