Uma torradeira que derreteu na primeira vez em que foi usada serviu para o designer inglês Thomas Thwaites concluir que a economia nasce da incapacidade que o homem tem em resolver sozinho as suas próprias necessidades, um aspecto que, apesar da tradicional aridez, entra agora em um museu da Europa.
Com esse banal objeto começa a exposição permanente da Citei de l’Economie (Citéco), o primeiro museu interativo dedicado à economia da Europa, que abriu as suas portas nesta sexta-feira (14) em Paris.
Após dez meses juntando as peças para fazer o próprio aparelho, Thwaites colocou tudo a perder quando botou o primeiro pedaço de pão para assar. Isso fez com que ele refletisse sobre a dificuldade de construir um objeto cotidiano do nada, uma conclusão reveladora para um designer.
“O que fazemos (os seres humanos) é nos especializarmos na produção de um bem ou um serviço, o valorizamos e graças a isto ganhamos dinheiro, compramos outros produtos ou serviços, trocamos”, disse à Philippe Gineste, diretor da instituição.
O museu fica em um antigo edifício no coração do distrito XVII de Paris, na região noroeste da cidade: o palacete Gaillard, monumento histórico considerado uma obra-prima da arquitetura neorenascentista e antiga filial do Banco da França. E a distribuição original dos cômodos do palacete foi mantida.
A exposição permanente é dívida em seis grandes sequências da economia. Em cada uma, jogos visuais e de funções permitem ao visitante se colocar na pele dos principais atores da atividade econômica. A torradeira junto com outros objetos do cotidiano está na antiga sala de jantar, onde começa a primeira sequência da exposição “Échanges”, que descreve as diferentes formas de comercializar, não só com dinheiro, mas também com a troca.
Esse espaço dá as boas-vindas às salas de recepção, pintadas em um intenso vermelho e que recriam o controle de passageiros de um aeroporto: objetos comuns passam por um scanner e revelam a diversidade dos períodos e lugares da sua fabricação.
Um dispositivo permite ao visitante viver um banqueiro que deve responder demandas de empréstimos ou perguntas sobre onde investir as suas economias.
Algumas salas depois, na sequência dedicada à “Regulação”, o público pode brincar de ser representante das principais potências mundiais e negociar um acordo internacional sobre o clima, levando em conta os próprios interesses.
A sala de cofres acolhe uma área emblemática da atividade bancária, onde os visitantes podem tocar em autênticas barras de ouro. “Temos um verdadeiro tesouro na sala dos cofre, apresentamos cerca de 400 objetos: moedas antigas, cédulas, máquinas”, contou Gineste.
Múltiplas experiências sensoriais, como reviver a crise dos anos 30 ou “conversar” com os economistas John Maynard Keynes ou Milton Friedman são apenas algumas das atividades que crianças e adultos podem experimentar no Citéco.
“É um lugar para descobrir a economia de uma maneira lúdica e interativa, da mesma forma que veríamos em um museu de ciências. Desenvolvemos uma exposição na qual é preciso brincar, mexer e estar em interação com um conhecimento, a economia”, descreveu o diretor.
Para tentar responder a questões cruciais sobre a economia, como a criação do dinheiro, o papel do Estado ou as consequências das crises, o Citéco dá protagonismo à interação com o visitante. Segundo ele, é um espaço para todos os públicos.
“Basta saber ler, é muito lúdico. Para as crianças funciona bem, mas para os adolescentes funciona muito bem, já que existem muitas questões que eles pensam nessa idade, e compreender melhor a economia pode ajudar”, afirmou Gineste.