Após meses trabalhando contra o que chamava de “vacina chinesa do João Doria”, o presidente Jair Bolsonaro passou a tentar surfar a existência do imunizante Coronavac, para irritação do governador tucano de São Paulo.
“Além de negacionista e terraplanista, [Bolsonaro] agora se tornou também um oportunista”, disse o governador à Folha.
O anúncio de que o envio de 5.400 litros do princípio ativo da Coronavac da China para o Instituto Butantan, feito por Bolsonaro nesta segunda (25), contrariou o governo paulista.
A notícia havia sido dada na quarta passada (20) pelo diretor do Butantan, Dimas Covas. A fala de Bolsonaro foi vista como hipócrita por integrantes da cúpula do governo paulista.
Em nota posterior, Doria afirmou que “não é verdade” a versão federal. “Todo o processo de negociação com o governo chinês foi realizado pelo Butantan e pelo governo de São Paulo, que vem negociando com os chineses a importação de vacinas e insumos desde maio do ano passado.”
O texto lembrou que quatro carregamentos de vacinas e insumos chegaram a São Paulo enquanto Bolsonaro dizia que não iria adquiria a Coronavac, o que acabou fazendo no começo do ano.
“O Instituto Butantan informa que houve autorização do governo chinês para o envio dos insumos. Eles não estão no aeroporto conforme equivocadamente publicado pelo presidente da República, mas sim nas instalações da Sinovac, em Pequim”, disse Doria.
Membros do governo estadual identificaram uma ação de governo coordenada, com o vídeo divulgado pelo ministro Eduardo Pazuello (Saúde) basicamente clamando para o governo federal o mérito da liberação dos insumos.
A ação veio depois que Doria divulgou, em entrevista coletiva, que iria ter notícias sobre o envio da matéria-prima da vacina do Butantan após uma reunião com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, nesta terça (26).
Bolsonaro, derrotado sucessivamente pelo tucano na chamada guerra da vacina, foi mais rápido desta vez e buscou faturar em cima de algo previsível. A China pode ter dificultado as coisas burocraticamente, mas segundo diplomatas não iria impedir o envio dos insumos.
A mudança de orientação de Bolsonaro, depois de meses de negação da gravidade da pandemia, é notada no mundo político como um sinal de desespero.
A popularidade do presidente no momento de agravamento da crise e início da vacinação no país com a patronagem de Doria e sua Coronavac caiu, segundo o Datafolha.
Sua popularidade se inverteu: a aprovação a Bolsonaro caiu de 37% para 31% de dezembro pra cá, enquanto a rejeição subiu de 32% para 40% no período.
Isso ocorre enquanto aumentam as discussões acerca de um eventual impeachment do presidente deivdo à sua incúria na condução da crise sanitária. A falta de oxigênio em Manaus e as trapalhadas em torno da vacinação são os motivos citados por opositores.
Doria, por sua vez, melhorou sua posição por apostar forte na Coronava. Segundo o Datafolha, sua atuação na pandemia é melhor do que a de Bolsonaro par 46% dos brasileiros, enquanto 28% veem o presidente como mais empenhado.
Isso levou ao movimento atual do Planalto de reação a Doria, restando saber se haverá ressonância à versão divulgada.