quinta-feira, 19 de setembro de 2024
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Eleições religiosas

Toda campanha sempre reserva surpresas esta não poderia ser diferente. As polêmicas e trocas de acusações são tidas como “normal” na disputa que pretende eleger o presidente da república. O…

Toda campanha sempre reserva surpresas esta não poderia ser diferente. As polêmicas e trocas de acusações são tidas como “normal” na disputa que pretende eleger o presidente da república. O que não se esperava é a polarização de assuntos que normalmente não eram explorados em outras campanhas. Temas que pode até parecer distante do cotidiano, e que não aparece em pesquisas, mas foram estes temas que causaram o segundo turno.

A questão religiosa tem sido um dos focos principais no segundo turno das eleições, trazendo ao debate temas como o aborto e a união civil de casais do mesmo sexo, o que com certeza nenhum político de carteirinha tinha previsto que isto poderia acontecer.

O candidato José Serra se posicionou contrário ao aborto, enquanto que Dilma deu um entendimento dúbio dizendo que “pessoalmente” era contra o aborto e que estava retirando o tema de seu programa de governo, parece conveniente depois que percebeu que a vaca estava indo para o brejo. A pressão foi tão grande que a candidata do PT distribui uma carta aberta principalmente direcionada aos religiosos.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também discordou da polarização deste assunto na campanha, dizendo que a confissão religiosa não deve ser tema de debate. O mesmo FHC já amargou uma fragorosa derrota eleitoral para Jânio Quadros para a prefeitura de São Paulo na década de 80, porque fez uma declaração de era ateu.

As manifestações pipocam Brasil afora. Em Rondônia, onde acontece também o segundo turno para governador, o debate tem sido pautado pelo aborto e pela religião. Os dois candidatos fizeram reuniões com líderes e pastores evangélicos para reafirmar valores cristãos. Cerca de 27% da população daquele estado é evangélica.

O arcebispo do Rio de Janeiro, d. Orani Tempesta, divulgou nota afirmando neutralidade, mas a “incentiva” os fieis, “agora mais do nunca”, a votar em quem respeita “o valor da vida desde sua concepção” e “a família com sua própria constituição natural”. Também citando o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos que é parte do plano de governo do PT. “Renovamos nossa crítica ao PNDH-3”, mesmo depois de ter sido retirada a proposta de legalização do aborto, porque foi falaciosamente indicada como ‘questão de saúde pública.

Responder o porquê este assunto tem sido massificado, passa por uma avaliação de como a população tem encarado a participação da religião na sociedade e na política, que apesar de cada dia crescer a degradação moral, as igrejas principalmente as evangélicas, estão se enchendo de pessoas sedentas em algo novo para suas vidas. E isto tem sido comprovado em estatísticas que projetam o país em 2020 com metade da população evangélica. E este segmento, ao contrário de anos atrás, classes mais altas tem aderido a mensagem evangélica, e cada vez mais dando importância a uma participação social e política mais intensa.

O fato é que muitos candidatos que não apareceram em cartazes e campanha de massa, conquistaram muitos votos e foram eleitos para espanto dos analistas de plantão. É o voto ideológico.Este voto não leva em consideração apenas a melhoria do bairro ou sua cidade, mas sim a defesa de valores. Estas campanhas são feitas “silenciosamente” dentro de igrejas.

E isto não pôde ser detectado em pesquisa. A bancada evangélica cresceu 65 % de seus representantes no congresso nacional, saindo de 43 para 71 deputados e todos com discursos de ataque à descriminalização do aborto e ao casamento gay. O pastor Silas Malafaia que não foi candidato, é um dos representantes mais aguerridos dos evangélicos, tem tido um papel preponderante na divulgação e defesa do povo cristão. Sua programação em várias redes de televisão chega sempre com conteúdos fortes sobre o assunto.

Para muitos a mistura de religião e política é heresia, mas é impossível divorciar uma coisa da outra. A religião está intrínseca ao ser humano, que por sua vez não consegue viver sem um contexto social que é controlado pela política. Os dogmas religiosos são imutáveis e a política deve se adequar ao pensamento dinâmico do povo e não o contrário. O que não é possível admitir que as leis interfiram nos princípios religiosos e que venham ferir e institucionalizar valores contrários ao pensamento cristão.

O momento é de avaliar e olhar o povo cristão através de outro prisma, não apenas como uma massa que aceita passivamente todas as idéias. O voto ideológico é real, e é hora dos líderes enxergarem principalmente o evangélico como uma grande massa que pode decidir uma eleição. Oremos pelo nosso país.

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