domingo, 17 de novembro de 2024
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Doria volta ao setor privado, mas diz que não desiste do Brasil

O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou nesta semana o retorno ao setor privado depois de seis anos dedicados à política brasileira, mais especificamente a paulista. E a…

O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou nesta semana o retorno ao setor privado depois de seis anos dedicados à política brasileira, mais especificamente a paulista. E a participação de Doria no cenário político balançou as estruturas e os bastidores nos últimos anos.

Em menos de uma década, Doria elegeu-se prefeito de São Paulo, a maior cidade do país, no primeiro turno, foi eleito governador de São Paulo apenas dois anos depois e venceu, de forma inédita, as prévias para ser o candidato do P​​SDB ao Palácio do Planalto em 2022. Daí, esbarrou na cúpula do PSDB, que preferiu pela primeira vez não ter um candidato ao Planalto.

Doria teve trajetória marcante por desburocratizar boa parte dos processos do Estado, enxugar a máquina pública por meio de concessões e parcerias com a iniciativa privada, além de ser o responsável por trazer a primeira vacina contra a covid-19 no Brasil.

Ao fazer um balanço de tudo, durante entrevista para a revista Isto É, Doria afirma que cumpriu sua missão como representante do povo.​ ​“Cumpri a minha missão e aquilo que os eleitores esperavam de mim. Sem populismos, com boas conquistas e transparência.”

Leia os principais trechos da entrevista para a Isto É.

O sr. anunciou a volta à iniciativa privada. Como será sua participação no conselho do Lide?

Neste momento, o único convite que eu aceitei foi do chairman Luiz Furlan, para compor um board especial de conselheiros. O Lide já tem o seu comitê de gestão, e tem comitês específicos. Mas ele teve a iniciativa de criar um board especial com o Henrique Meirelles, o Celso Lafer e eu. Vou viajar duas semanas com a Bia, minha esposa, e em julho tomarei, aí sim, uma decisão final sobre qual caminho seguir. Se é o setor de serviços, de mídia ou industrial. Os conselhos de que eu puder fazer parte, farei. Quero voltar para a atividade plena no setor privado.

Dá para fazer política sendo empresário?

Mais do que possível, é recomendável. Você tem que ter as pessoas com sentimento de cidadania. A sociedade civil como um todo precisa ter um papel mais forte. Não para substituir os políticos, não se faz democracia sem política. Mas é a sociedade civil que expressa isso pelo voto e pela participação. E é isso que pretendo fazer.

O sr. vai permanecer no PSDB?

Não vou sair. Sou filiado desde o ano 2000, são 22 anos de PSDB. Mesmo com as suas idiossincrasias, suas boas características e as não boas, eu prefiro manter minha filiação. É um partido que não tem dono e que, ao longo da história, sempre respeitou a democracia. No dia que romper esse compromisso com a democracia, eu não estarei no PSDB. Mas no momento, permaneço.

Passada a tempestade, qual foi o momento mais delicado nas negociações da sua candidatura?

Todo o processo das prévias foi muito delicado. Não houve respeito à expressão plena das prévias, ou seja, que fossem realizadas, onde cada voto valesse um voto. Foi assim que eu disputei duas prévias em 2016 e 2018. Quem determina peso para voto não respeita plenamente a democracia. Não foi um bom gesto no PSDB. Mesmo assim, disputei e venci. O próprio processo poderia ter sido mais transparente, com a utilização das urnas eletrônicas. Pior seria se as prévias tivessem sido canceladas ou anuladas. Então, entre os males ocorridos, venceu o bem.

O sr. enxerga um futuro na política?

Neste momento, meu foco vai ser a vida privada. Mas não posso deixar de considerar, no futuro, a hipótese de voltar para a vida pública.

Qual foi sua maior marca na administração de São Paulo?

A vacina, o respeito à ciência e à saúde. O crescimento econômico e a geração de empregos. São essas quatro marcas que o governo deixou, até os adversários reconhecem. E, por fim, uma que não deveria ser uma referência, mas é, dadas as circunstâncias do Brasil: foi um governo honesto e transparente. Aqui não se roubou dinheiro do povo.

Esse legado elogiado na gestão pode ser reproduzido por outros políticos?

Pode. Começando pelo Rodrigo Garcia, por quem tenho estima e respeito. Torço e espero que ele seja o próximo governador de São Paulo. Ele tem capacidade, seriedade, hombridade e experiência.

O sr. vai participar da campanha dele?

Naquilo que ele julgar que eu possa ser útil, sim. Mas a campanha é dele. Ele tem que construir seu próprio caminho. Aonde ele sentir que eu possa, pela minha experiência, ajudar, ajudarei.

Bolsonaro e Paulo Guedes falam em volta do congelamento, há um pacote para subsidiar combustíveis e o populismo fiscal ganha força… A economia do País está sob risco?

Está. A economia e a democracia. As eleições serão turbulentas. E antes das eleições, isso tende a aumentar pelo antagonismo das duas únicas candidaturas que se fortaleceram ao longo desse período. Os riscos na economia são representados pelos dois candidatos, tanto o Bolsonaro quanto o Lula. E na democracia, mais da parte de Bolsonaro.

Como é sua visão para o futuro do Brasil?

Sempre sou otimista. Um País que já suportou tantas crises, 20 anos de ditadura militar, sevícias, torturas, mortes e confrontos…. e sobreviveu. Vai sobreviver também essa tormenta. Poderia ser de maneira melhor, mais efetiva. Com mais compaixão, solidariedade, empregos, oportunidades e igualdade. E com menos populismo.

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