Em dois anos acelerados, o empresário João Doria virou prefeito da maior capital do país, tentou ser candidato a presidente e renunciou à prefeitura para disputar a vaga de governador paulista. Ao vencer, se firma como o principal herdeiro do espólio de um PSDB arrasado.
Para chegar onde está, Doria atropelou inimigos e até aliados, o que incluiu seu padrinho político, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Vitorioso, trabalhará para assumir o controle do partido, isolando Alckmin e outros velhos caciques.
Ao longo da campanha para o governo, Doria se descolou de Alckmin e tentou colar sua imagem à de Jair Bolsonaro (PSL). No primeiro turno, veladamente; e depois, no segundo, passou a andar por aí vestido com a camisa Bolsodoria, a junção dos nomes dos dois candidatos.
O contido Alckmin chegou a estourar durante uma reunião do tucanato, em que insinuou que Doria era traidor. O gesto marcou o rompimento que já vinha se anunciando desde que o tucano assumiu a prefeitura. Além de Alckmin, quatro ex-secretários da gestão de Doria hoje são fortes críticos ao estilo dele.
Um dos motivos era a obsessão, enquanto prefeito, em criar vitrines políticas relâmpago. O objetivo era tomar o lugar de Alckmin como candidato à Presidência do partido, que acabou abortado após ele não decolar nas pesquisas.
Pouco tempo antes, o então governador havia bancado a candidatura de Doria a prefeito de São Paulo contra o desejo dos demais caciques do PSDB. Doria venceu, mas o partido saiu rachado -um dos postulantes à vaga, Andrea Matarazzo, deixou a sigla . Outros sairiam depois.
Vestido de gari, Doria transformou a prefeitura num grande reality show, em que obrigava o secretariado a usar uniformes e varrer as ruas.
Apesar disso, a zeladoria piorou na sua gestão. Outras vitrines também se estilhaçariam –literalmente, no caso de um muro de vidro colocado na USP. Doria chegou a declarar o fim da cracolândia durante uma ação, mas pouco avançou em relação ao problema. A principal marca do primeiro ano de Doria foi o programa Corujão da Saúde –que prevê a contratação de exames da iniciativa privada, com objetivo de diminuir a fila de espera.
Após declarar a fila zerada no início do programa, a demanda de exames voltou a crescer. Além disso, de acordo com o TCM (Tribunal de Contas do Município), ele cumpriu promessa realizar exames em no máximo 60 dias.
Posteriormente, Doria passaria a investir todas as fichas –e R$ 550 milhões– em um programa de grande visibilidade de pavimentação de ruas, o Asfalto Novo. Só para propagandear o programa às vésperas da eleição para o governo, ele gastaria mais quase R$ 30 milhões.
A gestão de Doria também foi marcada por escândalo de corrupção em licitação bilionária da iluminação, caso em que Doria se tornou réu.
Recentemente, ele foi condenado em primeira instância à perda dos direitos políticos, em ação civil por improbidade administrativa proposta pelo Ministério Público. Neste caso, a acusação sustenta que o tucano usou o slogan “SP Cidade Linda”, de um programa de zeladoria, para promover a própria imagem.
Ele ainda responde a outras ações na Justiça. Empresário, casado com a artista plástica Bia Doria, com quem tem três filhos, o paulistano declarou ter patrimônio de R$ 189 milhões ao registrar sua candidatura, em agosto.
Doria se ergueu no setor privado e se tornou conhecido pela atuação no Lide (Grupo de Líderes Empresariais), uma organização com mais de 1.700 associados que promove encontros com lideranças empresariais e políticas.
Ele ficou famoso como apresentador de televisão –na Record, comandou reality show O Aprendiz nas temporadas de 2010 e 2011.
Antes disso, nos anos 80, foi presidente da Paulistur, estatal de turismo, na prefeitura de Mario Covas. Ele também foi presidente da Embratur no governo de José Sarney (MDB). Com informações da Folhapress.